Alberto Viana de Campos Filho: ativista do Slow Food há 12 anos, educador, doutorando no PPGDC/UNEB, pesquisador de ecogastronomia, membro da Comunidade Slow Food Alguidá Salvador, Bahia, Brasil.
Ana Cecília Chaves Silva: Gestora de projetos sócio-culturais, padeira, ativista, membro da Comunidade Slow Food Alguidá Salvador, Bahia, Brasil.
Isabella de Mello Moreira: Bacharel em Gastronomia, cozinheira e membro da Comunidade Slow Food Alguidá Salvador, Bahia, Brasil.
O curso de Ecogastronomia, Cultura e Sustentabilidade no Mundo de Hoje foi uma atividade realizada durante o primeiro semestre de 2021, no âmbito do projeto “Alimento da Alma” contemplado no Edital Municipal de Ocupação e Dinamização dos Espaços Culturais, o primeiro a trazer a interlocução entre cultura e gastronomia, que contou com recursos da Prefeitura Municipal de Salvador/Bahia, através da Fundação Gregório de Matos.
Esta atividade foi dirigida a um grupo de 30 jovens e adultos de diferentes regiões do Brasil, com idades compreendidas entre os 19 e os 60 anos, que demonstraram grande interesse pelo assunto e tinham conhecimentos prévios de gastronomia ou nutrição.
Após nove meses de planejamento e execução, o curso ganhou vida com 42 aulas noturnas duas vezes por semana, em que cerca de 60% das sessões foram dadas por membros e ativistas das Comunidades e Fortalezas Slow Food da Bahia e da Associação Slow Food do Brasil.
Durante o curso, foram apresentados 13 produtos catalogados na Arca do Gosto, e foram realizadas cinco palestras para abordar diferentes temas afins, incluindo Slow Fish / Pesca Artesanal, Terra Madre e comida indígena tradicional, o papel da Associação Slow Food do Brasil, e a história do Slow Food no estado.
Também foram incluídas aulas com dois chefes que fazem parte da Aliança de Cozinheiros Slow Food, uma aula com uma ex-aluna da Universidade de Ciências Gastronômicas (UNISG), uma apresentação de quatro potenciais novos produtos para a Arca do Gosto (cactos, godó de banana, produtos fermentados, raças suínas e caprinas), e a participação de dois convidados reconhecidos nacionalmente, o professor Raul Lodi (Museu da Gastronomia Baiana) e o jornalista e apresentador Josimar Melo (Terroir Brasil/Food Connection).
Entre os tópicos discutidos estavam: agrotóxicos, agroecologia, erosão alimentar, soberania alimentar, fome, juventude rural, crise climática e sazonalidade dos alimentos. Foram apresentadas 5 experiências de venda direta de alimentos bons, limpos e justos da agricultura familiar e da reforma agrária que existem na cidade, bem como atividades culturais de música, teatro, dança e poesia ligadas à alimentação. Também foi editado ao final do curso o ebook Ecogastronomia: Experiências e Receitas com Produtos da Biodiversidade Baiana, que já está disponível desde 29 de Setembro.
A metodologia do curso foi baseada na educação popular e do campo para jovens e adultos, partindo do princípio de que todos são portadores de conhecimentos e da necessidade de adquirir uma atitude crítica e ativista como estudantes, profissionais da alimentação e cidadãos, enfatizando que não existe uma hierarquia entre o campo e a cidade, mas sim uma relação complementar entre eles. Considerando estes pressupostos, consolidou-se uma compreensão coletiva sobre a origem dos alimentos e o papel da agricultura familiar, das comunidades tradicionais e dos assentamentos de reforma agrária como os principais produtores de alimentos de qualidade que chegam às mesas da cidade. Foi salientado que estas famílias, além de serem produtoras de alimentos, são geradoras de cultura e arte, elementos inseparáveis na sua vida cotidiana.
As aulas decorreram sob o princípio do diálogo e da mediação entre a realidade dos estudantes (urbanos), a dos produtores (rurais), e os princípios do Slow Food. Os principais elementos apresentados pelo Slow Food foram: a aproximação entre produtores e consumidores na cidade, a reflexão crítica sobre as nossas escolhas alimentares para a vida e para o planeta, o respeito pela sazonalidade dos alimentos e a necessidade de comer localmente. Também discutiram atitudes práticas para combater o impacto do uso de agrotóxicos, a influência dos alimentos na crise climática, o acesso universal a alimentos bons, limpos e justos, a defesa das pessoas e dos seus territórios como guardiões do conhecimento, receitas, formas de conservação e proteção da nossa rica biodiversidade.
Os membros das Fortalezas e Comunidades Slow Food encontraram no curso um espaço para divulgar os seus conhecimentos, bem como, para promover e comercializar produtos como forma de reconhecimento do trabalho que fazem nos territórios.
Como resultado, os jovens e adultos presentes saíram com uma consciência crítica aplicada à metodologia Slow Food no mundo, e muitos já estão realizando ações práticas com o movimento em Salvador.
As aulas e a preparação de receitas tiveram um grande impacto na forma de percepção dos alimentos pelos alunos, contribuindo para a expansão da diversidade gastronômica que caracteriza o estado da Bahia. No final do curso, foi enviado um formulário de avaliação aos estudantes, 84,6% dos quais responderam que o curso tinha superado as suas expectativas. Além disso, todos os estudantes mostraram interesse em continuar o curso.
Estamos atualmente à espera de um novo edital, para que em 2022 possamos realizar a segunda edição do curso e esperamos alcançar um público mais vasto e diversificado que fará da ecogastronomia uma prática de transformação planetária, reforçando os valores Slow Food na nossa cidade.