Waraná nativo Saterè-Mawé

Baru Fortaleza Slow Food – COPABASE

Mandioca

Quiabo. Foto: Neha deshmukh

Dendê no pilão

Sociobiodiversdade na Amazônia. Foto: Bruno Franques

.

Waraná nativo Saterè-Mawé

Baru Fortaleza Slow Food – COPABASE

Mandioca

Quiabo. Foto: Neha deshmukh

Dendê no pilão

Sociobiodiversdade na Amazônia. Foto: Bruno Franques

.

Bem vind@ ao nosso site!

Novidades e destaques

+ BIBLIOTECA

Visual Portfolio, Posts & Image Gallery for WordPress

Cuscuz paulista com ervilha fresca, palmito e ora-pro-nóbis

Foto: Cuscuz paulista, por Camila Fontenele

Rendimento: 12 porções
Tempo de preparo: 40 minutos + 3 horas de geladeira

Ingredientes:

400 g de ervilha fresca
3 xícaras de farinha de milho flocada (biju)
½ xícara de farinha de mandioca grossa
6 dentes de alho fatiados
½ xícara de azeite de oliva
1 alho-poró fatiado fininho
500 g de tomate maduro em cubos
2 colheres de sopa de pimentão amarelo em cubinhos 
2 colheres de sopa de pimentão vermelho em cubinhos
2 colheres de chá de colorau
300 g de palmito picado em cubos
3 xícaras de água ou caldo de vegetais quente
1 xícara de azeitona preta fatiada
40 folhas de ora-pro-nóbis picadas
Cheiro-verde picado a gosto
Coentro picado a gosto (opcional)
Sal a gosto
Pimenta-do-reino a gosto
Tiras de pimentão, folhas de salsinha e azeitonas para decorar

Modo de preparo:

  1. Em uma frigideira, coloque 4 colheres de azeite e a ervilha, salteie até ficar macia, adicione sal e reserve.
  2. Misture as farinhas em uma tigela e reserve.
  3. Unte uma fôrma para cuscuz com azeite e decore a base com ervas, azeitonas e pimentão. Use a criatividade.
  4. Aqueça uma panela funda, coloque ⅓ do azeite e doure o alho com o alho-poró. Em seguida adicione o tomate, os pimentões em cubos, o colorau e refogue por 2 minutos, então adicione a água. Assim que ferver, abaixe o fogo e cozinhe por 5 minutos. Coloque a ervilha, a azeitona, o palmito e deixe cozinhar por mais alguns minutos. Adicione as ervas, a ora-pro-nóbis, sal, pimenta, mexa e comece a acrescentar as farinhas aos poucos, sempre mexendo. Cozinhe até formar uma massa macia e lisa, mexa constantemente para que não queime.
  5. Desligue o fogo e adicione o restante do azeite, mexa bem. Coloque rapidamente toda a massa na fôrma já untada e decorada. Pressione bem com uma colher e alise a superfície, deixe esfriar em temperatura ambiente.
  6. Leve para a geladeira por no mínimo 3 horas, desenforme e sirva.

Dicas: Prepare um dia antes para que os sabores amadureçam. Se usar palmito pupunha fresco, cozinhe-o com a ervilha, anteriormente. Consuma, de preferência, farinha de milho não transgênico.


Esta receita integra o Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas. Rita Taraborelli é cozinheira vegetariana, ilustradora e integrante do Levante Slow Food Brasil. Conheça mais sobre esta publicação acessando aqui (link).

Cuscuz paulista com ervilha fresca, palmito e ora-pro-nóbis

Receita de Cuscuz paulista com ervilha fresca, palmito e ora-pro-nóbis, por Rita Taraborelli. Conteúdo do Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas.

Moqueca de Caju

Rendimento: 4-5 porções
Tempo de preparo: 2 horas

Lembro muito bem da vez em que  servi este prato para John Mackey quando esteve no Brasil. Na ocasião, ele estava visitando a Fazenda da Toca e fui convidada para preparar as refeições.

Ingredientes
1 kg de cajus frescos inteiros
2 limões
3 dentes de alho amassados
1 pimenta dedo-de-moça
½  pimenta jalapenho vermelha ou pimenta malagueta sem semente
½  colher de sobremesa de raiz de coentro picado
3 cebolas em rodelas
1 pimentão vermelho em rodelas
1 pimentão amarelo em rodelas
5 tomates maduros em cubos
Azeite extravirgem
Coentro fresco picado
Salsinha fresca picada
Folhas de manjericão 
1 xícara de leite de coco fresco
1 colher de sopa de polvilho
Azeite de dendê (opcional)
Sal

Ilustração: Rita Taraborelli

Modo de preparo

  1. Prepare o caju: retire a pele e a castanha, corte a polpa ao meio e coloque em uma tigela.
  2. Para fazer a marinada, pique as pimentas (sem as sementes) e misture com o suco de limão, o alho amassado, a raiz do coentro, e metade das folhas de coentro e a salsinha. Verta a mistura sobre o caju e deixe marinar por 1 hora.
  3. Refogue a cebola com os pimentões (sem as sementes) e os tomates no azeite. Desligue o fogo, adicione o manjericão e ajuste o sal.
  4. Montagem: Em uma panela de barro, faça uma cama com a metade do refogado. Coloque o caju e, em seguida, o resto do refogado.
  5. Por último, coloque o leite de coco e cozinhe por 20 minutos em fogo baixo. Deixe a panela semiaberta.
  6. Finalize com azeite extravirgem, ou dendê, e coentro fresco.
  7. Sirva com arroz-cateto  integral, farofa de banana e couve dourada.

