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Projeto Sociobiodiversidade Amazônica: Arca do Gosto, Ecogastronomia e Colheita do guaraná

Entre os dias 12 a 26 de novembro de 2022, a equipe do Projeto Sociobiodiversidade Amazônica (PSA) esteve na Terra Indígena Andirá Marau e na Brasileia, comunidade vizinha a TI, para a sequência de atividades deste projeto. Tivemos a oportunidade de acompanhar a colheita do guaraná (waraná na língua Sateré) junto com os/as agricultores/as da Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadi (AAFAU). Também demos um retorno para as comunidades sobre o relatório do campo 1, fomentamos a criação do Círculo de Mulheres, promovemos uma oficina de Educomunicação (especialidade do nosso consultor Bruno Franques), seguimos o desenvolvimento do Protocolo de Sistemas Agrícolas e conversamos sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Bastante coisa acontecendo em campo!

Dinâmica “Trama de relações”, na abertura das atividades na Ilha Michiles. Foto: Bruno Franques
Reflexão sobre as atividades propostas. Zhamis, Bruno, Josibias (Tuxaua) e Sigliane. Comunidade da Ilha Michiles. Foto: Agnaldo Michiles
Roda de conversa sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Comunidade da Brasiléia. Foto: Paulo Messias

A Arca do Gosto é um programa do Slow Food que busca reconhecer, valorizar e catalogar alimentos ameaçados de extinção, seja essa biológica e/ou cultural, ou seja, espécies e modos de fazer em risco de desaparecer. No momento, há mais de 5.000 produtos catalogados em todo mundo, mais de 200 produtos no Brasil e, na Amazônia, aproximadamente 50. A catalogação ocorre por meio de indicações e preenchimento de fichas com informações detalhadas sobre os produtos, o que este projeto pretende fazer para incluir alguns alimentos das comunidades parceiras no programa. Por meio dos métodos aplicados, chegamos a seis indicações e ressaltamos duas que possuem algo em comum: o consumo de insetos nas comunidades! A formiga “sahay” e o bicho de gongo foram indicações das comunidades Ilha Michiles e Brasileia, respectivamente. 

Bicho de Gongo, um dos alimentos indicados para a Arca do Gosto na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques

Um ponto interessante dessas atividades de campo tem sido o preparo das refeições. Nosso colega e consultor Zhamis Benício, da Comunidade Slow Food Manaus pelo legado alimentar da Amazônia, tem contribuído com o método de trabalho e diversas receitas ao longo das atividades. Diversos comunitários e comunitárias têm sido convidados a participar e compartilhar dessas aventuras ecogastronômicas. A participação masculina tem sido incentivada, em especial nos momentos de reunião das mulheres, denominado Círculo de Mulheres.

Agradecimentos antes da refeição, com mesa farta e alimentos tradicionais. Comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Degustações da oficina de Ecogastronomia, em Peniel do Areal. Foto: Bruno Franques
Alimentação tradicional após uma oficina de Ecogastronomia, na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Pescadores após uma madrugada de trabalho, na Ilha Michiles. Foto: Bruno Franques

A partir da aplicação de algumas metodologias da Caixa de Ferramentas de Gênero da Agência de Cooperação Técnica da Alemanha no Brasil (GIZ), a equipe de campo do PSA do Amazonas propôs e estimulou as mulheres a criarem um espaço seguro de interação, apoio, acolhimento, articulação política e desenvolvimento de projetos. O Círculo de Mulheres foi rapidamente apropriado por elas, que passaram a desenvolvê-lo de acordo com suas próprias perspectivas, de maneira autônoma e potente. Os resultados já começam a aparecer e a participação feminina nas atividades tem ganhado força com interações cada vez mais intensas.

Ferramenta 1 da GIZ, na comunidade Renascer, em Peniel do Areal. Foto: Bruno Franques

As Oficinas de Educomunicação foram promovidas por Bruno Franques, que incorporou alguns de seus métodos de trabalho na proposta do PSA. Com exercícios de elaboração narrativa a partir das diversas camadas da percepção de identidade de cada um, em interação com o ambiente e com os demais participantes, foram abordados importantes aspectos dos elementos constituintes das mensagens midiatizadas. Tais reflexões contribuem de um lado para que a comunidade possa ser mais crítica ao modelo proposto pela indústria cultural e de outro, que estejam aptos a criarem narrativas estratégicas e envolventes que valorizem seus modos de vida e divulguem seus produtos.

Outro ponto importante dessa ida a campo foi a participação do Bruno e Zhamis na colheita do guaraná com a AAFAU.  Além de prestarmos um apoio direto durante este período crítico para a comunidade, nossa equipe pôde tirar boas fotos, vivenciar este momento de colheita tão importante, compreender melhor sobre o beneficiamento do guaraná e trazer diversas impressões sobre o processo, que colaboraram para uma melhor compreensão das práticas desses sistemas agrícolas.

Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Zhamis Benício
Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Zhamis Benício
Seleção de grãos pós-torragem para o preparo do bastão de guaraná. Seu Simão, da comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Pilhagem e modelagem do bastão do guaraná, na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques

Esta interação tem gerado boas expectativas e acreditamos que poderemos “colher bons frutos desse plantio”!

A Associação Slow Food do Brasil estabeleceu uma parceria para o desenvolvimento do projeto Sociobiodiversidade Amazônica com o projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Este projeto acontece nos estados do Amazonas, Acre e Pará ao longo de 2022 e 2023.

Projeto Sociobiodiversidade Amazônica: Arca do Gosto, Ecogastronomia e Colheita do guaraná

Date fevereiro 16, 2023
Entre os dias 12 a 26 de novembro de 2022, a equipe do Projeto Sociobiodiversidade Amazônica (PSA) esteve na Terra Indígena Andirá Marau e na Brasileia, comunidade vizinha a TI, para a sequência de atividades deste projeto. Tivemos a oportunidade de acompanhar a colheita do guaraná (waraná na língua Sateré) junto com…

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Aliança repudia corte de recursos federais para a promoção da saúde e alimentação saudável em 2023

texto originalmente publicado no site da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável

A Aliança elaborou uma nota de denúncia e repúdio a respeito do corte de recursos federais para promoção da saúde em 2023 como descrito no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado pelo governo de Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional. Clique aqui para acessar a versão diagramada, ou leia abaixo na íntegra:

NOTA EM REPÚDIO AO CORTE DE RECURSOS FEDERAIS PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE E ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL EM 2023

A Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável vem a público denunciar e repudiar o drástico corte de recursos para 2023 que o governo Bolsonaro pretende impor à área de Promoção da Saúde, que inclui os diferentes programas e ações de alimentação e nutrição, do Ministério da Saúde. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado pelo Ministério da Economia ao Congresso Nacional prevê um corte de 61% do orçamento para 2023 das ações de Promoção da Saúde, Alimentação e Nutrição e Atividade Física, reduzindo o orçamento de R$ 175 milhões solicitados pelo Ministério da Saúde para menos de R$ 68 milhões. E enquanto corta recursos da promoção da saúde, o governo brasileiro segue concedendo benefícios fiscais bilionários para a indústria de refrigerantes na Zona Franca de Manaus, produto associado a doenças que colocam em risco  a vida, o bem-estar e a capacidade de trabalho da população brasileira. 

Para as ações de  alimentação e nutrição, o orçamento previsto destina apenas R$ 25 milhões de reais, um corte drástico dos atuais – e já exíguos – R$ 66 milhões em 2022. Para a devida compreensão sobre a insensatez do corte, o valor mais baixo que o orçamento da área atingiu nos últimos 10 anos foi de R$ 45 milhões em 2011, quase o dobro do previsto para 2023 sem considerar a inflação.

