Antes mesmo da Copa das Confederações de futebol começar, um cartão vermelho foi dado à seleção italiana. Sua bagagem foi apreendida no aeroporto do Rio de Janeiro por conter alimentos não industrializados, como queijos, presunto parma, salame, copa e mortadela (veja notícia aqui). A legislação brasileira restringe a circulação desses produtos sem a inspeção federal nacional.
Diferentemente dos jogadores, que costumam ir para o chuveiro após sua expulsão, os alimentos teriam como destino a fogueira ou uma banheira com ácido.
Porém, antes que as chamas fossem acesas, imagina-se que possa ter havido um diálogo como o que se segue:
– Pensando bem, e se liberássemos esses produtos?
– Como assim? Passar por cima da lei?
– …veja: se eles são proibidos aqui, logo farão mal aos jogadores italianos. O que não seria ruim, pois daria uma força para a nossa seleção, que às vezes vacila em campo.
– Não seja pessimista, o time está melhorando…
– Sim… mas… e se os alimentos não fizerem mal a eles? Seremos acusados de antipatriotas! Italianos bem alimentados e felizes jogarão melhor, sem dúvida.
– É verdade, bem lembrado! Dizem que esses queijos, presuntos e salames são tradicionais e sempre foram muito consumidos na Europa. São também muito procurados por brasileiros e pessoas de todo o mundo. Aliás, esses queijos parecem ótimos, com sabor diferente dos que costumamos comprar nos supermercados! Não acha? Fazem lembrar aqueles artesanais, que temos apreendido por este Brasil afora, produzidos por pequenos produtores…
– Mas se são consumidos com segurança lá, por que não seriam aqui?
– Aqui temos a nossa lei…
– E agora, o que faremos?
Um breve silêncio percorreu a sala em zigue-zague. Foi e voltou.
Ao contrário da revisão da legislação sanitária brasileira, que está em discussão há décadas, a decisão, sob a mira dos holofotes, foi sumária:
– Vamos liberá-los!
– E a lei, como fica?
– Bem… na falta de outro argumento melhor, mostraremos que um jogador italiano será mais perigoso em campo sem seu queijo preferido do que com ele. Sabe aquele sentimento forte de quem quer reparar uma injustiça? Pois é, pode acabar em gol contra nós.
– Mesmo que o time esteja melhorando, prevenir é sempre bom.
– Concordo. Acho que o torcedor entenderá o que fizemos, sem necessidade de muitos esclarecimentos. Podemos até ganhar de goleada, mas o nosso esforço não terá sido inútil.
– Mas o que diremos aos produtores brasileiros, que também querem seus queijos artesanais e de boa qualidade circulando em todo o país? E os nossos consumidores, que argumentam pelo direito de consumir esses produtos tradicionais? Acho que eles vão querer ver de novo essa decisão…
– Podemos dizer a eles que o videoteipe é burro, lembrando Nelson Rodrigues. Que tal?
– E quando chegar a próxima Copa, como será? Serão mais países, mais alimentos…
– Vamos torcer para que até lá a nossa seleção continue melhorando.
– E vamos torcer também para que a nossa legislação sanitária também mude e jogue a favor do que há de melhor no Brasil.
* Vicente Marques ([email protected])