Nos preparativos para o 7º Congresso Internacional Slow Food, realizado em 2017 na cidade de Chengdu, na China, representantes de dez países sul americanos que integram o movimento Slow Food se juntaram: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Até aquele momento ainda não havia nenhuma mobilização espontânea da rede global em nível continental se organizando e manifestando autonomamente perante o restante do movimento.
Foi criado um grupo de trabalho que levantou uma série de fatores que ameaçam nossos países (contaminações por agrotóxicos e mineração; impacto das privatizações, expropriações e multinacionais resultando em grilagem de terras e apropriação das bacias hidrográficas; impacto das grandes represas, dos organismos geneticamente modificados; da perseguição de líderes campesinos, perda de direitos, desmatamento; marginalização das mulheres, violência e discriminação; marginalidade dos povos e comunidades tradicionais, pobreza econômica, falta de acesso a recursos e mercado; da perda de saberes produtos e receitas tradicionais.) e a partir disso se constatou que a realidade que vivemos é muito semelhante por conta de processos ambientais, históricos, geopolíticos, sociais e econômicos comuns, resultando no manifesto Rede América do Sul (leia abaixo). Nele constatamos que para conseguirmos alcançar o acesso democrático ao alimento bom, limpo e justo, precisamos de um passo anterior que é a manutenção de terra, água, sementes e culturas livres e vivas e que ‘para a América do Sul é imperativo pensar no comum porque nos faz mais fortes e sólidos’
Atualmente a articulação é latinoamericana, incluindo integrantes de Cuba e México que se somaram ao coletivo por também apresentarem cenários semelhantes e convergências com os países sulamericanos.
O manifesto Rede América do Sul pode ser lido na íntegra abaixo:
Manifesto Rede Latinoamericana
Dez países de nosso amplo e biodiverso território sul americano, em um esforço para nos constituir como uma potente rede sul americana Slow Food viemos trabalhando na identificação de problemáticas comuns em nossos territórios, colhendo experiências em cada um de nossos países, buscando ações conjuntas que nos levem a nos fortalecer como rede e somar esforços com organizações campesinas, de povos originários, coletivos de produtores, cozinheir@s, mas para sobretudo visibilizar nossos princípios e filosofia nos centrando na busca de um bem viver e melhores opções em nosso continente.
Os eixos nos quais trabalhamos são: Terra, Água, Sementes e Cultura, porque eles são a base de alimentos bons, limpos e justos, os temos revisado e analisado desde a diversidade de ameaças que os afetam, como a contaminação por agrotóxicos, mineração ou OGM; assim como grilagem de terras e água, seus efeitos sobre nosso meio ambiente; nossos povos originários, nossa culinária e gastronomia, os direitos humanos; e sobretudo, a exclusão e marginalidade das mulheres campesinas e indígenas guardiãs de nossa biodiversidade e soberania alimentar.
Temos encontrado uma grande quantidade de caminhos a percorrer através destes eixos, mas também colhendo grandes experiências e esperanças em cada um de nossos países.
No VII Congresso Internacional de Slow Food, reunido aqui em Chengdu, China, declaramos como território sulamericano nosso compromisso em impulsionar ações coletivas pela defesa da biodiversidade, a salvaguarda de nossos patrimônios culturais alimentares, a defesa pelo direito ao prazer por meio de alimentos locais.
Em particular, nos comprometemos a iniciar ações educativas, de comunicação e políticas em todos os níveis possíveis, nos centrando nos quatro eixos que temos desenvolvido:
- Terra livre e viva nas mãos de campesinos, mulheres e povos originários.
- A água é UNA, fonte de vida e para o benefício coletivo.
- Sementes livres e América do Sul sem cultivos transgênicos.
- A cultura como eixo central, tanto como fonte de fortalecimento da identidade assim como elemento fundamental para o desenvolvimento.
Propiciaremos nossa integração regional, como povos da América do Sul buscando laços comuns que nos permitam, por um lado enfrentar as dificuldades similares que temos em cada território, compartilhar as experiências de cada rede em nosso continente e também desfrutar da alegria com a que convivemos nosso dia a dia.
Esta integração compartilhamos com a rede Slow Food em todo o mundo.