Esta receita integra o Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas.
Rita Taraborelli é cozinheira vegetariana, ilustradora e integrante do Levante Slow Food Brasil.
Conheça mais esta publicação acessando o link

Moqueca de Caju

Receita de moqueca de caju, por Rita Taraborelli. Conteúdo do Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas.

+ BIBLIOTECA

+ ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Visual Portfolio, Posts & Image Gallery for WordPress

Sociedade civil exige cancelamento de decisão que libera cultivo e comércio de trigo transgênico no Brasil

Texto publicado originalmente por Grupo de Trabalho Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia

Documento apontando perigos do trigo HB4 à soberania alimentar, à saúde, à biodiversidade e à economia do país foi protocolado junto ao governo federal e a órgãos da Justiça. Organizações reivindicam audiência com ministérios e denunciam que aprovação do trigo transgênico foi feita sem análises de riscos

Foi enviado ao Presidente do Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), o Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República, Rui Costa, um ofício reivindicando o cancelamento da liberação do cultivo de trigo transgênico HB4 e da importação de farinha de trigo transgênico HB4. Assinado por um coletivo de organizações, redes e movimentos sociais, o documento, protocolado nesta segunda-feira (20), reúne informações sobre ilegalidades e violações no processo de aprovação do produto geneticamente modificado, além de perigos à saúde, à biodiversidade, à economia e à soberania alimentar, já que o trigo faz parte da base da alimentação da população brasileira. O texto também foi entregue a outros 10 Ministérios que compõem o CNBS, ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.

A aprovação do plantio do trigo transgênico no Brasil ocorreu, no último 1º de março, pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), instância responsável pela liberação de organismos geneticamente modificados. As organizações denunciam que a decisão foi tomada sem que houvesse análises técnicas e debates públicos suficientes. Diante da situação, as entidades requerem audiência com as ministras e os ministros que compõem o Conselho e cobram a suspenção dos efeitos da decisão da CTNBio. Reforçam ainda que, muito além de uma questão técnica, a aprovação de biotecnologias no país deve necessariamente incluir a participação de diferentes setores da sociedade.    

Ilustração: Ribs/GT Biodiversidade da ANA.

 Ilegalidades e perigos à biodiversidade

As organizações que assinam o ofício denunciam que as liberações da importação da farinha e do cultivo do trigo transgênico HB4 violam a Lei de Biossegurança nº 11.105/2005 e o Protocolo de Cartagena, um dos instrumentos da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). O Brasil aderiu ao tratado internacional, mas a Argentina não. Portanto, o processo para a aprovação do produto transgênico no país vizinho deveria se adequar às exigências da legislação brasileira, que são mais rígidas. A decisão tomada pela CTNBio, ainda composta por membros indicados por ministérios do governo de Jair Bolsonaro, surpreendeu, em especial, por se basear em um processo anterior, de 2021, aberto exclusivamente, como afirmava a própria Comissão, para a importação da farinha de trigo transgênica da Argentina, e não para o cultivo do trigo HB4 em território brasileiro.

“A Lei de Biossegurança brasileira estabelece, por exemplo, procedimentos e estudos diferentes para as distintas finalidades de uso, ou seja, as avaliações sobre o consumo ou plantio do trigo transgênicos deveriam ser feitas de forma separada. Trata-se de uma ilegalidade que já faz com que a decisão possa ser anulada”, explica Larissa Packer, da organização internacional Grain.

A única audiência sobre o trigo transgênico realizada até hoje pela CTNBio trouxe informações consideradas inconsistentes pelas entidades. O HB4, por exemplo, é modificado para tolerar o glufosinato de amônio, que é altamente tóxico e poderá chegar à mesa da população na forma de pães, massas, pizzas, bolos, salgados, biscoitos, entre outros alimentos de consumo massivo². Ainda assim, não foram ouvidos especialistas em defesa dos direitos de consumidores e consumidoras. Além disso, o representante da empresa argentina demandante da liberação do produto no Brasil chegou a desvincular o cultivo do trigo transgênico do referido agrotóxico. Curiosamente, a própria Bioceres recomendava em seu site a quantidade mínima do herbicida para seu plantio: dois litros por hectare.

Cultivo do trigo HB4 aumentará uso de agrotóxicos nas lavouras. (Foto: FreePik)

Outra preocupação se refere à ausência de estudos nos diferentes biomas do país, o que impede a avaliação sobre o desempenho agronômico do trigo geneticamente modificado, assim como a previsão de riscos ao meio ambiente. Não se comprovou, por exemplo, a efetividade de seu desempenho em áreas de seca, um dos principais argumentos do lobby favorável ao trigo transgênico. “Não houve pesquisas de campo e análises sobre possíveis efeitos adversos à biodiversidade. A eterna promessa envolvendo mais produtividade com menos oferta de água nunca se cumpriu com a soja ou o milho transgênico. Vai se cumprir com o trigo?”, questiona o agrônomo Leonardo Melgarejo, que integra o Grupo de Trabalho (GT) Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA)³.

Fome e comida mais cara

As organizações também contestam à ideia de que o trigo transgênico seria necessário no combate à fome, problema que atinge pelo menos 33 milhões de pessoas no Brasil, como aponta pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN). Defendem que a introdução do produto no Brasil poderia custar alto economicamente, já que estaria atrelada ao pagamento de royalties às empresas titulares da biotecnologia transgênica. Apesar de ser uma empresa argentina, a Bioceres possui capital aberto na Bolsa de Valores de Nova Iorque e alianças com transnacionais do ramo da alimentação, como Monsanto e Syngenta. Nesse contexto, o trigo HB4 poderia tornar o Brasil mais vulnerável às oscilações do mercado internacional para estruturar sua política alimentar. O impacto da aprovação de trigo transgênico, portanto, recairia no valor da comida. Cabe destacar que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil fechou 2022 com mais que o dobro da inflação sobre os alimentos e bebidas (11.64%), face à inflação geral (5,79%). 

