O Slow Food é um movimento de ecogastronomia constituído de uma associação sem fins lucrativos fundada por Carlo Petrini, na Itália, em 1989. Está presente em mais de 150 países e chegou ao Brasil em 2000. Nasceu em contraposição ao fast-food e a fast-life, modo de vida da sociedade industrial, onde tudo é massivo e padronizado.
Defende o alimento bom, que é saboroso, fresco, de qualidade e capaz de estimular e satisfazer os sentidos; limpo, que não exije da natureza mais do que ela pode prover nem prejudique a saúde humana; e justo, respeitando a justiça social, pagamentos e relações justas para todos os envolvidos em toda cadeia de produção, distribuição, consumo e descarte de alimentos.
Acreditamos que, ao treinar nossos sentidos para compreender e apreciar o prazer que o alimento proporciona, também abrimos nossos olhos para o mundo. Atuamos principalmente em três eixos: defender a biodiversidade e cultura alimentares, difundir a educação do gosto e repensar o sistema alimentar a partir da aproximação dos produtores e co-produtores (como definimos os consumidores informados e empoderados). Isso é obtido por meio de iniciativas, eventos e projetos como Arca do Gosto, Terra Madre e Fortalezas. É reducionista e limitada a percepção que alguns atores da cena gastronômica ainda têm do movimento insistindo em vincular o movimento Slow Food à pessoa do seu fundador, Carlo Petrini, ou apenas à aspectos hedonistas e secundários de uma rede complexa e horizontal de voluntários comprometidos com as causas do movimento.
A diversidade daqueles engajados no Slow Food é muito ampla: do cozinheiro ao ativista, do pesquisador ao agricultor familiar, das comunidades tradicionais aos empreendedores, de produtores a co-produtores alinhados com a filosofia do alimento bom, limpo e justo e interessados em fomentar uma alternativa ao sistema alimentar predominante. Todas essas partes formam a Rede Terra Madre, de alinhamento global e atuação local, adaptando-se às identidades e necessidades únicas de cada realidade.
No Brasil a rede se organiza por mais de 55 núcleos locais denominados ‘convívios’. É a partir deles que o potencial do movimento é concretizado. Temos ainda grupos de trabalho, campanhas internacionais e nacionais e outras articulações (como as de educação do gosto; de defesa do queijo artesanal de leite cru; contra os transgênicos; de promoção dos méis de abelhas nativas; pelo consumo do pescado sustentável; de participações em conselhos de segurança alimentar e nutricional) interagindo com organizações da sociedade civil, setores governamentais e também com a iniciativa privada. Isso nos dá uma visão panorâmica do contexto em que estamos inseridos, permitindo o fomento de cadeias curtas e sazonais, de relações justas e sustentáveis na distribuição e comercialização de produtos da sociobiodiversidade brasileira.
Foi nesse cenário, e inspirado no caso do Slow Food e Eataly italianos, que nos aproximamos da filial brasileira deste mercado. Pelo alinhamento deles com nossa filosofia, percebemos a oportunidade de alimentos de alta qualidade produzidos por cooperativas e pequenos produtores (geralmente de núcleo familiar) alcançar o mercado de forma justa. Além disso, exercemos curadoria de parte dos cursos oferecidos em suas dependências, seguindo a linha basal do movimento de educação alimentar para a sustentabilidade.
No entanto, temos recebido informações de nossa rede de que há ainda uma grande distância entre o discurso e a prática do Eataly, em São Paulo. Ao tomarmos conhecimento desta postura desalinhada com nossas propostas, abrimos o diálogo solicitando esclarecimentos e buscando soluções. Mantivemos o relacionamento enquanto o Eataly se ajustava às dificuldades administrativas que alegavam.
Ao recebermos notícias que confirmam a persistência de situações de inadimplência, vimos a público esclarecer que o Slow Food Brasil desaprova tal conduta e que, nesses e em outros casos que envolvam ações no âmbito do movimento, estaremos dispostos a interceder, dialogar e pressionar para que a situação seja resolvida o mais breve possível. Tal posicionamento não se limita a este caso. Vale para qualquer iniciativa que não se mostre justa com os produtores de comunidades do alimento vinculados ou não à nossa rede.
Informamos ainda que o Slow Food Brasil não foi nem pretende ser financiado pelo Eataly ou por qualquer outra empresa distribuidora de alimentos. Estabelecemos um diálogo ampliado em diversas esferas, seguindo as atuações e interesses de ambas as partes, e temos autonomia para rever esta parceria a qualquer momento. Contamos com a rede para nos manter informados e para continuarmos sendo uma força cada vez maior na luta por uma cadeia do alimento bom, limpo e justo.