Com este corte de recursos, serão inviabilizados programas como a Estratégia Nacional de Prevenção e Cuidado à Obesidade Infantil – PROTEJA, que repassa recursos para os municípios desenvolverem um pacote de intervenções no âmbito do SUS e em parceria com outros setores (como educação, assistência social, agricultura, esportes, entre outros) para promover ambientes e cidades que possibilitem escolhas de vida mais saudáveis para crianças e famílias brasileiras; além de promover a identificação precoce da obesidade infantil e criar estratégias para melhorar o cuidado a essas crianças. Os valores investidos pelo PROTEJA já são baixos, e o corte orçamentário irá inviabilizá-lo por completo, interrompendo o atendimento a 2 milhões de crianças menores de 10 anos nos 1.320 municípios atendidos. Importante mencionar que o PROTEJA acabou de conquistar um prêmio internacional, recebido pelo próprio Ministro da Saúde, que na ocasião anunciou o valor e o apoio à Estratégia. 

Outras ações que serão impactadas com o corte de recursos para Alimentação e Nutrição são a 2a fase do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), que avalia as práticas de aleitamento materno, de consumo alimentar, do estado nutricional, e as deficiências de micronutrientes de crianças menores de cinco anos. Dados fundamentais para definir, reorientar e reavaliar programas existentes de proteção e promoção da saúde das nossas crianças. Também ficam inviabilizadas inúmeras parcerias com universidades e organismos internacionais para implementação do Guia Alimentar para a População Brasileira e para Crianças Menores de Dois Anos, para elaboração de materiais e ações de educação permanente voltadas a profissionais da saúde, e para o monitoramento da redução de sal e açúcar em alimentos industrializados. O apoio financeiro aos municípios de médio e grande porte, existente desde 2006, para ações de Alimentação e Nutrição também estará comprometido. 

Outro corte significativo atinge as políticas de promoção da atividade física, um direito social, tema prioritário da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) e no Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis no Brasil (2021-2030), comprovadamente um fator de proteção para doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial e obesidade. O Programa Academia da Saúde (PAS), criado em 2011, será afetado. O Ministério da Saúde custeia mensalmente ações em mais de 1.400 municípios, atendendo uma população de mais de 68 milhões de brasileiros e brasileiras. O atendimento não será mantido com o corte orçamentário previsto no PLOA, dos atuais R$ 51 milhões de reais, para menos de R$ 20 milhões em 2023. 

A implementação de políticas de promoção da saúde no âmbito da atenção primária à saúde e para atenção a doenças crônicas não transmissíveis também foram reduzidas de R$ 58 milhões para 22 milhões. Vale dizer que estas enfermidades são um dos principais desafios da saúde no país e no mundo. 

Com base nestas informações, que são públicas e estão disponíveis no Painel do Orçamento Federal, a Aliança conclama o Congresso Nacional a não aprovar o PLOA. E denuncia que o projeto de lei enviado pelo governo Bolsonaro irá inviabilizar a promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas no próximo ano, o que terá impactos severos na saúde e condições de vida, já ameaçadas, da nossa população.

Brasil, 29 de setembro de 2022.

Imagem: maopode

Aliança repudia corte de recursos federais para a promoção da saúde e alimentação saudável em 2023

texto originalmente publicado no site da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável A Aliança elaborou uma nota de denúncia e repúdio a respeito do corte de recursos federais para promoção da saúde em 2023 como descrito no Projeto de Lei Orçamentária Anual…

Infográficos do projeto Sociobio Baiana

Dentro do projeto Slow Food na defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana, elaboramos uma série de 10 infográficos abordando uma série de temas e ferramentas para facilitar o entendimento da atuação do movimento Slow Food em nosso país. São 10…

Primeiro encontro oficial da equipe de Coordenação do SFYN Academy Global aconteceu no Brasil

A equipe de Coordenação do SFYN Academy Global se reuniu na cidade de Curitiba – Paraná, no sul do Brasil, durante a primeira semana de junho para sua primeira reunião oficial. O grupo que vem trabalhando online durante os  últimos quatro anos para promover a metodologia do SFYN  Academy, participou de um programa intenso de trabalho, palestra e visitas de campo.

O encontro aconteceu no Brasil, um dos países onde a rede jovem do Slow Food representa um grande exemplo de  movimento de base.  Além disso, o atual sistema alimentar brasileiro por um lado tem toda a riqueza da sociobiodiversidade, tradições provenientes de milhares de culturas diferentes e por outro é  um sistema tomado por uma  indústria alimentar cruel, com muitos transgênicos e grandes cadeias produtivas. No entanto, todos os grandes eventos organizados pelo SFYN Brasil, como a Disco Xepa e o SFYN  Academy  são sempre auto organizados, auto financiados e apoiados por voluntários locais que oferecem toda sua paixão e engajamento para um futuro melhor.  A escolha do Brasil foi pensada com o objetivo de transferir para as próximas gerações o know-how e a paixão que a rede Slow Food brasileira tem.

Assista aqui a promo do Toolkit 

https://youtu.be/AqKxHoLWEEo

Entre em contato com os Coordenadores:  http://www.sfynacademy.com/open-a-sfyn-academy/

O principal objetivo do encontro foi criar um toolkit para promover novos SFYN Academies no mundo. Os 5 coordenadores : Arjanne Bode do SFYN Holanda, Elia Carceller do SFYN Alemanha, Elphas Masanga do SFYN Quênia,  Andrea Bolognin do SFYN Itália e Gabriela Bonilha do SFYN Brasil trabalharam juntos para produzir uma série de vídeos para ajudar os futuros coordenadores a iniciar seus SFYN Academies locais, e assim difundir a visão de todos os Academies já existentes e portanto, a filosofia do Slow Food. Além disso,  a equipe  preparou uma atividade do  SFYN Academy  para ser realizada no Terra Madre 2022, junto com o lançamento do  toolkit. 

Evento UTFPR
Visita Abelha Brasil

Como parte do programa, foi realizado um evento na Universidade Tecnológica Federal do Paraná onde os coordenadores do SFYNA foram convidados pela professora Elisangela Lobo a compartilhar a visão do Slow Food sobre um sistema alimentar sustentável, sobre o desperdício de alimentos e discutir os tópicos com estudantes e professores. Para ter uma visão local  do movimento Slow Food na região de Curitiba, a equipe de coordenadores também participou de várias visitas e saídas a campo. Desde um encontro com Benedito Uczai, da Abelha Brasil, um meliponicultor Slow Food, que compartilhou seus conhecimentos sobre abelhas nativas brasileiras sem ferrão, como também uma visita técnica à fazenda urbana de Curitiba com explicação sobre as plantas alimentícias não convencionais  (PANCs), um almoço e conversa com a chef Gabriela Carvalho, que aplica a filosofia Slow Food em seu restaurante Quintana. 

Visita Restaurante Quintana

A experiência da rede brasileira tem mostrado um bom exemplo de organização horizontal e aberta, capaz de criar um sistema alimentar bom, limpo e justo para todos, alcançando pessoas de várias origens e idades. E além disso, o encontro da coordenação do SFYN Academy Global foi um sucesso e se demonstrou muito importante para o fortalecimento da rede e continuidade dos trabalhos. 

Sobre o SFYN Academy

O Slow Food Youth Network (SFYN) Academy é um modelo educacional que oferece um programa interdisciplinar sobre os sistemas alimentares, desenvolvido para capacitar e conectar jovens agentes de mudança.

Saiba mais: http://www.sfynacademy.com

Primeiro encontro oficial da equipe de Coordenação do SFYN Academy Global aconteceu no Brasil

A equipe de Coordenação do SFYN Academy Global se reuniu na cidade de Curitiba – Paraná, no sul do Brasil, durante a primeira semana de junho para sua primeira reunião oficial. O grupo que vem trabalhando online durante os  últimos quatro anos…

Manifestação contra crédito da IFC para Louis Dreyfus Company do Brasil para expansão de soja e milho no Cerrado

Slow Food Brasil se une a mais de 225 outras organizações em carta conjunta direcionada aos diretores da IFC (Corporação Financeira Internacional, na sigla em inglês, ligada ao Banco Mundial) para votarem NÃO sobre crédito de 200 milhões de dólares a Louis Dreyfus Company (LDC), uma das maiores corporações do agronegócio no mundo, agravando ainda mais a devastação e os conflitos de terras no Cerrado brasileiro.

