Fruto de um longo percurso que envolveu a dedicação e o trabalho de várias pessoas, o programa da Arca do Gosto inclui, atualmente, 235 alimentos brasileiros. O livro “Arca do Gosto: Minas Gerais”, recém publicado, é o resultado da pesquisa e aprofundamento sobre 100 destes alimentos, que fazem parte do patrimônio cultural e ambiental de Minas Gerais e do Brasil.
Se o território de Minas Gerais é reconhecido pela sua culinária singular, é porque foi capaz de manter, ao longo de tempo e das gerações, uma forte ligação com os modos de fazer, com as práticas e as técnicas tradicionais, junto com uma vocação ao acolhimento, à hospitalidade e a diversidade e qualidade de seus produtos.
Mas não é possível separar cultura alimentar, gastronomia e alimentação da interação do ser humano e das comunidades com a natureza, com o ambiente onde vivem. Essa relação é o que entendemos por sociobiodiversidade e está na base da existência do alimento, da cozinha, do desenvolvimento do território e da possibilidade de promover, através da comida, a criatividade, a tecnologia, a preservação e a valorização da cultura, a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida.
A Arca do Gosto, além de uma excelente “porta de entrada” para quem se aproxima do movimento Slow Food, pode ser a base para a realização de inúmeras outras atividades, como oficinas, laboratórios, intercâmbios, capacitações, diagnósticos coletivos, projetos de articulação de Fortalezas Slow Food, eventos de gastronomia, de turismo, entre vários outros. Além disso, é sempre bom também lembrar que a Arca é um catálogo de alimentos em risco, mas que ainda não se perderam. Por isso, ela procura estimular as pessoas a conhecerem mais sobre a própria comida, ou a comida que poderiam estar comendo; a procurarem os produtores, os mercados, os quintais e voltarem a saborear, celebrar e compartilhar estes alimentos únicos, importantes e maravilhosos.
Este livro reforça o papel (e o potencial) da Arca do Gosto como um programa estratégico na luta pela valorização e divulgação do patrimônio alimentar; como um instrumento político de mobilização e de incentivo, capaz de criar pontes e de promover um saber aberto e em construção contínua. Ao coletar, elaborar e registrar informações sobre estes alimentos, este trabalho seguiu o desejo ambicioso de contribuir com a transmissão da cultura e da memória, com a preservação dos territórios e com a luta pelo direito das comunidades de manterem suas tradições e seus modos de vida, assim como, ao mesmo tempo, abraçarem as mudanças e as transformações.
Boa leitura!