Tire o garfo da floresta!

Floresta significa riqueza: de biodiversidade, de espécies animais e vegetais, de recursos, de serviços ecológicos e, como acontece com frequência, também de interesses econômicos. Quanto mais rica a floresta, maior é o interesse que desperta e, portanto, crescem as ameaças à sua sobrevivência. Antes de tudo, é preciso entender a que nos referimos quando falamos de floresta e desmatamento. O desmatamento consiste no percentual de cobertura florestal perdida em um ano por cada hectare de superfície. Estima-se que hoje as florestas ocupem 31% das terras emersas do planeta, isto é, cerca de 4 bilhões de hectares, e que na última década tenham sido perdidos 13 milhões de hectares por ano.

Segurança alimentar: 1.000.000.000 de pessoas dependem das florestas

O desmatamento é um processo que gera profundas consequências para o equilíbrio geral do planeta. Um dos principais efeitos negativos é o impacto sobre o clima e sobre o efeito estufa: junto com as árvores também se perde a capacidade do planeta de capturar o gás carbônico presente na atmosfera, o que contribui para aumentar a concentração de gases de efeito estufa no ar. Não se deve esquecer o gás carbônico que as plantas fixam durante a vida e que volta para a atmosfera com a derrubada. Portanto, um efeito duplo: de um lado, diminui a capacidade de captar gás carbônico livre presente no ar e, do outro, aumenta a liberação efetiva causada pela decomposição ou pela combustão de substâncias orgânicas. Atualmente, calcula-se que o volume de CO2 emitido a cada ano devido ao desmatamento é responsável por 20% das emissões de gases de efeito estufa. Mas o desmatamento têm muitas outras consequências, da diminuição da biodiversidade à perda de ecossistemas, da ameaça de extinção para as populações indígenas que vivem na mata à perda de outros recursos que a floresta pode oferecer (nozes, frutas, plantas utilizadas para fins medicinais ou cosméticos, etc). Basta pensar que, segundo algumas estimativas, a segurança alimentar de um bilhão de pessoas no mundo depende diretamente das florestas.

Um exemplo para todos

A floresta amazônica não é o único pulmão verde do planeta (não podemos esquecer das florestas que recobrem a África Central e o continente asiático), mas o seu caso pode servir de exemplo para entender quais as dinâmicas geradas pelo desmatamento e quais os interesses que vivem a seu redor. A floresta amazônica se estende por mais de cinco milhões de quilômetros quadrados, a maior parte dos quais no Brasil; a sua escala planetária representa a mais ampla concentração de floresta tropical e abriga cerca de um quinto das reservas mundiais de água doce, um décimo da fauna conhecida e mais de 40.000 espécies vegetais. O desmatamento maciço a que é submetida desde os anos 70 (basta considerar que apenas nos últimos cinco anos foram perdidos mais de 45.000 quilômetros quadrados, uma superfície do tamanho da metade de Portugal) tem, além das consequências mencionadas, modificado o regime de chuvas que, com o aumento global da temperatura, está submetendo a região amazônica a um processo constante de desertificação. Os motivos do desmatamento são ligados a complexas dinâmicas sociais, econômicas e alimentares ligadas apenas marginalmente à extração da madeira como matéria-prima: o primeiro responsável é, na realidade, a processo de conversão da floresta em terras agrícolas. O Brasil hoje, além de ser o segundo produtor mundial de soja, representa também uma das principais regiões de pecuária extensiva, duas atividade que requerem grandes extensões de terra. Além disso, com o crescimento demográfico mundial e do consumo per cápita, o mercado da soja e da carne poderá ainda crescer no futuro, gerando ainda mais demanda de terras. Agravando esta dinâmica, há a questão dos biocombustíveis, dos quais o Brasil também é o segundo produtor mundial. O problema, neste caso, está no fato de que o cultivo de cana-de-açúcar para a produção de bioetanol ocupa terras agrícolas em outras regiões do país, substituindo cultivos e criações de gado que devem ser transferidas: «Quanto mais valorizados são os produtos derivados da floresta e os seus serviços ecológicos, mais terras perderão para o desmatamento: é o momento de escolher, criando um “direito internacional de ingerência biológica”, para proteger a biodiversidade e a própria existência das florestas tropicais. É importante prestar atenção diariamente, pois muitas vezes o desmatamento está escondido nos alimentos que comemos; muitas vezes, por exemplo, até na carne de origem italiana, a soja usada para criar o gado vem de plantações que consumiram a floresta amazônica a um ritmo insustentável» lembra Edoardo Isnenghi, professor de certificação florestal da Università della Tuscia, de Viterbo, Itália.

Gestões responsáveis

Mesmo assim, a gestão sustentável da floresta é possível, explorando os recursos e conservando, ao mesmo tempo, a sua enorme riqueza. Não significa que o objetivo melhor seja o desmatamento zero, isto é, manter constante a cobertura arbórea por hectare: se os cortes forem compensados com o plantio de novas árvores, a superfície arbórea pode permanecer constante, mas se perdem a riqueza e a complexidade dos ecossistemas florestais e dos habitats construídos na área desmatada. Trata-se de equilíbrios ecológicos que levam dezenas de anos para se reconstituir. Se o reflorestamento, portanto, nem sempre representa um bom compromisso, o objetivo deve ser a prática de uma gestão sustentável, que se limite a extrair a cada ano apenas o percentual de biomassa florestal que pode voltar a crescer em um ano, mantendo estável o valor total. Existem exemplos de gestão responsável da floresta, e não faltam ferramentas para sabermos se os produtos que estamos usando vêm de florestas geridas de forma responsável: uma delas é a certificação FSC (Forest Stewardship Council ), que garante a origem das matérias-primas (papel, madeira, etc.) de florestas geridas de forma responsável. Desmatamento, perda da biodiversidade e, sobretudo, segurança alimentar em perigo serão os temas da conferência Tire o garfo da floresta, quinta-feira, dia 25, ao meio dia, presidida pelo professor Isnenghi.

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