A carta originalmente publicada pela Friends of the Earth, está disponível em inglês, espanhol e português.

Leia a versão em português da carta na íntegra:

31 de maio de 2022


Prezados Diretores Executivos da IFC,


A IFC propôs empréstimos à Louis Dreyfus Company Brasil para apoiar a compra de soja e milho: Projeto 44281 As organizações abaixo assinadas instam a IFC a não conceder o empréstimo proposto de US$200 milhões à Louis Dreyfus Company Brasil (LDC) para a compra de soja e milho produzidos no bioma do Cerrado do Brasil, a savana mais biodiversa do mundo que está sendo fortemente ameaçada e já perdeu a metade de sua vegetação nativa para o agronegócio.

Acreditamos que este investimento, que causa riscos ambientais e sociais significativos, deve, no mínimo, ser classificado como um empréstimo de Categoria A, requerendo uma revisão detalhada do impacto ambiental e uma consulta às partes interessadas. Observamos com receio que a LDC não possui um sistema completo de rastreabilidade e que sua política de desmatamento zero será aplicada totalmente apenas até o final de 2025. Assim, ganha relevância a importância de ter uma análise ambiental e social mais aprofundada antes da consideração do empréstimo. Além disso, este financiamento proposto vai contra o apoio prometido da IFC para alinhar seus empréstimos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris.

Nossas preocupações surgem em três diferentes áreas:

● Violações de direitos humanos e conflitos de terras na região onde opera a LDC;

● A produção de monoculturas de soja e milho com agrotóxicos intensivos é uma das principais causas do desmatamento, impacto climático e degradação ambiental no Cerrado;

● Em vez de alimentar diretamente as pessoas, grande parte da soja e do milho comprados com a ajuda desse empréstimo provavelmente será usada para alimentar a criação industrial de animais no exterior e no Brasil, apesar dos principais impactos à saúde pública, meio ambiente e bem-estar animal decorrentes dessa prática.

  1. A intensa expansão da produção de monocultura de soja e a consequente especulação de terras no Cerrado durante os últimos anos tem produzido violações aos direitos humanos, incluindo trabalho infantil/trabalho forçado, grilagem de terras e conflitos de terras em comunidades indígenas e tradicionais.

    • Um relatório próximo a ser publicado por uma organização brasileira de pesquisa documentou violações ambientais e conflitos de terras com comunidades tradicionais vinculados às operações da LDC na região de Matopiba, no Cerrado.

    • Um relatório publicado em abril de 2022 por Amigos da Terra Estados Unidos e a Rede Social de Justiça e Direitos Humanos destaca os principais problemas envolvidos na produção de soja no Cerrado Brasileiro. A inflação dos preços da terra, a destruição de ecossistemas de alta biodiversidade e a apropriação de terras, incluindo a expropriação da terras de indígenas e camponeses, são alguns dos problemas destacados, forçando a estas comunidades a migrar a outras regiões para buscar trabalho.

    • Uma pesquisa da Rede Social revela os vínculos entre a especulação financeira, as terras agrícolas e o desmatamento de empresas do agronegócio no Cerrado, produzindo impactos devastadores nas comunidades locais e na biodiversidade. Este artigo de Chain Reaction Research documenta como a BrasilAgro, uma empresa imobiliária rural brasileira e produtora de soja que vende este cereal e milho a grandes comerciantes de commodities, incluindo a LDC, “planeja transformar pelo menos 10.000 hectares de vegetação nativa do Cerrado em produção pecuária e de grãos, inclusive com a perfuração de vários poços de grande capacidade”.

    • A LDC foi acusada de violações ambientais em um relatório lançado em 2022 pela ACT. O documento revela casos de abuso no uso de agrotóxicos em Lagoa da Prata, no estado de Minas Gerais, bem como danos ecossistêmicos em Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul, envolvendo a comunidade guarani Kaiowá de Laranjeira Nhanderú.

    • Este projeto não leva em consideração as preocupações das comunidades e dos atores comunitários afetados, em uma região problemática que apresenta significativos conflitos de terra, desafios ambientais, de saúde humana e de direitos trabalhistas. No site da IFC não consta nenhuma informação sobre o envolvimento específico dos atores comunitários no projeto e indica que não é aplicável a este projeto um “amplo apoio da comunidade”.

    • A LDC é um grande investidor da Ferrogrão, uma ferrovia proposta para facilitar as exportações de soja e outros produtos do agronegócio no Brasil. A LDC não apenas financiou os estudos de viabilidade originais, mas conceituou o projeto. Ferrogrão exacerbará os já tensos conflitos pela terra com as comunidades indígenas, particularmente com os povos Munduruku, Apyacá e Kayabi. O projeto considera a construção de uma ponte sobre o rio Xingu para projetar uma rodovia que “atravessaria 80 quilômetros dentro do território do povo Kayapó (na terra indígena Capoto Jarina) e da terra indígena Xingu” e “cortaria de leste a oeste 26 milhões de hectares de floresta contínua entre os estados de Mato Grosso e Pará, abrangendo 21 terras indígenas e nove unidades de conservação.”
  2. A produção de monoculturas soja com aplicação intensiva de agrotóxicos no Cerrado é uma das principais causas do desmatamento, efeito estufa e degradação ambiental

    • Segundo um relatório da Chain Reaction Research, os produtores de soja, incluindo os que trabalham com a LDC, foram responsáveis por 28% dos mais de 700.000 hectares do total de terras desmatadas no Cerrado em 2020. O documento identifica mais de 20.000 hectares de terra expostas ao risco de desmatamento da LDC.

    • site da IFC afirma que as operações de soja/milho da LDC Brasil “estão localizadas nas principais áreas de produção, longe das atuais fronteiras principais da expansão agrícola que estão causando a conversão natural do habitat.” No entanto, consideramos que o sistema de auditoria proposto pela LDC é insuficiente para garantir que terras recentemente desmatadas sejam excluídas da cadeia de suprimentos da empresa, sendo que em 2020 um total de 207.813 hectares da superfície desmatada no Cerrado encontrava-se em fazendas que já possuem áreas plantadas de soja.

    • Uma pesquisa publicada no Rapid Response Monitoring System mostra que a Calyx Agro, subsidiária da LDC, esteve implicada em casos de desmatamento e incêndios florestais na Fazenda Esplendor e na Fazenda Novo México, em Jaborandi, no estado da Bahia, desmatando 3.737 hectares entre 14 de fevereiro de 2020 e 29 de maio de 2020. Posteriormente, a NASA detectou incêndios nas fazendas em 3 de julho de 2020.

    • Nos últimos cinco anos, 76% da expansão da fronteira agrícola no Cerrado aconteceu em áreas onde anteriormente existia vegetação nativa única, mas atualmente foram desmatadas para plantação de monoculturas industriais de soja. O apoio financeiro a este projeto indiretamente tolera e apoia os impactos devastadores dessa prática extrativista.

    • investimento da LDC na Ferrogrão aumentará o desmatamento na Amazônia e facilitará a expansão da produção brasileira de soja através de novos meios de transporte voltados para a entrega de alimentos em fazendas industriais insustentáveis em outros países.

    • As referências bibliográficas científicas reconhecem amplamente que a produção de monoculturas com agrotóxicos intensivos é prejudicial para os solos, a água e a biodiversidade, recursos fundamentais para o desenvolvimento da agricultura e a produção de alimentos suficientes para as gerações futuras.

    • Devido aos diversos impactos na saúde humana e no meio ambiente, conforme documentado neste detalhado relatório do governo alemão, a produção de vastas monoculturas de soja contraria muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo o ODS 1, 6, 13 e 15.

    • relatório Perspectiva global do uso da terra 2, publicado em abril de 2022 pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), identifica as “monoculturas intensivas em larga escala” como um elemento-chave na geração de emissões de gases de efeito estufa. Este relatório do governo alemão documenta o significativo desmatamento e os impactos climáticos associados à produção de soja no Brasil, bem como critica a meta anual de redução de gases de efeito estufa de 1% da LDC como inteiramente insuficiente para atingir as metas de Paris de 2030.

