Nota de Repúdio e Indignação pela violência sofrida por Murilo Juruna

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A rede Slow Food Brasil e a Associação Slow Food do Brasil vem manifestar seu repúdio e indignação ante as agressões morais e o tratamento ofensivo praticados por agentes da imigração do governo mexicano, impostos contra Muri Juruna, que culminou em sua deportação no dia 05 de março, no momento de sua chegada ao México. Muri é um jovem indigena do povo Juruna, estudante e ativista do Slow Food, que sofreu racismo e foi humilhado pelos referidos agentes, em sua tentativa de entrar no país para participar do Terra Madre Indígena 2024 – Povos de Abya Yala, que ocorre na Cidade do México, entre 06 e 10 deste mesmo mês, e reúne cerca de 80 representantes indígenas de México, Bolívia, Chile, Colômbia e Equador. 

Sem Muri, o povo Juruna e o Brasil deixam de ser representados neste evento internacional do movimento Slow Food. Muri cursaria, também, o módulo final da formação Protección y promoción del património alimentário en Abya Yala, para jovens lideranças indígenas, que ocorreu ao longo dos últimos meses em formato digital, afetando diretamente sua formação e integração com outros povos indígenas do continente.

Repudiamos toda e qualquer violação dos direitos humanos que venham causar enormes danos, de difícil reparação, como o dano moral à honra que foi praticado pelas autoridades aeroportuárias do México. É inadmissível que persistam, em qualquer lugar do mundo e ainda mais em um país de população predominantemente indígena, formas de discriminação e criminalização de sujeitos que afirmam e explicitam identidade cultural, como as pinturas corporais que Muri Juruna utilizava. São práticas colonialistas que, no caso, resultaram da subjetividade humana, a partir do olhar preconceituoso particular e, por fim acarretou em sua deportação, ainda que apresentados todos os documentos comprobatórios necessários para sua entrada e permanência no México durante os dias de evento. 

O que seria um grande encontro com povos indígenas de outros territórios latinoamericanos, se tornou uma experiência de forte humilhação, difícil reparação, desgaste físico, financeiro e emocional, criminosa, que tirou uma oportunidade de fortalecimento coletivo, esvaziada pelas barreiras postas por uma política migratória arbitrária, à mercê das vontades e dos critérios dos agentes de imigração. Mobilizamos diferentes caminhos, acionamos a Embaixada Brasileira na Cidade do México; mesmo assim, não foi possível reverter a situação. 

A Associação Food do Brasil,  parte de um movimento internacional que luta pela salvaguarda da cultura e dos modos de vida de povos originários, comunidades tradicionais e agricultores familiares, reitera sua manifestação de repúdio e  indignação. Nenhum desrespeito deveria ser tolerado, especialmente ao lidar com pessoas que partem e chegam em territórios estrangeiros, longe de seus países de origem. Por isso, além de repreender o ato praticado injustamente, que atingiu a esfera moral do povo brasileiro, deixamos nossa solidariedade, especialmente a Muri, seus familiares, povo Juruna e todos os povos originários do Brasil, desejando que tais atitudes não voltem a se repetir por razões de respeito e Justiça. 

Abaixo, palavras do próprio Muri: 
Meu nome é Murilo Juruna (Muri) sou da região norte estado do Pará, durante os meses de dezembro, janeiro participei da formação do Curso Protección y Promoción del Património Alimentário en Abya Yala e em março eu iria participar do evento Terra Madre Indigena que ocorrerá na cidade do México, saí do meu território no dia 3 de março com a segurança de que tudo seria maravilhoso até o evento e ao chegar na cidade do México no dia 5 às 6:30 (horário local) me desloquei para os protocolos de imigração assim que apresentei meu passaporte fui questionado se era realmente eu na foto disse que sim e que estava com o rosto pintado pois era indigena.

Perguntado a quê estava indo à Cidade do México disse que iria participar do evento Terra Madre Indigena e apresentei os documentos solicitados tanto da carta convite quanto da hospedagem que teria garantido pelo evento. Seguinte o atendente pediu para seguir o rapaz até uma sala onde pediram meu passaporte e meu celular, daí assinei uma ficha com nome do vôo e meus dados, e logo após fui pra outra sala com três atendente eles me perguntaram o que iria fazer em cidade do México repetir que estava indo para o evento do Terra Madre Indigena os mesmos me perguntaram quantos pesos mexicanos tinha para passar os dias do evento disse não tinha nenhum pois realmente não tinha a visto que o Slow Food já tinha assegurado tudo durante o evento, então os mesmos me disseram que eu passaria fome e riram da situação em questão.

E por fim disseram que eu não poderia entrar na cidade do México aí segui junto a um policial mexicano pra outra sala onde pediram para tirar os cadarços do tênis e adentrar a sala onde já se encontrava cerca de 30 homens.

