A pesquisa pública agrícola paulista está sob ameaça com a intenção do governo estadual, por meio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) de vender imóveis onde são desenvolvidas pesquisas para a agricultura e para a sociedade. A Unidade Regional de Pesquisa e Desenvolvimento – URPD São Roque é a primeira desta lista e uma das únicas com foco na agroecologia, atendendo e orientando a população de diversos municípios do estado para uma produção mais adequada às necessidades do século XXI Para além deste equipamento, dezenas de outras unidades de pesquisa também estão sob risco de perderem um rico e inestimável histórico de pesquisa agrícola, do qual o que mais ganhou visibilidade foi o caso do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Uma histórica falta de investimento nesse setor levou ao limite da precarização em que se encontram tais equipamentos e condições de trabalho de pesquisadores, que conta ainda com grande déficit de pessoal dedicado, demandando que os profissionais atuem para muito além de suas atribuições a fim de manter a funcionalidade e a prestação de serviços à população. E ainda assim, conseguem produzir pesquisas de qualidade, desenvolvendo técnicas e tecnologias adequadas para a agricultura no estado. A URPD de São Roque tem em seu histórico recente o desenvolvimento de variedade de cebola orgânica por melhoramento participativo, a limpeza de vírus da alcachofra (aumentando sua produtividade e qualidade) e produção de uva e vinho agroecológicos. Qualificar estes equipamentos que sobrevivem graças à enorme dedicação de pesquisadores como ‘ocioso’ é desrespeitoso e de grande desonestidade intelectual, que favorecem setores do agronegócio industrial e do setor imobiliário e financeiro. Não é possível que a política seja praticada como troca de favores a financiadores de campanha, mas é necessário que seja construída junto à população e levando em conta suas necessidades.
A URPD de São Roque, criada em 1928 e prestando serviços ininterruptos ao cinturão verde da Região Metropolitana de SP, tendo contribuído para a Segurança Alimentar e Nutricional, assim como tem se dedicado ao desenvolvimento de uma agricultura livre de agrotóxicos por mais de trinta anos, fortalecendo o desenvolvimento da agroecologia no estado de SP e no Brasil. Pelo reconhecimento de sua importância, o Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica (PLEAPO 2023-2027) assinada em dezembro de 2023 na SAA especifica a revitalização do equipamento dentro do “Programa de revitalização das unidades de pesquisa e desenvolvimento e de produção de sementes da SAA”. Na ocasião do lançamento, o próprio secretário Guilherme Piai alegou que “O PLEAPO permite que a Secretaria possa investir em política pública, extensão rural, abrir linha de crédito no FEAP. Queremos ver os produtores vendendo para a prefeitura, para o Estado, prosperando e gerando mais empregos”. Na prática, a intenção de venda do imóvel sinaliza o oposto, uma negligência e descaso com responsabilidades socioambientais, climáticas e econômicas que deveriam ser prioridade do governo.
A agroecologia é transdisciplinar e no aspecto produtivo é considerada a melhor prática agrícola ao considerar e potencializar a biodiversidade, a saúde do solo, o enfrentamento à emergência climática, aspectos que já não são possíveis de se ignorar para a manutenção da capacidade econômica da agricultura. Abrir mão do legado ainda em construção desta unidade, é uma perda irreparável e muito maior que as centenas de milhões de reais que seu imóvel está avaliado, abrindo caminho para a devastação ambiental e para a especulação imobiliária.
Em última instância a venda das unidades e a perda de suas pesquisas, é uma grave ameaça à soberania da agricultura paulista, que passa a depender cada vez mais de pesquisa privada a um alto custo para a população em médio e longo prazo.
Assim, sociedade civil organizada se mobiliza novamente e enfrenta mais essa luta pela defesa de seu patrimônio natural, material e imaterial. Por tudo isso, ressaltamos: Não queremos a venda das unidades de pesquisa pública agrícola do estado de SP! Queremos a revitalização da URPD de São Roque e a implementação das ações previstas no PLEAPO!
Assinam esta nota:
Associação Amigos e Amigas da Estação Maylasky
Associação de Plantio Direto do Vale Paranapanema – APDVP
Associação dos Produtores Orgânicos de Buri – APOB
Associação Ecocultural Casa Jaya
Associação de plantas medicinais Nova essência
Associação Paulista de Extensão Rural – APAER
Associação Slow Food do Brasil
Coletivo Africanidades por elas
Coletivo de Pessoas Amigas da Natureza Carcará
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável- São Roque
Criadores de Abelhas de São Roque e Região
Estudantes do 3ano do curso técnico em agronegócio da escola Estadual Distrito de Maylasky
Forum Sociobiental de Campinas
Instituto Giramundo Mutuando
Kamuri – Indigenismo ação ambiental cultura e educação
Movimento Popular Maria Geruncia de Jesus
Movimento Sócio-Ambiental Caminho das Águas
Movimento Urbano de Agroecologia MUDA
Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional – UnB
Proteção do bioma Regina Petti
PSB Mulher de Pindamonhangaba
PSOL Valinhos
RPPN Sitio Caete
Ruca – Rede Urbana Capixaba de Agroecologia
Vinicola Alma Gêmea