    • Além das emissões de gases de efeito estufa, um estudo recente publicado no periódico Nature identificou que a produção de monoculturas na região do Cerrado é uma grande ameaça à estabilidade climática, produzindo escassez de água e temperaturas mais altas, que podem ser “fatores limitantes para o desenvolvimento da soja” e “podem colocar em risco a produção de alimentos e a estabilidade do bioma”.

    • uso da terra para a produção de soja pode resultar em atividades agrícolas menos lucrativas, como a pecuária, que se desloca para áreas florestais na Amazônia e no Cerrado, onde as árvores são derrubadas.
  3. Grande parte das compras de soja e milho financiadas pela IFC provavelmente será usada para alimentar animais de criação industrial no exterior e no Brasil, e não como alimento para consumo humano. Há muitas razões pelas quais a IFC não deve bancar a produção pecuária industrial, incluindo o financiamento das monoculturas de soja e milho que permitem estas operações.

    • 77% da soja mundial é usada como ração animal, principalmente no setor intensivo de suínos e aves. O financiamento de alimentos para animais em tempos de grande escassez de grãos para consumo humano direto, como será o caso esse ano, contradiz o ODS 2 de acabar com a fome.

    • Parte da produção de soja e milho da LDC pode ser usada para alimentar uma indústria pecuária
    altamente insustentável no Brasil, responsável pelo intenso desmatamento e pela metade das emissões de gases de efeito estufa no país. A pecuária industrial, incluindo a produção de matérias-primas, desencadeia a concentração da terra e o despovoamento rural, produzindo efeitos especialmente negativos para as mulheres, que são privadas de sua renda, segurança alimentar e funções tradicionais como guardiãs do conhecimento e conservacionistas.

    • A produção pecuária industrial consome 40% da produção mundial de cereais (trigo, milho, cevada), tornando de forma muito ineficiente este alimento nutritivo em carne e leite e afetando a segurança alimentar. Se os cereais usados como ração animal fossem usados para consumo humano direto, mais 3,5 bilhões de pessoas poderiam ser alimentadas a cada ano. Produzir safras comestíveis para alimentação de animais promove o uso imensamente perdulário da terra e da água

    • A enorme demanda da pecuária industrial por grãos tem alimentado a intensificação da produção agrícola. Este cenário, com o desenvolvimento de monoculturas e a utilização de agrotóxicos, tem produzido a degradação do solo, perda de biodiversidade, poluição e uso excessivo de água e poluição do ar. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) afirma que o alto rendimento na agricultura intensiva pode prejudicar os serviços ecossistêmicos e, portanto, ” a produção de alimentos é seriamente afetada, trazendo como resultado uma espiral descendente viciosa”. Os empréstimos propostos pela IFC contribuirão indiscutivelmente para essa espiral descendente.

    • Em condições de lotação e estresse, a produção pecuária industrial contribui para o surgimento,
    propagação e amplificação de patógenos, alguns dos quais são zoonóticos. Um estudo de 2022 afirma que “as cepas de gripe pandêmica […] podem surgir em grandes fazendas”.

    • uso regular de antibióticos destinados ao uso humano pelos produtores industriais de carne tem
    contribuído para o surgimento de uma crise de resistência a antibióticos responsável por 700.000 mortes anuais a nível mundial.

    • A produção industrial utiliza práticas desumanas (como gaiolas e caixas de gestação) e impede que os animais expressem seus comportamentos naturais.

    Em conclusão, instamos a IFC a não aprovar este pacote de empréstimos, pois perpetuaria a produção de monoculturas de soja e milho em larga escala com o uso intensivo de agrotóxicos no Brasil, promovendo:

    ❖ Especulação fundiária, causando aumento dos preços da terra e conflitos com as comunidades tradicionais;

    ❖ Aumento das emissões de gases de efeito estufa, destruição ambiental e degradação dos recursos do solo, ar e água, prejudicando a saúde humana e afetando a produção de alimentos da comunidade local;

    ❖ Desmatamento adicional e/ou desmatamento de habitat nativo dentro do Cerrado e outros biomas-chave.

    Além disso, este empréstimo apoiará o fornecimento de alimentos para animais para a produção pecuária industrial, prática ambientalmente destrutiva, em vez de destinar estes cereais para consumo humano direto num momento em que existe um consenso científico claro sobre a necessidade de: 1) Mudar para dietas de menor consumo de carne em populações com alto consumo de produtos de origem animal; e 2) Mudar para sistemas regenerativos bem gerenciados, como a agroecologia e a agricultura orgânica, sistemas alimentares que cumpram com as capacidades de carga do planeta e onde os animais de criação estejam em condições saudáveis que permitam minimizar o uso de antibióticos e o risco de zoonoses.

    Atenciosamente,

    Brasil

    Arca Brasil
    Alianima
    Amigos da Terra Brasil
    Animal Equality Brasil
    Associação Mercy For Animals Brasil
    Ecologia e Ação
    Fórum da Amazônia Oriental
    Federação de Órgãos para Assistência Social e
    Educacional
    Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal
    Instituto Comida do Amanhã
    Instituto Maíra
    Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
    Sinergia Animal
    Slow Food Brasil
    Sociedade Vegetariana Brasileira

    Estados Unidos
    350 Seattle
    50by40
    A Growing Culture
    A Well-Fed World
    Action Aid USA
    Amazon Watch
    Agroecology Project
    Animal Legal Defense Fund
    Better Food Foundation
    Biggest Little Plant Pod
    Brighter Green
    Center for Biological Diversity
    Center for Food Safety
    Climate Healers
    Community Alliance for Global Justice
    Compassion in World Farming USA
    CT General Assembly District 146
    Direct Action Everywhere
    Eat for the Earth
    Encompass
    Endangered Species Coalition
    Factory Farming Awareness Coalition
    Fair Start Movement
    Farm Forward
    Farmworker Association of Florida
    Food Revolution Network
    Gender Action
    Healthy Kids, Happy Planet!
    In Defense of Animals
    Institute for Agriculture and Trade Policy
    Jewish Veg
    Lady Freethinker
    Lantern Publishing and Media
    Laurie M. Tisch Center for Food, Education & Policy,
    (Teachers College Columbia University)
    Maryknoll Office for Global Concerns
    Mothers of the Amazon
    Oceanic Preservation Society
    Our Planet. Theirs too.
    Reducetarian Foundation
    Planetary Health Collective
    Roots of Change
    Salish coast land and marine conservation society
    SEED: Strategies for Ethical and Environmental
    Development, Inc.
    Seeding Sovereignty
    Self
    Sentient Media
    Slow Food USA
    The Oakland Institute
    The Raven Corps
    True Health Initiative
    Vegetarians in New Energy Sources
    Vegetarian Resource Center
    Waking Justice
    Washington Brazil Office (WBO)
    Zero Hour

    América Latina
    Acción Ecológica (Ecuador)
    Asoc. Red de coordinación en biodiversidad (Costa
    Rica)
    Asociacion Arba (Peru)
    Asociación Unión de taller 11 de septiembre (Bolivia)
    Cehprodec (Honduras)
    Censat Agua Viva – Amigos de la Tierra (Colombia)
    Centro de estudios HEÑÓI (Paraguay)
    CESTA Friends of the Earth (El Salvador)
    Comité de Defensa Ambiental de Cabrero (Chile)
    Consejo de mujeres y biodiversidad (Guatemala)
    Derecho Ambiente y Recursos Naturales DAR (Peru)
    Eco embajador el Salvador centro América (El Salvador)
    Fauna Querida (Argentina)
    Fundación ASLA (Nicaragua)
    Fundacion Tremendas (Chile)
    Fridays for Future (Chile)
    Grupo Semillas (Columbia)
    Latin Association of Integral Human Settlements
    (Bolivia)
    Ecosistemas (Chile)
    Maule Itata Coastkeeper NGO (Chile)
    Proyecto Green (Chile)
    Red de Observadores Ciudadanos A.C. (Mexico)
    Red Nacional de Jóvenes de Ambiente (Colombia)
    Rio Mapacho Waterkeeper (Peru)
    Voicot (Argentina)
    UNITE 2030 Venezuelan Delegate
    Centro de Derechos Humanos Zeferino Ladrillero
    (Mexico)
    Biofabrica Organitol (Colombia)