Campanha contra trigo transgênico exige: “No Nosso Pão Não!” (Foto: FreePik)

“Também não se comprovou a real possibilidade de segregar o trigo transgênico em suas etapas de cultivo, transporte, armazenamento e processamento. Assim, a biotecnologia transgênica poderia rapidamente se tornar totalitária. Como os plantios convencionais ou agroecológicos ficariam constantemente suscetíveis à contaminação, os direitos de agricultoras e agricultores seriam violados”, aponta Leonardo. Nessa situação, o poder de escolha sobre qual tipo de trigo cultivar ou quais insumos utilizar na produção estaria inviabilizado, já que a transgenia é dependente de agrotóxicos. Ainda que fosse possível separar o HB4 das outras culturas de trigo, as organizações ressaltam que tal ação demandaria ainda mais custos à agricultura convencional, orgânica ou agroecológica, o que, mais uma vez, poderia recair no preço dos alimentos no país.  

[1] Manifesto publicado pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida reúne adesões de instituições e movimentos sociais contra o trigo transgênico.

[2] Pessoas físicas que queiram repudiar o trigo transgênico podem assinar petição no site do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

[3] Conteúdo: Grupo de Trabalho (GT) Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA). Texto: Gilka Resende. Ilustração: Ribs. Fotos: Freepik.

Sociedade civil exige cancelamento de decisão que libera cultivo e comércio de trigo transgênico no Brasil

Documento apontando perigos do trigo HB4 à soberania alimentar, à saúde, à biodiversidade e à economia do país foi protocolado junto ao governo federal e a órgãos da Justiça. Organizações reivindicam audiência com ministérios e denunciam que aprovação do trigo transgênico foi feita sem análises de riscos

A volta do CONSEA

Em 28 de fevereiro de 2023, quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva completa o segundo mês de seu terceiro mandato, ocorre a reinstalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o CONSEA, que havia sido extinto no primeiro dia de governo de seu antecessor. Para contextualizar a volta do CONSEA, vale ter presente, ainda que muito sinteticamente, sua trajetória recente. A isso se propõe este pequeno texto.

Em todo o país, o Banquetaço comemora o retorno do CONSEA e da política de combate à fome: participe na sua cidade!

Em 2014, após uma década em que o combate à fome fora colocado como eixo estratégico da agenda das políticas públicas do país, o Brasil deixou de constar do Mapa Mundial da Fome. Segundo Relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO (2015), durante aquele período o número de brasileiros considerados em situação de subalimentação reduzira-se em 82%. Tal conquista decorreu “da decisão política de promover o crescimento econômico com distribuição de renda e o desenvolvimento de diversas políticas públicas com grande impacto nas famílias em situação de vulnerabilidade social” (FAO, 2016:1), cabendo destaque à agenda de Segurança Alimentar e Nutricional, em que se inscrevera, em 2003, a recriação do CONSEA.

O CONSEA é órgão de assessoramento imediato à Presidência da República, de caráter consultivo, formado por um terço de conselheiros/as de governo e dois terços da sociedade civil, aí representados/as agricultores familiares, mulheres agricultoras, movimento agroecológico, agricultura urbana, indígenas, mulheres indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais (povos de matriz africana, pescadores artesanais, quebradeiras de coco babaçu, entre outros), movimento urbano, pesquisadores/as, pessoas com necessidades alimentares especiais, centrais sindicais, grupos religiosos e associações patronais. Nas Conferências Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional –realizadas em 1994, 2004, 2007, 2009, 2011 e 2015– reúnem-se milhares de participantes, deliberando sobre os princípios e ações do CONSEA.

Como parte desse processo, que tem como marcas a participação social e a intersetorialidade, em 2006 foi promulgada a Lei nº 11.346, Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN), que estabeleceu o Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN), composto por: Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional –que reúne os ministérios cuja atuação tem impacto na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional–; órgãos e entidades de segurança alimentar e nutricional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; instituições privadas, com ou sem fins lucrativos, que manifestem interesse na adesão e que respeitem os critérios, princípios e diretrizes do SISAN. Ainda compondo o marco institucional de SAN no Brasil, temos que, em 2010, foi criada a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e incluído na Constituição Federal o Direito Humano à Alimentação Adequada (CONSEA, 2015).

Foi, assim, estabelecido em lei que “A Segurança Alimentar e Nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis” (BRASIL, 2006).

Tal conceito foi sempre orientador dos posicionamentos do CONSEA que, desse modo, pautou suas proposições no sentido de: democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais das populações tradicionais, fortalecimento da agricultura familiar e agroecológica, restrição ao uso de agrotóxicos e rejeição aos cultivos transgênicos, proteção da agrobiodiversidade e reconhecimento dos direitos decorrentes dos conhecimentos tradicionais associados, denúncia das consequências do aumento do consumo de alimentos processados e ultraprocessados, reconhecimento de saberes e práticas da alimentação como patrimônio cultural. É nesse quadro que se colocam programas que foram propostos pelo CONSEA para implementação pelo governo federal, tais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que assegurou a compra institucional de alimentos da agricultura familiar, ou o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que estabeleceu que 30% de todo o orçamento da alimentação escolar seja destinado à aquisição de alimentos produzidos pela agricultura familiar.

Cabe ainda menção, nesse processo, ao avanço representado pela segunda edição do Guia Alimentar da População Brasileira (Ministério da Saúde, 2014), que, tomando por pressupostos os direitos à saúde e à alimentação adequada e saudável, associou a alimentos minimamente processados o atributo da saudabilidade, estabelecendo relação entre obesidade, sobrepeso e doenças crônicas, que crescentemente têm atingido a população brasileira, ao consumo de alimentos processados.

