Com a proximidade da Rio+20, uma reflexão sobre as promessas feitas duas décadas atrás, na Eco 92
Há 20 anos, no Rio de Janeiro, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, uma cúpula histórica que reuniu importantes representantes de 172 países e mais de 2.400 associações não governamentais.
Foi na Eco 92 que se consagrou de forma definitiva o conceito de “desenvolvimento sustentável”. Pela primeira vez, a questão da durabilidade do modelo de desenvolvimento dominante mereceu as honras da imprensa. Falouse, de forma sistemática, das estratégias voltadas a um melhoramento da qualidade de vida de todos os povos e da preservação do meio ambiente, considerado um bem comum.
O mundo inteiro parecia genuinamente empenhado em mudar de rumo. Discutiu-se uma intervenção drástica nos equívocos de três séculos de industrialização galopante e nas características fundamentais do modelo econômico ocidental predominante. Duas décadas depois, as propostas da histórica Conferência se assemelham a um oximoro – e seguirão inalcançáveis sem a mudança radical do paradigma dominante. Porém há uma nova chance: voltaremos ao debate em junho, na Conferência Rio+20.
Devo dizer que a proximidade desse evento provoca em mim sentimentos contrastantes. Por um lado, a esperança retorna. A esperança que tenha chegado o momento de se fazer ouvir, alta e clara, a mensagem de unidade na comunidade mundial que há 20 anos surgia no Rio. Uma comunidade que, em seu conjunto, assume, na peculiaridade de cada situação individual, os problemas que afetam o planeta e seus habitantes.
Por outro lado, a esperança contrapõe- se à desilusão de constatar que 20 anos de declarações e documentos não permitiram muitos avanços no caminho do chamado desenvolvimento sustentável. E mais, a desilusão e o ceticismo crescem ao ver que essa definição se tornou um adágio popular, utilizado em toda e qualquer oportunidade, por ONGs e multinacionais.
Tudo isso me leva a pensar que algo não está funcionando. Que a conferência do Rio pode ser uma nova ferramenta para anestesiar o inconsciente coletivo em relação aos temas vitais para toda a humanidade. Reuniremonos, novamente, depois de 20 anos.
Será que isso significa que o mundo está tentando resolver o problema e que, portanto, já não há mais motivo para preocupação e comprometimento individuais?
É preciso, sim, nos preocuparmos e agir! Para sermos parte ativa de um caminho de resgate que não é unidirecional ou estabelecido. Que necessita de envolvimento consciente, de indivíduos e, sobretudo, de uma associação como o Slow Food.
Na Rio+20, também a alimentação sustentável estará em pauta. É fundamental ampliar a reflexão sobre as consequências de nossas escolhas como consumidores para o destino do planeta. O Slow Food participará do debate. Nosso maior interesse é transformar as propostas em ações concretas e, nesse processo, construir um futuro melhor para nós e para nosso planeta. Decidimos limitar nossa presença no Rio (onde, há pouco, abrimos uma sede) a uma posição marginal em relação à conferência propriamente dita. Estaremos presentes, mas de forma distinta. Tomaremos parte nas discussões, ancorados na realidade, sem esquecer o compromisso de sermos concretos.
Desejamos envolver e nos deixar envolver pela população local, dando visibilidade aos exemplos já existentes. Não queremos nos limitar a debater com as outras organizações que participarão do evento. Queremos deixar nossa marca no coração da cidade. Conduzir o alimento ao centro de nossa vida é um ato de grande responsabilidade. Mas é também um grande favor que fazemos a nós mesmos. É essa consciência que vamos dividir com todos.
Texto de Carlo Petrini – sociólogo, autor de livros e fundador do Movimento Internacional Slow Food. / Tradução Flora Misitano, publicado na Revista Prazeres da Mesa