Slow Food recebe Certificado de Honra ao Mérito do Instituto Federal do Amazonas 

O certificado foi conferido ao Slow Food em março de 2023 em razão da atuação do movimento junto aos estudantes do Curso Técnico de Agroecologia da instituição no Campus Maués, em 2018, no âmbito de um projeto focado no desenvolvimento de políticas públicas.

O movimento Slow Food e o povo Sateré-Mawé tem uma parceria de longa data, sendo a mais antiga Fortaleza Slow Food no Brasil consolidada entre os anos de 2006 e 2007. A fortaleza do Waraná defende a salvaguarda do trabalho cultural desse povo com a planta do Waraná (guaraná) garantindo comércio justo e o reconhecimento do modo ancestral com que o povo Sateré-Mawé realizam o beneficiamento do fruto do Waraná. O mesmo acontece na Fortaleza do Mel de Abelhas Canudo, que foi criada na mesma época. Ao longo dos últimos 17 anos, o movimento Slow Food tem uma relação direta com a região, seja por meio da Fundação para a Biodiversidade e, nos últimos oito anos, por meio da atuação da Associação Slow Food do Brasil. 

Visita do Slow Food à Secretaria Municipal de Educação de Maués.

A Terra Indígena (TI) de Andirá-Marau, do povo Sateré-Mawé, está localizada nos estados do Amazonas e do Pará. Na região, há um forte trabalho comunitário de mobilização e conscientização de jovens, baseado na valorização da agricultura indígena por meio da produção e beneficiamento do Waraná (guaraná) e do mel, entre outros produtos. Tal esforço é para que a juventude Sateré-Mawé permaneça nas aldeias em seu território.  

Desde 2018, por meio de projetos socioambientais, o Slow Food atua junto às comunidades, em especial, junto às jovens lideranças com o intuito de fortalecer e incentivar a produção agrícola e o escoamento da produção. Durante o projeto “Empowering Indigenous Youth and their Communities to Defend and Promote their Food Heritage”, desenvolvido pelo Slow Food Internacional (SFI), em parceria com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), foi estabelecida uma parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM). O IFAM  foi responsável pelo inovador Curso Técnico PROEJA em Agroecologia que aconteceu na comunidade Ilha Michiles, no rio Maraú. A comunidade faz parte da TI Andirá-Marau. 

O curso que se iniciou naquele ano se sustentou metodologicamente na pedagogia da alternância. O método prevê o ensino alternando uma semana imersiva no campus da Universidade com semanas de reflexão e aplicação do conteúdo nas aldeias, local onde vivem e atuam os estudantes.  

Dentro desse contexto, o Slow Food, por meio do ativista e facilitador do projeto no Amazonas, José Guedes, participou ativamente da construção do projeto que visava incluir a agricultura familiar indígena no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE): “ Os estudantes tinham algum conhecimento da política pública, tendo em vista que usufruíram disso na época em que frequentaram a escola de suas comunidades. Porém, o que eles não conheciam era a possibilidade de inserir os produtos locais no cardápio.” José explica que na época uma nota técnica do Ministério Público Federal (nº 01/2017/ADAF/SFA-AM/MPF-AM), facilitou o fornecimento das produções agrícolas (tanto vegetal, quanto animal) dos produtores indígenas nos editais de compras públicas da alimentação escolar. “Com este embasamento legal, a produção vegetal processada, como a produção de vinho de açaí, bacaba e buriti, caldo de cana e de sucos diversos, assim como, a produção animal (peixes, galinhas, ovos, suínos, caprinos, entre outros) ficava dispensada do aval da vigilância sanitária, dado o caráter familiar deste beneficiamento.” Segundo José essa nota técnica, que levou a uma mudança de perspectiva do governo do estado em relação à produção agrícola indígena, abriu espaço para que surgissem editais específicos no âmbito do PNAE. 

O resultado desse processo foi a participação ativa do Slow Food e estudantes do curso em Agroecologia do IFAM na criação e implementação desses editais. E foi justamente esse trabalho do Slow Food em parceria com a comunidade da TI e com lideranças da região que, em 2023, foi reconhecido com o Certificado de Honra ao Mérito. O projeto se mantém vivo, mesmo depois dos desafios trazidos em 2020 com a pandemia da COVID-19, como relata José Guedes: “O tempo passou e o jovem Anderson Guimarães [um dos alunos do curso], hoje técnico em agroecologia, optou como tema do seu projeto de vida (o TCC) a alimentação escolar indígena, do qual ele também é um fornecedor de alimentos. O Anderson tem exercido um protagonismo nesse processo e hoje é o representante do grupo informal que foi criado para o terceiro edital do PNAE Sateré. Essa chamada, que foi lançada em 2023, contou com a participação de 17 produtores, em 10 comunidades.”

José Gudes, membro so Slow Food, recebendo a Certificação de Honra ao Mérito do IFAM.

Desde 2022, o Slow Food atua na região com o novo projeto Sociobiodiversidade Amazônica, cujas principais linhas de atuação são: o diagnóstico de cadeias de valor da sociobiodiversidade da Amazônia; campanhas Slow Food para promoção de cadeias de valor da sociobiodiversidade da Amazônia; qualificação e fomento a cadeias de valor da sociobiodiversidade da Amazônia e acesso a mercados institucionais para produtos da sociobiodiversidade da Amazônia. Sendo assim, o projeto atual visa dar continuidade ao processo de fortalecimento das cadeias produtivas da região TI Andirá-Marau e o recebimento de tal reconhecimento sinaliza a importância do trabalho contínuo na região. Além disso, dá fôlego à nova frente de atuação com o objetivo de preservar e salvaguardar a cultura local, garantindo uma alimentação de qualidade e cadeias produtivas sustentáveis. 

O projeto Sociobiodiversidade Amazônica realizado pelo Slow Food Brasil integra o projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor que é desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Este projeto acontece nos estados do Amazonas, Acre e Pará ao longo de 2022 e 2023.

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