É nesse quadro que se pode entender o lema escolhido para a 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em 2015: “Comida de verdade no campo e na cidade”. O manifesto aprovado pela 5ª CNSAN afirma que:

“A comida de verdade é salvaguarda da vida. É saudável tanto para o ser humano quanto para o planeta, contribuindo para a redução dos efeitos das mudanças climáticas. Garante os direitos humanos, o direito à terra e ao território, a alimentação de qualidade e em quantidade adequada em todo o curso da vida. Respeita o direito das mulheres, a diversidade dos povos indígenas, comunidades quilombolas, povos tradicionais de matriz africana, povos de terreiro, povos ciganos, povos das florestas e das águas, demais povos e comunidades tradicionais e camponeses, desde a produção ao consumo. Protege e promove as culturas alimentares, a sociobiodiversidade, as práticas ancestrais, o manejo das ervas e da medicina tradicional, a dimensão sagrada dos alimentos. Comida de verdade começa com o aleitamento materno. Comida de verdade é produzida pela agricultura familiar, com base agroecológica e com o uso de sementes crioulas e nativas. É produzida por meio do manejo adequado dos recursos naturais, levando em consideração os princípios da sustentabilidade e os conhecimentos tradicionais e suas especificidades regionais. É livre de agrotóxicos, de transgênicos, de fertilizantes e de todos os tipos de contaminantes. Comida de verdade garante a soberania alimentar; protege o patrimônio cultural e genético; reconhece a memória, a estética, os saberes, os sabores, os fazeres e os falares, a identidade, os ritos envolvidos, as tecnologias autóctones e suas inovações. É aquela que considera a água alimento. É produzida em condições dignas de trabalho. É socialmente justa. Comida de verdade não está sujeita aos interesses de mercado. Comida de verdade é caracterizada por alimentos in natura e minimamente processados em detrimento de produtos ultraprocessados. Precisa ser acessível, física e financeiramente, aproximando a produção do consumo. Deve atender às necessidades alimentares especiais. Comida de verdade é aquela que é compartilhada com emoções e harmonia. Promove hábitos alimentares saudáveis no campo, na floresta e na cidade. Comer é um ato político. Comida de verdade é aquela que reconhece o protagonismo da mulher, respeita os princípios da integralidade, universalidade e equidade. Não mata nem por veneno nem por conflito. É aquela que erradica a fome e promove alimentação saudável, conserva a natureza, promove saúde e a paz entre os povos.”

Após um golpe de estado que, em 2016, estancou os avanços sociais que vinham sendo conquistados pela sociedade brasileira; uma pandemia e um governo genocida (2019-2022), chegamos a uma situação em que mais da metade da população brasileira convive com a insegurança alimentar, sendo que 33,1 milhões passam fome (Rede Penssan, 2022). Esse é o tamanho do desafio que se apresenta, mas também da energia e motivação que mantiveram ativos, por todo o país, durante o período em que o CONSEA esteve extinto, conselhos estaduais e municipais de Segurança Alimentar e Nutricional, movimentos sociais, militantes, estudiosos/as… gente que agora, mais uma vez, se agrega na luta pela comida de verdade, para toda a população brasileira: o CONSEA voltou!

Referências

BRASIL. Lei nº 11.346, 2006.

CONSEA. Comida de verdade no campo e na cidade: 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – relatório final, Brasília, 2015.

FAO. O estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil, Brasília, 2015.

FAO. Superação da fome e da pobreza rural: experiências brasileiras, Brasília, 2016.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia Alimentar da População Brasileira, 2014.

REDE PENSSAN. Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil. Rio de Janeiro: Rede Penssan, 2022.

* Este texto foi elaborado a partir de extratos do trabalho escrito em parceria com Carmen Janaina Machado, “Elementos para uma agenda de pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional à luz da Antropologia”, publicado em 2019, no México, como capítulo do livro Inseguridad alimentaria y políticas de alivio a la pobreza. Una visión multidisciplinaria , organizado por Blanca Rubio e Ayari Pasquier.

* Renata Menasche é Professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, membro do Conselho Consultivo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) e conselheira do CONSEA.

A volta do CONSEA

Em 28 de fevereiro de 2023, quando o presidente Luís Inácio Lula da Silva completa o segundo mês de seu terceiro mandato, ocorre a reinstalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o CONSEA, que havia sido extinto no primeiro dia de governo de seu antecessor. Para contextualizar a volta…

+ ÚLTIMAS NOTÍCIAS

+ ARCA DO GOSTO

Visual Portfolio, Posts & Image Gallery for WordPress

bacupari_do_cerrado_foto_Marcelo_mercadante

Bacupari-do-Cerrado

Similar ao fruto asiático lichia, o bacupari-do-cerrado pode crescer em arbusto que varia entre 1,50 e 3 metros de altura e casca áspera e cinzenta. É uma planta de baixa ocorrência e pertencente à família botânica das Celastráceas….

+ ARCA DO GOSTO

Conheça e ajude a salvar os alimentos da biodiversidade brasileira.

Grumixama

WhatsApp Image 2018 12 15 at 19.38.54

Conheça, divulgue, participe.
Faça parte do Movimento!

O Slow Food Brasil é a Rede formada pelos membros e Comunidades Slow Food no território nacional, além da Associação Slow Food do Brasil e parceiros institucionais. Atuamos organizando ações, eventos e campanhas com foco na defesa da biodiversidade, na valorização dos alimentos regionais e na conexão entre produtores e co-produtores. Difundimos a educação alimentar e do gosto e promovemos alianças e projetos para a valorização do trabalho dos agricultores, extrativistas, comunidades e produtores.

