Em 2004 a Fundação Slow Food para Biodiversidade assinou um acordo de cooperação internacional com o Ministério do Desenvolvimento Agrário do Brasil (MDA) , para o desenvolvimento de projetos no país com o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do MDA.
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No País da Biodiversidade
por Carlo Petrini
Slow Food significa apreciar a importância do prazer ligado aos alimentos, significa aprender a valorizar a diversidade de sabores, reconhecendo a grande variedade de locais de produção e dos métodos tradicionais, respeitando os ritmos das estações. A qualidade alimentar que desejamos é para todos, ela é compartilhada e democrática. O sabor muda dependendo se você é rico ou pobre, se há abundância ou fome, se você vive numa floresta ou numa cidade. Mas para todos, o sabor é o direito de transformar o sustento diário num prazer.
Com seus projetos – a Arca do Gosto, as Fortalezas e a rede de mercados de pequenos agricultores – o Slow Food descobriu pessoas que representam um novo modelo de agricultura, um modelo menos intensivo e mais limpo, baseado no conhecimento das comunidades locais, e a única abordagem também capaz de oferecer perspectivas de desenvolvimento para as regiões mais pobres do mundo.
Essas iniciativas, amadurecidas através de nossas experiências no mundo inteiro, levaram à idéia da Terra Madre , um encontro mundial de comunidades do alimento. Pequenos agricultores, pescadores, pastores e artesãos representam o futuro dos alimentos e de nossa Terra.
Ao longo de vários anos o Slow Food criou laços significativos com o Brasil – um país que possui uma extraordinária biodiversidade agrícola, gastronômica, cultural e lingüística. Em 2002 uma das primeiras Fortalezas Internacionais foi estabelecida na Amazônia (Guaraná nativo dos Sateré Mawé); em 2003 o Prêmio Slow Food para Biodiversidade foi dado à tribo indígena Krahô; e em 2004 um acordo entre o Slow Food e o Ministério do Desenvolvimento Agrário do Brasil confirmou esta longa relação de colaboração e amizade. Durante o ano de 2006, representantes de comunidades do alimento brasileiras criaram um grupo de discussão on-line e um boletim que coleta contribuições desses Intelectuais da Terra no Brasil.
É muito apropriado que em outubro de 2006 o Terra Madre e o Salone del Gusto recebam uma delegação especialmente grande do Brasil: 155 pessoas representando 60 comunidades do alimento e 6 Fortalezas.
Carlo Petrini
Presidente Internacional do Slow Food
Apoio às Comunidades Rurais
por Guilherme Cassel e Humberto Oliveira
Nos últimos anos a sociedade brasileira tem dado passos importantes na construção de um novo padrão de desenvolvimento, orientado para a ampliação da democracia, a superação da pobreza, a promoção da sustentabilidade ambiental e da justiça social.
A contribuição do Ministério do Desenvolvimento Agrário envolve a construção e implementação de políticas públicas de reforma agrária, de promoção da igualdade das mulheres e de fortalecimento da agricultura familiar.
Os resultados já começam a aparecer e sua expressão mais divulgada e também mais percebida pela população rural é a redução significativa da desigualdade social. Ações emergenciais integram-se a políticas estruturais. Uma associação criativa de ações voltadas para garantir o direito à terra, o apoio à produção – crédito e assistência técnica e extensão rural -, a garantia e a ampliação da renda – políticas de comercialização e agregação de valor, o seguro da agricultura familiar -, o direito a documentação civil e trabalhista e o acesso a moradia digna, saúde e educação. Uma experiência pautada pelo reconhecimento da importância do protagonismo da sociedade civil, presente na formulação e no controle social destas políticas.
Muito foi feito e muito há por fazer. Mas já se pode reconhecer que hoje a sociedade brasileira conhece mais a agricultura familiar e as comunidades rurais, reconhece sua diversidade econômica e cultural e valoriza seu papel para impulsionar uma nova etapa do desenvolvimento nacional.
Nesta caminhada foram surgindo novas possibilidades de atuação e novas dimensões das manifestações culturais do meio rural foram se revelando. Foi exatamente na valorização da gastronomia, vinculada à produção de alimentos pela agricultura familiar, do conhecimento das comunidades rurais e do compromisso com a sustentabilidade que se deu o encontro do Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Slow Food.
Um encontro que se transformou em parceria. Participamos da edição do Terra Madre 2004 e estivemos presentes na edição 2006 com uma delegação que revela parte importante de nossa diversidade cultural. Participamos da formação de três novas Fortalezas Slow Food, que se somaram à Fortaleza do Guaraná nativo já em andamento. Participamos do esforço de muitos para ampliar a Arca do Gosto brasileira, que, já conta com diversos produtos dos territórios rurais sendo reconhecidos, valorizados e promovidos. Observamos um interesse crescente de diversos setores da sociedade civil e, inclusive, de chefs de cozinha, interessados em conhecer os produtos da agricultura familiar e das demais comunidades rurais.
Conquistas importantes que nos animam a assumir novos desafios e a prosseguir com a parceria com o Slow Food.
Guilherme Cassel
Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário
Humberto Oliveira
Secretário Nacional de Desenvolvimento Territorial
*Fonte dos textos: Caderno Brasil no Terra Madre. Publicado para o Terra Madre 2006, Itália.