    Reino Unido
    Catholic Agency for Overseas Development
    Compassion in World Farming International
    EcoNexus
    Environmental Justice Foundation
    Green Living
    Planet Tracker
    Recourse
    Soil Association
    The Bretton Woods Project

    Europa
    Agora Association (Turkey)
    Aktionsgemeinschaft Solidarische Welt ASW (Germany)
    Amigos de la Tierra (Spain)
    BankTrack (Netherlands)
    Bomenstichting Achterhoek (Netherlands)
    Campaigns and Activism for Animals in the Industry
    (Bulgaria)
    Center for Climate Crime Analysis (Netherlands)
    Christians for Animals (Poland)
    Climate Alliance of European Cities with Indigenous
    Rainforest Peoples (Germany)
    Corporate Europe Observatory (Belgium)
    Dyrenes Alliance (Denmark)
    Deutscher Tierschutzbund e.V. (Germany)
    Environmental Action (Germany)
    Ethical Farming Ireland CLG (Ireland)
    FIAN (Sweden)
    Forum Ökologie & Papier (Germany)
    FOUR PAWS International (Austria)
    Friends of the Earth Sweden
    Friends of the Earth Belgium
    GAIA (Belgium)
    Just Finance International (Netherlands)
    Menschen für Tierrechte – Bundesverband der
    Tierversuchsgegner e.V. (Germany)
    NOAH (Denmark)
    Nevidimi Zhivotni (Invisible Animals) (Bulgaria)
    Profundo (Netherlands)
    Public Eye (Switzerland)
    Real Food Systems.org (Switzerland)
    Rettet den Regenwald e.v. (Germany)
    Slow Food International (Italy)
    Transform!Italia (Italy)
    Uniterre (Switzerland)
    Urgewald e.V. (Germany)
    Vegan Sustainability (Ireland)
    Vegetarian Society of Denmark (Denmark)
    XR Milano (Italy)

    África
    Aalem for Orphan and Vulnerable Children, Inc.
    (Liberia)
    Abibinsroma Foundation (Ghana)
    African Centre for Biodiversity (South Africa)
    Association pour l’Integration et le Developpement
    Durable au Burundi (Burundi)
    Biowatch South Africa
    Coalition of African Animal Welfare Organisations
    (South Africa)
    Compassion in World Farming (South Africa)
    Daami Youth Development Organization (Somalia)
    Haki Nawiri Afrika (Kenya)
    Improved Right and Health Intervention for Vulnerable
    Person’s in Nigeria
    Mazingira Institute (Kenya)
    Nigerian Society for Environmental Conservation
    NGO Asrad (Mali)
    SUHODE Foundation (Tanzania)
    The Humane Education Trust (South Africa)
    Uganda Vegan Society
    Witness Radio (Uganda)
    Young African Change Makers (Cameroon)
    Zambia Climate Change

    Ásia
    All India Union of Forest Working People AIUFWP
    (India)
    Animal Rights Center (Japan)
    Animals Don’t Speak Human (Indonesia)
    Association For Promotion Sustainable Development
    (India)
    Centre for Research and Advocacy, Manipur (India)
    Community Resource Centre (Thailand)
    Environics Trust (India)
    Environment & Animal Society of Taiwan
    Environmental Protection Society (Malaysia)
    Food Sovereignty Alliance (India)
    Internacional Indigenous Peoples Movement for Selfdetermination and Liberation (Philippines)
    JPIC Kalimantan (Indonesia)
    Oyu Tolgoi Watch (Mongolia)
    Right to Food campaign (India)
    Root The Future (Thailand)
    Roots for Equity (Pakistan)
    The 14% Project (Malaysia)
    Timuay Justice and Governance (Philippines)
    Youngo (Nepal)
    Australia and New Zealand
    Animals Aotearoa (New Zealand)
    Animals Australia
    Australian Food Sovereignty Alliance
    Australian Vegetarian Society
    The Lentil Intervention (New Zealand)

    Canadá
    Animal save movement
    Greenpeace Canada
    Manitoba Animal Save
    University of British Columbia

    Internacional
    Indigenous Peoples Global Forum for Sustainable
    Development
    Inclusive Development International
    GRAIN
    Society for International Development
    Vegan International
    World Climate Council
    World Federation for Animals

    CC.
    Tomasz Telma, Senior Director, Manufacturing, Agribusiness and Services, International Finance Corporation (IFC)
    Mary Porter Peschka, Director, ESG Sustainability Advice & Solutions Department, IFC
    Tania Kaddeche, Head of Manufacturing, Agribusiness and Services (MAS), IFC
    Vivek Pathak, Global Head, Climate Business IFC

Manifestação contra crédito da IFC para Louis Dreyfus Company do Brasil para expansão de soja e milho no Cerrado

Slow Food Brasil se une a mais de 225 outras organizações em carta conjunta direcionada aos diretores da IFC pela NÃO aprovação de crédito de U$200 mi a LDC, o que agravaria ainda mais a devastação e os conflitos de terras no…

IPHAN realiza o II Encontro do Patrimônio Agroalimentar Brasileiro

Gratuito e aberto ao público, evento reúne lideranças quilombolas do Vale do Ribeira para série de rodas de conversa no sábado, 14 de  maio, no Mercado de Pinheiros, em São Paulo

Patrimônio cultural do Brasil registrado pelo Iphan, o Sistema Agrícola Tradicional dos Quilombos do Vale do Ribeira é o tema da segunda edição do Encontro do Patrimônio Agroalimentar Brasileiro, que acontece no sábado, 14 de maio, no Mercado de Pinheiros, em São Paulo. 

Se o primeiro encontro, em outubro de 2019, reuniu também representantes de outros bens culturais formalmente reconhecidos pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ligados a nossas tradições culinárias (ligados ao Modo Tradicional de Fazer Queijo de Minas, ao Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro e ao Ofício das Baianas do Acarajé), nesta segunda edição o foco estará exclusivamente no Vale do Ribeira.

Em uma sequência de três rodas de conversa, o evento, gratuito e aberto ao público, trará lideranças quilombolas para falar das experiências na região e especialmente sobre os efeitos da pandemia para a comunidade. A Feira de Sementes (vencedora, em 2019, do prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Iphan, maior premiação do patrimônio cultural brasileiro) e o trabalho da Cooperquivale (Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira) estarão entre os assuntos abordados em bate-papos seguidos por degustação de produtos típicos da região e uma receita preparada com eles. 

O II Encontro do Patrimônio Agroalimentar: Promovendo Saberes e Práticas dos Quilombos do Vale do Ribeira começa às 11h e tem produção do Instituto Brasil a Gosto e parceria do Instituto Socioambiental, Associação Slow Food do Brasil e Instituto ATÁ. 

Veja, abaixo, a programação:

11:00 – 11:30 – Abertura – Comida e patrimônio: Qual a importância do registro das nossas tradições para o futuro da alimentação?
IPHAN São Paulo

12:00 – 13:00 – Roda de Conversa 1 – Feira de sementes: sua história e importância para a conservação da biodiversidade e dos saberes quilombolas do Vale do Ribeira+ Degustação de alimentos tradicionais da roça quilombola
Mediação: Associação Slow Food do Brasil

13:30 – 14:30 – Roda de Conversa 2 – Os efeitos da pandemia na produção e distribuição de alimentos no Vale do Ribeira + Degustação de preparo feito com ingredientes da campanha de doação de alimentos organizada no início da pandemia
Mediação: Instituto Brasil a Gosto

15:00 – 16:00 – Roda de Conversa 3 – Cooperquivale: desenvolver economicamente para preservar o patrimônio + Degustação de produtos manufaturados da Cooperquivale 
Mediação: Instituto Socioambiental (ISA)

Serviço
II Encontro do Patrimônio Agroalimentar: Promovendo Saberes e Práticas dos Quilombos do Vale do Ribeira
Data: 14 de maio de 2022
Local: Mercado de Pinheiros – Praça Central – Rua Pedro Cristi, 89, Pinheiros, São Paulo (SP).
Entrada: gratuita
Inscrições: não é necessário se inscrever

INSTITUTO BRASIL A GOSTO – Fundado pela chef Ana Luiza Trajano, o Instituto Brasil a Gosto tem como missão promover conhecimento sobre a cozinha brasileira. Para isso, a entidade desenvolve atividades de pesquisa, educação, criação de produtos, apoio a negócios da alimentação e curadoria de conteúdo gastronômico. Esse trabalho é amplificado, ainda, por meio de uma plataforma digital, incluindo site, redes sociais e canal de vídeos; livros; cursos livres; palestras e parcerias.