Atividades das Comunidades

Visual Portfolio, Posts & Image Gallery for WordPress

Políticas públicas para povos e comunidades tradicionais no Acre: atuação com o povo Puyanawa e Huni Kui

Na primeira semana de janeiro de 2023, a equipe de consultoras do projeto Sociobiodiversidade Amazônica, da Associação Slow Food do Brasil, esteve presente nas Terras Indígenas Puyanawa e Colônia 27, nos municípios de Mâncio Lima e Tarauacá, respectivamente. A motivação destas atividades de campo são as chamadas públicas para a alimentação escolar indígena para as escolas estaduais nesses territórios. Em Mâncio Lima o edital já está publicado pela Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte do Estado do Acre (SEE-AC) ( número 005/2022), e a chamada para as escolas em Tarauacá ainda aguarda publicação. A escola indígena na TI Puyanawa é a Ixubay Rabui Puyanawa e conta com 228 estudantes. Além desta, há outras seis escolas estaduais em TIs em Mâncio Lima: três na TI Nawa do Novo Recreio e três na TI Nukini.

Consultoras da Slow Food na Terra Indígena Colônia 27.
Produtores indígenas da Terra Indíugena Colônia 27.

As atividades em campo apresentaram o movimento Slow Food e seus métodos de trabalho e buscou dialogar com os produtores e produtoras sobre o edital lançado e o que ainda deve ser lançado em Tarauacá. Com os Puyanawas, a atividade teve encaminhamentos mais práticos, tendo em vista que o edital está em vigência, pois foi lançado no final de dezembro de 2022. Alguns destes produtores e produtoras já têm participado de editais e a associação local (Associação Agroextrativista Poyanawa do Barão e Ipiranga – AAPBI) tem desempenhado importante protagonismo. Com isso, nossas consultoras, Thaís de Azevedo e Jamylena Souza, deram sequência nas atividades, contextualizando o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a chamada pública vigente e a capacitação para a elaboração dos projetos de venda.

Este edital em vigência possui 23 produtos para entrega pelos produtores e produtoras: abacaxi, abóbora regional, alface, arroz regional, bananas nativa, da terra e maçã, batata doce, cebolinha, coentro, colorau/urucum, cupuaçu, farinha de mandioca, farinha de tapioca, feijão carioca ou regional, graviola, limão regional, mamão, macaxeira, melancia, milho de canjica e milho verde, e pimenta de cheiro. Apesar da Nota Técnica nº 06/2020 permitir, lamentamos o fato que proteínas animal, como peixe, frango caipira, ovos, entre outros, não estejam presentes no edital.

Ixubay Rabui Puyanawa, Terra Indígena Puyanawa.
Apresentação da slow Food na Terra Indígena Puyanawa
Dinâmica de conhecimento. Produtores Puyanawas descrevendo quais alimentos produzem em seus quintais
Apresentação sobre a percepção do alimento bom, limpo e justo
Produtor@s indígenas apresentando suas reflexões sobre o que são alimentos bons, limpos e justos para todos.

Um dos pontos de discussão com os indígenas foi a inclusão de outros produtos que fazem parte do hábito alimentar local e que não estão presentes neste edital. Nossas consultoras puderam perceber esse potencial ao visitarem as propriedades e conhecerem um pouco mais da diversidade produtiva local. Sabemos das dificuldades do lançamento de um edital específico que contemple a diversidade alimentar dos muitos povos indígenas e comunidades tradicionais e que resulte na correta inclusão dessa ampla gama de alimentos. Desde já, estamos dispostos a contribuir no aprimoramento das políticas públicas e torná-las cada vez mais condizentes com estes ricos territórios.

Como resultado dessa ida a campo, tivemos a elaboração de 11 projetos de venda com os produtores e produtoras puyanawas para serem apresentados no dia da entrega da documentação do edital. Junto a isso, nossa equipe pôde conferir a situação da documentação desses/as produtores/as, principalmente no que se refere às DAPs. Temos nos deparado com uma situação complexa de transição para emissão do Cadastro da Agricultura Familiar (CAF), o qual muitos produtores/as não estão conseguindo acessar.

Casa de farinha na TI Puyanawa.
Casa de farinha na TI Puyanawa.
Casa de farinha na TI Puyanawa.

Além desse edital para Mâncio Lima, há outros dois editais abertos para as escolas estaduais em Cruzeiro do Sul e Assis Brasil. Para isso, a Comissão de Alimentos Tradicionais dos Povos do Acre (Catrapoacre) tem se articulado em prestar apoio aos produtores e produtoras indígenas para que consigam emitir as documentações necessárias e se inscreverem nas chamadas. Nesse sentido, se destacam a atuação da EMATER, SEE-AC, Funai, GIZ, Secretaria de Estado de Produção e Agronegócio (SEPA), entre outras instituições.

O fechamento desta publicação aconteceu próximo as entregas dos projetos de vendas e demais documentos para inscrição dos produtores e produtoras indígenas nos referidos editais. Com isso, graças a articulação da Catrapoacre e das instituições envolvidas, foi possível realizar a inscrição de 58 produtores/as nestas chamadas públicas: 30 em Assis Brasil, 25 em Mâncio Lima e 3 em Cruzeiro do Sul. É uma grande vitória para esta articulação e o Slow Food Brasil celebra esta conquista!

Visita aos quintais agroflorestais
Intervalo da oficina para o almoço.

Por fim, duas semanas após o retorno desse campo, tivemos a triste notícia do falecimento da Thaís de Azevedo, que foi acometida por uma infecção pulmonar assintomática. Thaís vinha desempenhando um importante papel dentro da Catrapoacre, assim como em diversos outros espaços vinculados às políticas públicas para agricultura familiar no Acre. Thaís vinha colaborando com este projeto do Slow Food e lamentamos muito sua partida. Desejamos força aos amigos, amigas e familiares.