Após cerca de 1:30 me cederam uma ligação foi onde disse que queria ligar para Dali Nolasco disse que a mesma era umas das conselheiras do conselho do Slow Food de povos Indígenas da América Latina e caribe e assim que liguei eles disseram que não podiam que eu deveria ligar pra um familiar foi onde voltei pra sala novamente. Cerca de 3:30 pude ligar para Tayane onde pedir para informar ao amigo Jean Marconi para que o mesmo avisasse a todos do Slow Food Internacional. E durante essa espera fiquei imaginando o que realmente me teria acontecido pela negação de entrar ao país será por falar de dinheiro ou simplesmente porque estava com meu rosto pintado. Assim que se passou as horas já estava pensando em dormir pois estava cansado da viagem, foi quando cerca de 5:30 eles informaram que meu vôo de retorno para o Brasil estava ok então segui pelo aeroporto sem acesso a celular assim como meu passaporte e sem os cadarços do tênis.
Altamira, 06 de março de 2024


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Nota de repudio e indignación

La red Slow Food Brasil y la Asociación Slow Food de Brasil desean manifestar su repudio e indignación por la agresión moral y el trato ofensivo dispensados a Muri Juruna por agentes de inmigración del gobierno mexicano, que culminaron con su deportación a Brasil desde México, en el 5 de marzo. Muri es un joven indígena del pueblo Juruna, estudiante y activista de Slow Food, que sufrió racismo y fue humillado por estos agentes en su intento de entrar en el país para participar del evento Terra Madre Indígena 2024 – Povos de Abya Yala, que se celebra en Ciudad de México entre el 6 y el 10 de marzo y reúne a unos 80 representantes indígenas de México, Bolivia, Chile, Colombia y Ecuador. 

Sin Muri, el pueblo Juruna y Brasil ya no estarán representados en este evento internacional de Slow Food. Muri también estaría asistiendo al último módulo del programa de formación Protección y promoción del patrimonio alimentario en Abya Yala, para jóvenes líderes indígenas, que se ha desarrollado en los últimos meses en formato digital, lo que afecta directamente a su formación e integración con otros pueblos indígenas del continente.

Repudiamos las violaciones a los derechos humanos que causan enormes daños difíciles de reparar, como el daño moral perpetrado por las autoridades aeroportuarias mexicanas. Es inaceptable que en cualquier parte del mundo, y más aún en un país con una población predominantemente indígena, persistan formas de discriminación y criminalización contra personas que afirman y explicitan su identidad cultural, como las pinturas corporales que llevaba Muri Juruna. 

Son prácticas colonialistas y prejuiciosas que condujeron a su deportación, a pesar de que se presentaron todos los documentos justificativos necesarios para su entrada y estancia en México durante los días del evento. 

Lo que hubiera sido un gran encuentro con pueblos indígenas de otros territorios latinoamericanos, se convirtió en una experiencia de gran humillación, difícil reparación, agotamiento físico, financiero y emocional, criminal, que nos arrebató una oportunidad de empoderamiento colectivo, vaciada por las barreras puestas por una política migratoria arbitraria, a merced de las voluntades y criterios de los agentes migratorios. 

Movilizamos diferentes vías, llamamos a la Embajada de Brasil en Ciudad de México; aun así, no conseguimos revertir la situación. 

La red Slow Food Brasil y la Asociación Slow Food do Brasil, parte de un movimiento internacional que lucha por salvaguardar la cultura y las formas de vida de los pueblos originarios, las comunidades tradicionales y los agricultores familiares, reitera su expresión de repudio e indignación. Ninguna falta de respeto debe ser tolerada, especialmente cuando se trata de personas que salen y llegan a territorios extranjeros, lejos de su tierra natal.

Mi nombre es Murilo Juruna (Muri) soy de la región norte del estado de Pará, durante los meses de diciembre y enero participé en la formación del Curso Protección y Promoción del Patrimonio Alimentario en Abya Yala y en marzo iba a participar en el evento Terra Madre Indígena que tendrá lugar en Ciudad de México. Salí de mi territorio el día 3 de marzo con la seguridad de que todo iría de maravilla hasta el evento. Cuando llegué a Ciudad de México el día 5 de marzo de 2024 a las 6: 30 (hora local) fui a los protocolos de inmigración en cuanto presenté mi pasaporte me preguntaron si realmente era yo la de la foto dije que sí y que me había pintado la cara porque era indígena.

Al preguntarme por qué iba a Ciudad de México, dije que iba a participar en el evento Terra Madre Indígena y presenté los documentos solicitados, tanto la carta de invitación como el alojamiento que me garantizaría el evento. Entonces el asistente me pidió que le siguiera a una sala donde me pidieron el pasaporte y el teléfono móvil, así que firmé un formulario con el nombre del vuelo y mis datos, y luego pasé a otra sala con tres asistentes. Me preguntaron qué iba a hacer en la Ciudad de México y les dije que iba al evento Terra Madre Indígena. Me preguntaron cuántos pesos mexicanos tenía para gastar los días del evento y les dije que no tenía porque no había visto Slow Food y ya habían asegurado todo para el evento, así que me dijeron que me iría con hambre y se rieron de la situación.

Finalmente me dijeron que no podía entrar en Ciudad de México, así que fui con un policía mexicano a otra sala donde me pidieron que me quitara las zapatillas y entrara en la sala donde ya había unos 30 hombres.

Alrededor de una hora y media después me hicieron una llamada en la que dije que quería llamar a Dali Nolasco, que era uno de los consejeros del Consejo Slow Food de los Pueblos Indígenas de América Latina y el Caribe, y nada más llamar me dijeron que no podían, que llamara a un familiar, y volví a entrar en la habitación. Aproximadamente después de 3 horas y media pude llamar a Tayane para pedirle que informara a su amigo Jean Marconi para que él lo comunicara a todos en Slow Food Internacional. Mientras esperaba, me preguntaba qué me había ocurrido realmente para que me negaran la entrada en el país, si era porque hablaba de dinero o simplemente porque tenía la cara pintada. A medida que pasaban las horas, ya pensaba en irme a dormir porque estaba cansada del viaje. Entonces, 5 horas y media después , me informaron de que mi vuelo de vuelta a Brasil estaba bien, así que seguí por el aeropuerto sin poder acceder a mi teléfono móvil, mi pasaporte o los cordones de mis zapatillas.
Altamira, 06 de marzo de 2024

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