Associação Slow Food do Brasil – A ASFB é uma organização social de interesse público com forte atuação política acerca dos sistemas alimentares, defendendo a sociobiodiversidade, o respeito à agricultura familiar em seu sentido amplo e às questões da terra. Difunde a educação do gosto, a valorização da cultura alimentar, a incidência política e a aproximação entre produtores e consumidores. É, também, o nó da rede Slow Food Brasil, guardião das marcas e programas do movimento no país. 

Instituto Socioambiental (ISA) – O ISA é uma organização da sociedade civil brasileira, sem fins lucrativos, fundada em 1994, para propor soluções de forma integrada a questões sociais e ambientais com foco central na defesa de bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos. Atuamos no Vale do Ribeira junto às comunidades quilombolas desde 1998, com escritório em Eldorado, buscando valorizar e fortalecer a cultura e as formas de uso do território destas comunidades. 

IPHAN realiza o II Encontro do Patrimônio Agroalimentar Brasileiro

Gratuito e aberto ao público, evento reúne lideranças quilombolas do Vale do Ribeira para série de rodas de conversa no sábado, 14 de  maio, no Mercado de Pinheiros, em São Paulo

Comunidades indígenas da rede Slow Food participam do Acampamento Terra Livre em Brasília

No último dia 04 começou, em Brasília, o Acampamento Terra livre 2022, onde indígenas do Brasil inteiro encontram-se acampados para reivindicar diversos direitos garantidos pela Constituição, mas que até hoje não são respeitados.
Dentre as diversas etnias encontram-se alguns membros da Rede Slow Food. Entre eles a Fortaleza do Pequi dos Kïsêdjê do Xingu, a Fortaleza da mandioca dos Kiriri da Bahia, e a Comunidade de Valorização da Mandioca do povo Juruna do km 30.

Kiriris e Jurunas

Todos eles precisam de ajuda para continuarem participando do evento e você pode colaborar à distância através dos seguintes PIX:
Fortaleza do Pequi do Xingu – PIX 07.349.834/0001-56
Valorização da Mandioca do Povo Juruna km 30 – PIX 546.800.502-68
Fortaleza da Farinha e Derivados da Mandioca do povo Kiriri de Banzaê – Pix: 056.875.905-28

Comunidades indígenas da rede Slow Food participam do Acampamento Terra Livre em Brasília

No último dia 04 começou, em Brasília, o Acampamento Terra livre 2022, onde indígenas do Brasil inteiro encontram-se acampados para reivindicar diversos direitos garantidos pela Constituição, mas que até hoje não são respeitados.Dentre as diversas etnias encontram-se alguns membros da Rede Slow…

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O Manifesto dos Feijões e das Leguminosas

Texto traduzido e adaptado por Lucas Mourão, porta-voz da Comunidade Slow Food Beagá a partir do texto original dos parceiros da rede Global Beans: https://www.globalbean.eu/publications/legume-manifesto/ .

Conheci o projeto do Global Beans no Terra Madre 2022 e fiquei encantado com o seu trabalho de conectar os promotores da biodiversidade de feijões e leguminosas, e também a produção de conteúdo sobre o tema. Conectei com eles por causa da descoberta do Feijão do Divino, feijão de Lamim (MG) que espero em breve entrar na Arca do Gosto, e me despertei para a importância crucial dos feijões e leguminosas na nossa alimentação. Por isso penso que por aqui no Brasil devemos fortalecer nosso conhecimento e promoção da biodiversidade das leguminosas, dessa forma fica por aqui o manifesto para conhecer mais a importância das leguminosas na alimentação! Segue o texto:

Nesse mundo em aquecimento global com exigências cada vez maiores em matéria de recursos naturais, somos desafiados a fazer escolhas que cuidam melhor do nosso planeta. Essas escolhas começam na cozinha porque, como o poeta e agricultor Wendell Berry disse, “a forma como comemos determina, em grande medida, como o mundo é usado”. A produção dos nossos alimentos é um motor para as mudanças climáticas. Mais de 40% da superfície terrestre sem gelo do mundo é utilizada para a agricultura.

Em particular, o modo como produzimos alimentos ricos em proteínas é central no impacto que nossas dietas alimentares têm sobre o planeta!

As leguminosas são um grupo muito especial e diverso de plantas ricas em proteínas que podem nos ajudar a comer melhor e a cuidar do nosso planeta e da nossa saúde. São definidas pelas flores com desenho que lembra borboleta que podemos ver em plantas como a ervilha e o feijão. As leguminosas mais familiares são as que têm sementes comestíveis conhecidas como feijões, tais como fava, feijão comum, lentilha, grão-de-bico e ervilha. Além disso, a soja e o tremoço também nos fornecem alimento e também são usados para a alimentação animal. Os trevos, por sua vez, enriquecem os nossos campos.

As leguminosas podem ser colhidas verdes ou maduras:
Ícone verde: colheita quando verde para comer fresca
Ícone amarelo: colheita quando madura com grãos secos, para preparar refeições ou usar para plantar uma próxima geração de feijões

https://lh5.googleusercontent.com/drqwWbuojXym3H3CIXQpuoOQ7-AqINuZS6hXwiHUxVshGNeA_xof8O6AdrREICklEOiEBdWOrJkAMZx42K7HpyQihhiQJ0MJWaEYb3GQW6jj7mwTmfbV2HRphEpaeqodAPvr8YVN

Faboideae (ou Papilionoideae, do latim para borboleta: papilio) é a ordem da família dos feijões onde as plantas são caracterizadas pelas flores tipo-borboleta.

Fotografia: © Donal Murphy-Bokern, www.legumehub.eu. O feijão corredor escarlate (P. coccineus) é perene nos trópicos, mas tem crescido como anual na Europa. 

AS LEGUMINOSAS SÃO A FÁBRICA DE FERTILIZANTES DA NATUREZA

Porque é que uma família de plantas definida pela forma da sua flor deve merecer tanta atenção?

Grande parte dessa resposta se encontra debaixo da superfície do solo e no papel que as leguminosas desempenham no ciclo do nitrogênio. As leguminosas hospedam bactérias específicas do gênero Rhizobium nos nódulos das suas raízes, que capturam nitrogênio do ar. Essa fixação natural de nitrogênio é sustentável porque não há necessidade de adubos nitrogenados que exigem muita energia e porque as emissões de gases com efeito de estufa à base de nitrogênio do solo são reduzidas.

https://lh3.googleusercontent.com/1ZNHrB6TIZAxOX-12iDMzWo52siHy4eR1wuFlWe_aUfkPAIqjBloD2Wsw7xnVTKVHcgvUQLbqxZdePZ-aPA2wmD5vvmOHNaL2roR2NEsvznGT11mkpTWD1Z-x6GlaA95Y4JxghkA

A forma como as leguminosas crescem sem fertilizantes nitrogenados é uma história fascinante da parceria entre as  leguminosas e as bactérias alojadas nos nódulos das suas raízes. Esses nódulos são bem conhecidos dos agricultores e jardineiros. Uma substância chamada leghemoglobina, que é semelhante à hemoglobina no nosso sangue, é a chave para esse  processo.  Por consequência o interior dos nódulos radiculares saudáveis das leguminosas é vermelho quando cortado. Fotografia: © Messmer, FiBL, www.legumehub.eu.