A Associação Slow Food do Brasil estabeleceu uma parceria para o desenvolvimento do projeto Sociobiodiversidade Amazônica com o projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Este projeto acontece nos estados do Amazonas, Acre e Pará ao longo de 2022 e 2023.

Políticas públicas para povos e comunidades tradicionais no Acre: atuação com o povo Puyanawa e Huni Kui

Na primeira semana de janeiro de 2023, a equipe de consultoras do projeto Sociobiodiversidade Amazônica, da Associação Slow Food do Brasil, esteve presente nas Terras Indígenas Puyanawa e Colônia 27, nos municípios de Mâncio Lima e Tarauacá, respectivamente. A motivação destas atividades…

Projeto Sociobiodiversidade Amazônica: Arca do Gosto, Ecogastronomia e Colheita do guaraná

Entre os dias 12 a 26 de novembro de 2022, a equipe do Projeto Sociobiodiversidade Amazônica (PSA) esteve na Terra Indígena Andirá Marau e na Brasileia, comunidade vizinha a TI, para a sequência de atividades deste projeto. Tivemos a oportunidade de acompanhar a colheita do guaraná (waraná na língua Sateré) junto com os/as agricultores/as da Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadi (AAFAU). Também demos um retorno para as comunidades sobre o relatório do campo 1, fomentamos a criação do Círculo de Mulheres, promovemos uma oficina de Educomunicação (especialidade do nosso consultor Bruno Franques), seguimos o desenvolvimento do Protocolo de Sistemas Agrícolas e conversamos sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Bastante coisa acontecendo em campo!

Dinâmica “Trama de relações”, na abertura das atividades na Ilha Michiles. Foto: Bruno Franques
Reflexão sobre as atividades propostas. Zhamis, Bruno, Josibias (Tuxaua) e Sigliane. Comunidade da Ilha Michiles. Foto: Agnaldo Michiles
Roda de conversa sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Comunidade da Brasiléia. Foto: Paulo Messias

A Arca do Gosto é um programa do Slow Food que busca reconhecer, valorizar e catalogar alimentos ameaçados de extinção, seja essa biológica e/ou cultural, ou seja, espécies e modos de fazer em risco de desaparecer. No momento, há mais de 5.000 produtos catalogados em todo mundo, mais de 200 produtos no Brasil e, na Amazônia, aproximadamente 50. A catalogação ocorre por meio de indicações e preenchimento de fichas com informações detalhadas sobre os produtos, o que este projeto pretende fazer para incluir alguns alimentos das comunidades parceiras no programa. Por meio dos métodos aplicados, chegamos a seis indicações e ressaltamos duas que possuem algo em comum: o consumo de insetos nas comunidades! A formiga “sahay” e o bicho de gongo foram indicações das comunidades Ilha Michiles e Brasileia, respectivamente. 

Bicho de Gongo, um dos alimentos indicados para a Arca do Gosto na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques

Um ponto interessante dessas atividades de campo tem sido o preparo das refeições. Nosso colega e consultor Zhamis Benício, da Comunidade Slow Food Manaus pelo legado alimentar da Amazônia, tem contribuído com o método de trabalho e diversas receitas ao longo das atividades. Diversos comunitários e comunitárias têm sido convidados a participar e compartilhar dessas aventuras ecogastronômicas. A participação masculina tem sido incentivada, em especial nos momentos de reunião das mulheres, denominado Círculo de Mulheres.

Agradecimentos antes da refeição, com mesa farta e alimentos tradicionais. Comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Degustações da oficina de Ecogastronomia, em Peniel do Areal. Foto: Bruno Franques
Alimentação tradicional após uma oficina de Ecogastronomia, na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Pescadores após uma madrugada de trabalho, na Ilha Michiles. Foto: Bruno Franques

A partir da aplicação de algumas metodologias da Caixa de Ferramentas de Gênero da Agência de Cooperação Técnica da Alemanha no Brasil (GIZ), a equipe de campo do PSA do Amazonas propôs e estimulou as mulheres a criarem um espaço seguro de interação, apoio, acolhimento, articulação política e desenvolvimento de projetos. O Círculo de Mulheres foi rapidamente apropriado por elas, que passaram a desenvolvê-lo de acordo com suas próprias perspectivas, de maneira autônoma e potente. Os resultados já começam a aparecer e a participação feminina nas atividades tem ganhado força com interações cada vez mais intensas.

Ferramenta 1 da GIZ, na comunidade Renascer, em Peniel do Areal. Foto: Bruno Franques

As Oficinas de Educomunicação foram promovidas por Bruno Franques, que incorporou alguns de seus métodos de trabalho na proposta do PSA. Com exercícios de elaboração narrativa a partir das diversas camadas da percepção de identidade de cada um, em interação com o ambiente e com os demais participantes, foram abordados importantes aspectos dos elementos constituintes das mensagens midiatizadas. Tais reflexões contribuem de um lado para que a comunidade possa ser mais crítica ao modelo proposto pela indústria cultural e de outro, que estejam aptos a criarem narrativas estratégicas e envolventes que valorizem seus modos de vida e divulguem seus produtos.

Outro ponto importante dessa ida a campo foi a participação do Bruno e Zhamis na colheita do guaraná com a AAFAU.  Além de prestarmos um apoio direto durante este período crítico para a comunidade, nossa equipe pôde tirar boas fotos, vivenciar este momento de colheita tão importante, compreender melhor sobre o beneficiamento do guaraná e trazer diversas impressões sobre o processo, que colaboraram para uma melhor compreensão das práticas desses sistemas agrícolas.

Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Zhamis Benício
Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Zhamis Benício
Seleção de grãos pós-torragem para o preparo do bastão de guaraná. Seu Simão, da comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Pilhagem e modelagem do bastão do guaraná, na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques

Esta interação tem gerado boas expectativas e acreditamos que poderemos “colher bons frutos desse plantio”!

A Associação Slow Food do Brasil estabeleceu uma parceria para o desenvolvimento do projeto Sociobiodiversidade Amazônica com o projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Este projeto acontece nos estados do Amazonas, Acre e Pará ao longo de 2022 e 2023.

Projeto Sociobiodiversidade Amazônica: Arca do Gosto, Ecogastronomia e Colheita do guaraná

Entre os dias 12 a 26 de novembro de 2022, a equipe do Projeto Sociobiodiversidade Amazônica (PSA) esteve na Terra Indígena Andirá Marau e na Brasileia, comunidade vizinha a TI, para a sequência de atividades deste projeto. Tivemos a oportunidade de acompanhar…

O Manifesto dos Feijões e das Leguminosas

Texto traduzido e adaptado por Lucas Mourão, porta-voz da Comunidade Slow Food Beagá a partir do texto original dos parceiros da rede Global Beans: https://www.globalbean.eu/publications/legume-manifesto/ .

Conheci o projeto do Global Beans no Terra Madre 2022 e fiquei encantado com o seu trabalho de conectar os promotores da biodiversidade de feijões e leguminosas, e também a produção de conteúdo sobre o tema. Conectei com eles por causa da descoberta do Feijão do Divino, feijão de Lamim (MG) que espero em breve entrar na Arca do Gosto, e me despertei para a importância crucial dos feijões e leguminosas na nossa alimentação. Por isso penso que por aqui no Brasil devemos fortalecer nosso conhecimento e promoção da biodiversidade das leguminosas, dessa forma fica por aqui o manifesto para conhecer mais a importância das leguminosas na alimentação! Segue o texto:

Nesse mundo em aquecimento global com exigências cada vez maiores em matéria de recursos naturais, somos desafiados a fazer escolhas que cuidam melhor do nosso planeta. Essas escolhas começam na cozinha porque, como o poeta e agricultor Wendell Berry disse, “a forma como comemos determina, em grande medida, como o mundo é usado”. A produção dos nossos alimentos é um motor para as mudanças climáticas. Mais de 40% da superfície terrestre sem gelo do mundo é utilizada para a agricultura.

Em particular, o modo como produzimos alimentos ricos em proteínas é central no impacto que nossas dietas alimentares têm sobre o planeta!

As leguminosas são um grupo muito especial e diverso de plantas ricas em proteínas que podem nos ajudar a comer melhor e a cuidar do nosso planeta e da nossa saúde. São definidas pelas flores com desenho que lembra borboleta que podemos ver em plantas como a ervilha e o feijão. As leguminosas mais familiares são as que têm sementes comestíveis conhecidas como feijões, tais como fava, feijão comum, lentilha, grão-de-bico e ervilha. Além disso, a soja e o tremoço também nos fornecem alimento e também são usados para a alimentação animal. Os trevos, por sua vez, enriquecem os nossos campos.

As leguminosas podem ser colhidas verdes ou maduras:
Ícone verde: colheita quando verde para comer fresca
Ícone amarelo: colheita quando madura com grãos secos, para preparar refeições ou usar para plantar uma próxima geração de feijões

https://lh5.googleusercontent.com/drqwWbuojXym3H3CIXQpuoOQ7-AqINuZS6hXwiHUxVshGNeA_xof8O6AdrREICklEOiEBdWOrJkAMZx42K7HpyQihhiQJ0MJWaEYb3GQW6jj7mwTmfbV2HRphEpaeqodAPvr8YVN

Faboideae (ou Papilionoideae, do latim para borboleta: papilio) é a ordem da família dos feijões onde as plantas são caracterizadas pelas flores tipo-borboleta.

Fotografia: © Donal Murphy-Bokern, www.legumehub.eu. O feijão corredor escarlate (P. coccineus) é perene nos trópicos, mas tem crescido como anual na Europa. 

AS LEGUMINOSAS SÃO A FÁBRICA DE FERTILIZANTES DA NATUREZA

Porque é que uma família de plantas definida pela forma da sua flor deve merecer tanta atenção?

Grande parte dessa resposta se encontra debaixo da superfície do solo e no papel que as leguminosas desempenham no ciclo do nitrogênio. As leguminosas hospedam bactérias específicas do gênero Rhizobium nos nódulos das suas raízes, que capturam nitrogênio do ar. Essa fixação natural de nitrogênio é sustentável porque não há necessidade de adubos nitrogenados que exigem muita energia e porque as emissões de gases com efeito de estufa à base de nitrogênio do solo são reduzidas.

https://lh3.googleusercontent.com/1ZNHrB6TIZAxOX-12iDMzWo52siHy4eR1wuFlWe_aUfkPAIqjBloD2Wsw7xnVTKVHcgvUQLbqxZdePZ-aPA2wmD5vvmOHNaL2roR2NEsvznGT11mkpTWD1Z-x6GlaA95Y4JxghkA

A forma como as leguminosas crescem sem fertilizantes nitrogenados é uma história fascinante da parceria entre as  leguminosas e as bactérias alojadas nos nódulos das suas raízes. Esses nódulos são bem conhecidos dos agricultores e jardineiros. Uma substância chamada leghemoglobina, que é semelhante à hemoglobina no nosso sangue, é a chave para esse  processo.  Por consequência o interior dos nódulos radiculares saudáveis das leguminosas é vermelho quando cortado. Fotografia: © Messmer, FiBL, www.legumehub.eu.

