Sobre conectar pessoas que comem com as que produzem

Doações de alimentos, mapeamento de produtores e feiras orgânicas. Em momentos de crise, a questão é escoar a produção e ajudar quem mais precisa, mas sobretudo conectar pessoas

“Tudo começou ao ver os colegas de um grupo de cozinheiros desesperados não sabendo se iam receber, se iam ficar desempregados”, diz o chef de cozinha Adilson Santana, membro do movimento Slow Food na Paraíba. Foi a partir do chamado dos colegas e de agricultores familiares que Adilson levou a demanda à rede, pensando em arrecadar doações para famílias em situação de vulnerabilidade social em João Pessoa. “As pessoas estão sem dinheiro para comprar o básico, que é a alimentação”, conta o chef. Alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza e dinheiro estão entre as doações recebidas e, até o fechamento da coluna, mais de 40 cestas básicas – com duração de até duas semanas para quatro pessoas, considerando três refeições diárias – já tinham sido entregues na região metropolitana da cidade. 

O Instagram @slowfoodparahyba é o principal veículo de divulgação da campanha, assim como de feedback para os colaboradores, mostrando a repercussão da ação no território e incentivando para que o número de doações cresça ainda mais. Dentro desse contexto, o papel dos consumidores, comunicadores e outros chefs de cozinha na promoção da iniciativa é fundamental para uma sensibilização mais ampla. “Pessoas ‘seguem’ pessoas, e isto é o que faz a diferença quando há pedidos de ajuda vinda destes atores. A rede se fortalece justamente neste entrecruzamento de ideias e incentivos compartilhados”, fala Santana. A tendência, contudo, é que a demanda por alimentos aumente, sobretudo entre as comunidades mais carentes. “Por isso estamos fechando parcerias com associações da agricultura familiar e empresas de distribuição de alimentos. A fome não espera!”, lembra Adilson.

Na busca por resolver impactos causados nesse mesmo cenário emergencial, a Rede Jovem do Slow Food Brasil, com integrantes engajados nas cinco regiões, decidiu mapear produtores, agricultores familiares e restaurantes, com o objetivo de aproximá-los do consumidor final, viabilizando a venda direta e fomentando a economia local. “No mapa, também temos cadastradas ações da rede Slow Food e ações de solidariedade, também com o objetivo de aproximar quem quer ajudar com quem está precisando de ajuda”, complementa Gabriela Bonilha, uma entre os seis jovens que colocaram a campanha em pé. A plataforma Apoie o Sistema Alimentar Local reúne agricultores familiares, produtores artesanais, estabelecimentos da área da alimentação, iniciativas de solidariedade e ações em um mapa interativo da Rede Jovem Slow Food (SFYN) pode ser consultado no site do Slow Food Brasil

Mais do que uma ajuda momentânea, a esperança da Rede Jovem é que o movimento seja uma oportunidade para rever formas de consumo. “Sabemos que ainda existe um distanciamento grande entre consumidores e quem produz seus alimentos, e esperamos que esse distanciamento diminua, pois estamos proporcionando que as pessoas tenham acesso direto a quem produz o alimento”, observa Gabriela.

Ainda sobre mapeamento, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), que já mantém o Mapa de Feiras Orgânicas desde 2015, também organizou uma ferramenta para dar conta da necessidade urgente de conectar produtores e consumidores. Na nova página do Idec (feirasorganicas.org.br/comidadeverdade), além de feiras, é possível encontrar produtores artesanais, serviços de deliveries, cozinheiros, entre outros serviços ligados à alimentação saudável. Para Rafael Rioja, nutricionista do Idec e membro do Slow Food Brasil Educação, essa e outras iniciativas também são essenciais para que todos os atores da cadeia passem a repensar constantemente sobre a importância do fomento aos circuitos curtos de produção do alimento, que são mais saudáveis e sustentáveis. “A gente convida que os consumidores façam uso do mapa e comecem a procurar produtores perto de suas cidades. Chefs de cozinha podem se servir da ferramenta de uma forma prática, contactando os agricultores para abastecer seus restaurantes e suas iniciativas nesse momento”, fala Rioja.

Para o nutricionista, uma coisa é evidente: a necessidade de remodelar o sistema alimentar atual. “A lição que fica é demonstrar quais são os aspectos falhos da cadeia e da produção de alimento, e o quê precisa ser incentivado, que é justamente a produção com responsabilidade social que respeita os limites do meio ambiente e que produz de forma boa, limpa e justa”, lembra Rafael sobre os pilares do Slow Food.

São muitas as movimentações do Slow Food e de parceiros da rede, como o Idec, para conectar as duas pontas da cadeia, auxiliando desde o escoamento da produção até o acesso ao alimento bom, limpo e justo para a população, entre elas: o Apoie o Produtor Local do Slow Food Mata Atlântica  (Florianópolis/SC) e o Vamos à Feira do Slow Food Alguidá Salvador (Salvador/BA), as iniciativas do Slow Food Manaus (Manaus/AM), do Ponto de Cultura Iacitatá (Belém/PA) e do Slow Food Labnutrir (Natal/RN), etc. Acesse o instagram @slowfood.brasil e as redes sociais das respectivas iniciativas para saber mais sobre elas. 

 

 

 

 

 

 

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