Ciclo do nitrogênio

As leguminosas nos ajudam a reduzir o impacto da nossa alimentação no ciclo do nitrogênio. Nosso sistema alimentar atual coloca uma grande  pressão sobre o ciclo do nitrogênio liberando gases de  efeito de estufa e poluindo a atmosfera e a água. As leguminosas desempenham um papel nos nossos esforços para reduzir os danos causados ao ciclo global do nitrogênio, fornecendo uma alternativa aos fertilizantes nitrogenados sintéticos e uma alternativa às proteínas de origem animal.

© Donal Murphy-Bokern, www.legumehub.eu. 


AS LEGUMINOSAS SÃO SAUDÁVEIS E RICAS EM PROTEÍNAS

O nitrogênio é uma peça central na construção das proteínas. As leguminosas são ricas em proteínas  devido à fixação de nitrogênio nos seus nódulos  das raízes. Sementes de feijão comum, ervilhas, favas, lentilhas e grão-de-bico contém de duas a três vezes mais proteínas do que grãos de cereais. O grão de soja e o tremoço são ainda mais ricos em proteínas. As proteínas das leguminosas são especialmente nutritivas. Os nossos antepassados entenderam isso e usaram as leguminosas para complementar cereais como trigo e aveia nas nossas dietas alimentares.  Nos deixaram um  grande legado de pratos tradicionais que utilizam leguminosas. Atualmente, as leguminosas  também são particularmente importantes em dietas veganas e vegetarianas. O feijão e a ervilha podem enriquecer  todos os tipos de cozinhas. Em particular, são uma excelente alternativa à carne. Para além de uma ampla gama de vitaminas e micronutrientes, feijões e ervilhas também são ricos em  carboidratos complexos que protegem o coração e reduzem o risco de  câncer. Comer mais leguminosas em vez de carnes é saudável para a maioria de nós e  também para o planeta.

AS LEGUMINOSAS DIVERSIFICAM OS CULTIVOS

As leguminosas são muito diferentes dos cereais como o trigo, a cevada e o milho que dominam a nossa zona rural. Mais leguminosas nos campos significam uma agricultura mais diversificada. As suas flores são fonte de pólen e néctar para os  insetos. A sua biodiversidade também ajuda aves e  a fauna em geral. Os agricultores que cultivam leguminosas têm menos problemas com ervas daninhas, doenças e pragas ao longo do ciclo de rotação de culturas.

    Fava (Vicia faba) na fase de floração. Fotografia: © Tim O’Donovan (Irlanda).


PRECISAMOS DE MAIS LEGUMINOSAS

As leguminosas são boas para nós, boas para os nossos quintais  e jardins, e boas para o planeta! Protegem o nosso clima porque são uma fonte natural de fertilizantes nitrogenados, aumentam a diversidade de culturas, e apoiam dietas saudáveis sustentáveis. 

No entanto, aqui no Brasil grande parte da área agrícola cultivada é destinada às monoculturas de milho, soja e algodão transgênicos, enquanto boa parte das leguminosas que chegam ao prato das famílias (feijão comum, feijão de corda, feijão fradinho, etc), que são produzidas pela agricultura familiar, vem perdendo espaço de cultivo e também a preferência dos consumidores nos últimos anos. 

Na Europa, as leguminosas são raramente cultivadas nos quintais, embora o feijão (incluindo a soja), a ervilha e o tremoço cresçam tão bem na Europa como em qualquer outro lugar do mundo. Em vez disso, a maioria dos agricultores europeus que se dedicam às culturas agrícolas  se concentram no cultivo de cereais, como o trigo e o milho, porque   essas  culturas crescem particularmente bem na Europa. Os agricultores europeus também produzem grandes quantidades de carne, leite e ovos de gado que requerem grandes quantidades de proteínas vegetais e terra para pastoreio. Cerca de 60% dos cereais cultivados na União Europeia são  para alimentar gado e a Europa é auto-suficiente na maioria dos produtos pecuários. No entanto, estes cereais não contêm proteína suficiente ou  proteína de melhor qualidade. Para compensar, são importados o equivalente a 35 milhões de toneladas de soja, na sua maioria   vinda da América do Sul, para alimentar gado na União Europeia. Isto significa que existe uma ligação entre o que comemos e  o desmatamento  de ecossistemas tropicais.  Esse sistema alimentar não está em equilíbrio e não é sustentável. A mudança é necessária.

Precisamos  cultivar mais leguminosas e mais variedades delas! Precisamos  aumentar o papel delas nas nossas dietas!  Tal transição  pode reduzir as emissões de gases de efeito de estufa a partir de agricultura, reduzir a dependência da soja, e melhorar  nossa saúde. Isso depende de todos nós. Como cidadãos, precisamos  encontrar formas de recompensar  com eficiência os agricultores que cultivam leguminosas. Como consumidores, precisamos  redescobrir e promover os maravilhosos pratos  baseados em  feijões do passado e do presente.

Global Bean Project é uma rede europeia que promove e dissemina o uso e cultivo de leguminosas nas cozinhas, campos e jardins bean@2000m2.eu / www.globalbean.eu

O Manifesto dos Feijões e das Leguminosas

Texto traduzido e adaptado por Lucas Mourão, porta-voz da Comunidade Slow Food Beagá a partir do texto original dos parceiros da rede Global Beans: https://www.globalbean.eu/publications/legume-manifesto/ . Conheci o projeto do Global Beans no Terra Madre 2022 e fiquei encantado com o seu trabalho…

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A revolta dos malês e a comida baiana

por Patrícia Nicolau e Ednilson Andrade, integrantes do coletivo Antirracismo Slow Food

A revolta constituída de quase 600 homens, majoritariamente muçulmanos e africanos – por isso malê oriundo de imalê que, na língua iorubá, significa muçulmano – se deu na madrugada de 24 para 25 de janeiro de 1835, com o objetivo de conquistar a liberdade. Esse fato abre caminhos para um ciclo de grandes revoltas contra o regime escravista.

A cidade de Salvador era a região mais atuante do país e a imposição religiosa do catolicismo, naquele período, sobrepujava a fé natural desses homens, colocando-a em segundo plano. A ideia central era transformar a Bahia, em um território islâmico, controlado pela África e derrubar o governo vigente na época, através de um genocídio dos brasileiros presentes alí, fossem eles brancos, mulatos ou negros. 

O plano elaborado nos mínimos detalhes, fora abortado por uma denúncia e fez as ruas da cidade ganharem outro cenário e a região de Água de Meninos – atual local da feira de São Joaquim – sendo esse o lugar da última batalha, revelando corpos que tentaram sobreviver à traição.

Uns embrenharam-se pelas matas e montanhas vizinhas; 
outros salvaram-se a nado; 
outros pereceram afogados; 
outros enfim foram mortos pelos marinheiros 
(Ignace, 1907, p.133)

Foram vários os destinos aos acusados pelo motim; prisão, prisão com trabalho, açoite, morte ou deportação para África para aqueles já libertos. A pena do açoite variava entre 300 a 1200 chibatadas, distribuídas em dosagens mas, claro que muitos morreram em meio à sentença. Com a pena de morte para 16 condenados, 12 conseguiram permuta e os outros 4 foram executados e, dessa forma, finda-se a revolta escrava mais turbulenta da história

Depois desse feito, já tendo sido noticiado em quase todo país, através dos jornais, a perseguição das autoridades para os africanos passou a ser redobrada e com punições desmedidas. Naquele período, Salvador abarcava em 78% da sua população, negros africanos, afro-descendentes e escravos livres. Os escravizados eram oriundos de diversas partes da costa africana. Mas, particularmente os envolvidos na revolta eram originários do Benin, sendo classificados, segundo a sua língua materna.

Precisamente, somavam-se 30% dos falantes de iorubá, sendo esses muçulmanos. Salvador tinha um economia debruçada na escravidão, os campos de cana-de-açúcar e fumo presentes na região do Reconcavo eram os monocultivos que sustentavam os mercados europeus e possibilitava a compra de escravizados.