Ciclo do nitrogênio

As leguminosas nos ajudam a reduzir o impacto da nossa alimentação no ciclo do nitrogênio. Nosso sistema alimentar atual coloca uma grande  pressão sobre o ciclo do nitrogênio liberando gases de  efeito de estufa e poluindo a atmosfera e a água. As leguminosas desempenham um papel nos nossos esforços para reduzir os danos causados ao ciclo global do nitrogênio, fornecendo uma alternativa aos fertilizantes nitrogenados sintéticos e uma alternativa às proteínas de origem animal.

© Donal Murphy-Bokern, www.legumehub.eu. 


AS LEGUMINOSAS SÃO SAUDÁVEIS E RICAS EM PROTEÍNAS

O nitrogênio é uma peça central na construção das proteínas. As leguminosas são ricas em proteínas  devido à fixação de nitrogênio nos seus nódulos  das raízes. Sementes de feijão comum, ervilhas, favas, lentilhas e grão-de-bico contém de duas a três vezes mais proteínas do que grãos de cereais. O grão de soja e o tremoço são ainda mais ricos em proteínas. As proteínas das leguminosas são especialmente nutritivas. Os nossos antepassados entenderam isso e usaram as leguminosas para complementar cereais como trigo e aveia nas nossas dietas alimentares.  Nos deixaram um  grande legado de pratos tradicionais que utilizam leguminosas. Atualmente, as leguminosas  também são particularmente importantes em dietas veganas e vegetarianas. O feijão e a ervilha podem enriquecer  todos os tipos de cozinhas. Em particular, são uma excelente alternativa à carne. Para além de uma ampla gama de vitaminas e micronutrientes, feijões e ervilhas também são ricos em  carboidratos complexos que protegem o coração e reduzem o risco de  câncer. Comer mais leguminosas em vez de carnes é saudável para a maioria de nós e  também para o planeta.

AS LEGUMINOSAS DIVERSIFICAM OS CULTIVOS

As leguminosas são muito diferentes dos cereais como o trigo, a cevada e o milho que dominam a nossa zona rural. Mais leguminosas nos campos significam uma agricultura mais diversificada. As suas flores são fonte de pólen e néctar para os  insetos. A sua biodiversidade também ajuda aves e  a fauna em geral. Os agricultores que cultivam leguminosas têm menos problemas com ervas daninhas, doenças e pragas ao longo do ciclo de rotação de culturas.

    Fava (Vicia faba) na fase de floração. Fotografia: © Tim O’Donovan (Irlanda).


PRECISAMOS DE MAIS LEGUMINOSAS

As leguminosas são boas para nós, boas para os nossos quintais  e jardins, e boas para o planeta! Protegem o nosso clima porque são uma fonte natural de fertilizantes nitrogenados, aumentam a diversidade de culturas, e apoiam dietas saudáveis sustentáveis. 

No entanto, aqui no Brasil grande parte da área agrícola cultivada é destinada às monoculturas de milho, soja e algodão transgênicos, enquanto boa parte das leguminosas que chegam ao prato das famílias (feijão comum, feijão de corda, feijão fradinho, etc), que são produzidas pela agricultura familiar, vem perdendo espaço de cultivo e também a preferência dos consumidores nos últimos anos. 

Na Europa, as leguminosas são raramente cultivadas nos quintais, embora o feijão (incluindo a soja), a ervilha e o tremoço cresçam tão bem na Europa como em qualquer outro lugar do mundo. Em vez disso, a maioria dos agricultores europeus que se dedicam às culturas agrícolas  se concentram no cultivo de cereais, como o trigo e o milho, porque   essas  culturas crescem particularmente bem na Europa. Os agricultores europeus também produzem grandes quantidades de carne, leite e ovos de gado que requerem grandes quantidades de proteínas vegetais e terra para pastoreio. Cerca de 60% dos cereais cultivados na União Europeia são  para alimentar gado e a Europa é auto-suficiente na maioria dos produtos pecuários. No entanto, estes cereais não contêm proteína suficiente ou  proteína de melhor qualidade. Para compensar, são importados o equivalente a 35 milhões de toneladas de soja, na sua maioria   vinda da América do Sul, para alimentar gado na União Europeia. Isto significa que existe uma ligação entre o que comemos e  o desmatamento  de ecossistemas tropicais.  Esse sistema alimentar não está em equilíbrio e não é sustentável. A mudança é necessária.

Precisamos  cultivar mais leguminosas e mais variedades delas! Precisamos  aumentar o papel delas nas nossas dietas!  Tal transição  pode reduzir as emissões de gases de efeito de estufa a partir de agricultura, reduzir a dependência da soja, e melhorar  nossa saúde. Isso depende de todos nós. Como cidadãos, precisamos  encontrar formas de recompensar  com eficiência os agricultores que cultivam leguminosas. Como consumidores, precisamos  redescobrir e promover os maravilhosos pratos  baseados em  feijões do passado e do presente.

Global Bean Project é uma rede europeia que promove e dissemina o uso e cultivo de leguminosas nas cozinhas, campos e jardins bean@2000m2.eu / www.globalbean.eu

O Manifesto dos Feijões e das Leguminosas

Texto traduzido e adaptado por Lucas Mourão, porta-voz da Comunidade Slow Food Beagá a partir do texto original dos parceiros da rede Global Beans: https://www.globalbean.eu/publications/legume-manifesto/ . Conheci o projeto do Global Beans no Terra Madre 2022 e fiquei encantado com o seu trabalho…

Acompanhe as novidades!

Receba as notícias mais importantes e convites para os eventos, encontros, ações e atividades da rede Slow Food.

Assine a nossa newsletter!

Temas, Campanhas e Programas

Ações que conectam nossa rede.

Encontrou o que
procurava por aqui?

Escreva para a gente e conte sobre a sua experiência no nosso site. Sua opinião é importante.