Vinho bom, limpo, justo e brasileiro 

Valparaíso Vinhos e Vinhedos foi destaque na Slow Wine Fair 2024, feira internacional de vinhos na Itália.  

“Foi uma honra meu pai ter sido um dos produtores escolhidos como delegado para poder falar para um grupo de produtores interessados no tema da regeneração do solo, sendo representado por mim em função da língua. Hoje, muitos produtores vêm tentando substituir agrotóxicos por produtos orgânicos, mas poucos são os que se preocupam em deixar um legado, uma terra rica para as futuras gerações e não somente extrair dela.” O relato de Naiana Argenta faz referência à participação dela e do pai, Arnaldo Argenta, na edição de 2024 da Slow Wine https://slowinefair.slowfood.it/en/Fair, feira de vinhos do movimento Slow Food que aconteceu em fevereiro na cidade de Bolonha, na Itália. A vinícola Valparaíso foi a única representante do Brasil no evento. 

A colheita manual é apenas um dos processos artesais que garantem a qualidade do vinho da Valparaíso. foto: acervo Valparaíso

O sonho de Arnaldo Argenta, filho de viticultores, era produzir o próprio vinho. Engenheiro agrônomo de formação, Arnaldo começou seu projeto em meados dos anos 2000, no município de Barão, no Rio Grande do Sul. Na época, escolheu um caminho diverso da maior parte dos produtores da região, recuperar e nutrir o solo, usar técnicas inovadoras, apesar do alto custo inicial, e abolir insumos químicos na plantação, visando uma produção futura de vinhos que expressasse ao máximo o terroir e a tipicidade das uvas. Nessa época a onda dos vinhos naturais ainda não havia começado no Brasil. O investimento na terra levou anos como narra Naiana, sua filha e atual responsável pela área comercial da vinícola: “O projeto Valparaiso existe desde 2006, quando meu pai adquiriu esta propriedade e começou sua transformação, sendo possível ter a primeira safra somente em 2018, quando nem podíamos comercializar ainda os vinhos, já que demoramos dois anos para obter o registro do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), ou seja, somente na metade de 2020 obtivemos este registro.” 

Desde que entrou no mercado brasileiro, a Valparaíso cresceu em reconhecimento e, hoje,  os vinhos são comercializados em várias regiões do Brasil e estão em alguns dos melhores restaurantes do país. Claro que o sucesso é resultado de um trabalho meticuloso realizado desde o cultivo até a distribuição e a divulgação. A vinícola Valparaíso possui vinhedos em um sistema de policultura, ou seja, há outras espécies cultivadas num ambiente que é biodiverso e onde cada espécie desempenha seu papel na cadeia produtiva. Isso favorece e fortalece as videiras, que contabilizam ao todo 45 variedades de uva, sendo nove do tipo Vitis vinifera – entre elas variedades raras no Brasil como a Garganega, a Rondinella e a Nebbiolo. Além disso, o Sistema de Produção Protegido, desenvolvido por Arnaldo em toda extensão dos vinhedos reduz a incidência de pragas e protege as plantas da umidade e da insolação excessiva, o que faz com que a maturação das uvas aconteça em um período ideal. 

Vinho Branco edição especial da vinícola Valaparaíso. foto: acervo Valparaíso

A colheita é igualmente realizada de forma cuidadosa e manual para preservar as castas em termos de aromas, acidez e açúcares. A vinificação de quase todos os vinhos, à exceção de poucos rótulos que são envelhecidos, é realizada na própria vinícola e é natural, ou seja, não são adicionadas leveduras além daquelas presentes no mosto e na fermentação, nem quaisquer aditivos químicos para controle do processo de fermentação. 

Tanto cuidado e investimento com o projeto da Valparaíso proporcionou o convite para que pai e filha participassem da Slow Wine Fair e tivessem o trabalho reconhecido na Itália, país que tem como autóctones grande parte das uvas com as quais Arnaldo trabalha. A vinícola foi destaque na feira, assim como a participação do produtor, que se tornou referência entre os produtores do evento ao contar sua história e compartilhar a metodologia e as técnicas aplicadas no solo e na plantação. Após mais essa injeção de ânimo, Naiana revela seus planos: “Para o futuro espero poder democratizar mais o vinho natural, sendo a Valparaiso hoje o maior produtor deste segmento (ainda que muito pequenos no mercado de vinhos geral) me sinto neste dever.” 

***

Essa coluna foi escrita antes da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul em maio de 2024. A Valparaíso foi atingida, mas sobretudo o entorno da vinícola foi fortemente atingido.  A família de Naiana Argenta está segura e está ajudando àqueles mais atingidos com as enchentes. Nesse momento, pedimos que se possível ajudem comprando os vinhos direto no site da vinícola como forma de apoiar a recuperação da Valparaíso Vinhos e Vinhedos.

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