Os negros desembarcados aqui eram destinados a todos os tipos de ofícios, do arrado à cozinha, e dos trabalhos manuais ao cenário urbano das ruas, sendo os pioneiros para o desenvolvimento do estado da Bahia, sobretudo a cidade de Salvador, assim como resgistra Manuel Querino, em sua obra, A arte Culinária na Bahia, ao citar com detalhes os oficios desenvolvidos na região. 

E citando Querino, que retrata bem sobre a culinária da Bahia, os malês foram a principal influência para a formação da culinária baiana e brasileira mas, em contrapartida, viveram a realidade da insegurança alimentar, assim como podemos observar no mundo contemporâneo que vivemos. A não alternância nas variedades dos tipos de alimentos, causando o nutricídio que se estende até hoje, revelado em deficiências vitamínicas e diversas doenças crônicas.

A cultura alimentar islâmica se expandiu para diversas partes da Europa e África, fundamentando eixos bastante definidos e disseminando o uso de técnicas, comportamento à mesa e vários alimentos, entre eles o café, bebida de uso comum e social em diversas partes do mundo e é proveniente dos moldes islâmicos,  em substituição à outras bebidas porque entre os muçulmanos, não se faz uso de bebida alcoólica.

Outro ponto de grande relevância adotado dessa cultura, como referencial na alimentação, é a relação da comensalidade, técnicas e diretrizes para o preparo e o cuidado higiênico sanitário com os alimentos, por isso as negras escolhidas para estarem à frente das cozinhas urbanas são as de origem muçulmanas ou com influências islâmicas.

Com certeza, a expansão islâmica deu formato às tradições usadas até hoje e consolidou mudanças em muitas relações do cotidiano rural e urbano, deixando um legado que direcionou conhecimentos e descobertas.

A revolta dos malês e a comida baiana

por Patrícia Nicolau e Ednilson Andrade, integrantes do coletivo Antirracismo Slow Food A revolta constituída de quase 600 homens, majoritariamente muçulmanos e africanos – por isso malê oriundo de imalê que, na língua iorubá, significa muçulmano – se deu na madrugada de…

Manuel Querino e o pioneirismo de pensar em uma cozinha brasileira

texto de autoria do Coletivo Antirracismo Slow Food Brasil

Centenário do artigo que inaugura o pensamento sobre a cozinha brasileira levanta debate sobre a permanência de um pensamento ainda colonial nos estudos em gastronomia e história da alimentação.

Em 2022, o artigo “Advertência preliminar” de Manoel Querino completa 100 anos. O texto que introduz o leitor ao livro A Arte Culinária da Bahia consegue em poucas palavras, porém com enorme densidade de conteúdo e precisão descritiva traçar a linha histórica da formação de uma culinária própria de nosso território, no caso, da baiana. É consenso que Manuel Querino é um dos primeiros a pensar e escrever sobre a sociologia e história da alimentação no Brasil. Mesmo assim o autor permanece pouco conhecido seja no campo da história da alimentação e seja no dos estudos gastronômicos, cujos currículos escolares ainda adotam como maior referência teórica autores europeus.  

A “Arte Culinária da Bahia” é publicado como livro em 1928 e apresenta uma análise inédita do ponto de vista social e histórico da cozinha baiana. Manoel Querino apresenta um panorama da culinária baiana, como ele mesmo define, repleto de “miudezas descritivas” acerca de receitas culinárias e modos de fazer da culinária indígena nativa, dos povos africanos e de portugueses que vivem no Brasil. O autor organiza um inventário sobre o fazer culinário de fato brasileiro já que, ao olhar para o território baiano, trata das principais influências que constituem a base das culturas alimentares presentes hoje em nosso território. Além disso, analisa a sociedade da cidade de Salvador de meados do século XIX tendo como base de comparação teorias e estudos contemporâneos acerca da alimentação que eram realizados na Europa, sem criar qualquer hierarquia entre as práticas alimentares analisadas. 

No entanto, a obra de Querino permanece pouco conhecida ainda ele tenha se tornado um arquiteto diplomado, profícuo escritor, ativista e político. Querino foi um homem negro, fato que, em parte, explica seu esquecimento na história mesmo diante de uma obra tão inovadora na forma de pensar a cultura e alimentação no Brasil. É fundamental trazer a obra de Querino para o seu devido lugar: o de pioneiro no campo dos estudos gastronômicos e alimentares no Brasil. Como explica Anderson Carvalho, baiano, cozinheiro, nutricionista e professor universitário: “Querino inaugura um tipo de escrita analítica sobre a comida e o comer que fez escola dentre os estudiosos mais contemporâneos. Ao tecer detalhadamente os complexos entrelaçamentos das práticas culinárias de um Brasil cujas relações sócio raciais são bastante assimétricas, ele exerce alteridades na medida em que descreve a singularidade de nosso fazer culinário”.

A obra de Querino nasce da experiência de viver na Bahia de meados do século XIX, mergulhado na realidade que o rodeia e escrever imbuído de sentimentos sobre a alimentação cotidiana, receitas e técnicas culinárias ancestrais, dando destaque aos alimentos do território e seus usos fortemente influenciados pelo fazer culinário africano, diverso e inclusivo por natureza. Nesse sentido, sua obra se contrapõe aos livros de culinária da época, onde as cozinhas não tinham cor, credo nem sentimentos. Para Patrícia Nicolau, chocolateira, pesquisadora alimentar e conselheira do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio de Janeiro (CONSEA RJ) esse modo de analisar a alimentação na obra de Querino é fundamental: “Para além de salvaguardar o respeito à cozinha baiana, que permanece com a tradição intacta, traz a relevância dessa caracterização de uso culinário como modelo que preserva raízes, memória e cultura de um povo e, sobretudo, dignifica a presença e contribuição da cozinha de preto na formação da culinária brasileira.”

Reler a advertência de cem anos atrás de Manuel Querino é, portanto, um ato de conscientização social e antirracista necessário. Sendo a cozinha e seus modos de preparo a base da cultura alimentar de um povo; e a gastronomia a expressão dessa cozinha enquanto um movimento sociocultural organizado precisamos entender e aceitar que a cozinha brasileira é essencialmente essa descrita por Querino. Como observa Anderson: “[a cozinha brasileira] não é uma cozinha de terroir, mas uma cozinha de um terreiro que se constrói a partir de pessoas que foram arrancadas de sua territorialidade. Cozinhas constituídas de memórias, oralidades, técnicas e redesenhos que criam um sistema alimentar ao mesmo tempo que inclusivo, contraditório e, justamente por isso, belo.”

Patrícia completa essa definição “A trajetória da cozinha brasileira foi feita por pessoas pretas e isso é fato, foram as mãos de mulheres pretas que alimentaram o nosso país por quase 400 anos e, paralelo a isso, a contribuição dos americanos nativos foi o que abriu os caminhos para essa cozinha acontecer; no cuidado com a terra e o tempo dela. O ciclo agricultura – produção – mesa tem uma razão muito grande de ser, porque foi feito por pessoas que trabalharam essa produção desde o solo, cozinharam essa colheita e souberam como prosseguir com o pós mesa.”Anderson e Patrícia são membros do Coletivo Anti Racista do Slow Food Brasil que em abril de 2022 formalizou o compromisso de trazer para dentro do movimento essa intrínseca relação entre comida e raça indispensável ao ativismo alimentar em qualquer lugar do mundo, mas especialmente dentro da realidade do Brasil. Nosso desejo é lançar uma semente fora do ambiente acadêmico no qual ambos os entrevistados estão inseridos e pautar a leitura e discussão da obra de Manuel Querino visando popularizar esse autor como referência dentro do campo da gastronomia brasileira.

Manuel Querino e o pioneirismo de pensar em uma cozinha brasileira

texto de autoria do Coletivo Antirracismo Slow Food Brasil Centenário do artigo que inaugura o pensamento sobre a cozinha brasileira levanta debate sobre a permanência de um pensamento ainda colonial nos estudos em gastronomia e história da alimentação.l  Em 2022, o artigo…

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