Público jovem, boa comida e preços convenientes – é assim que, em Belleville e Bastille, restaurantes dão vida a um fenômeno social, transformando bairros
O fenômeno parisiense que muitos chamam de neobistrô não foi descoberto por mim. Uma tendência que está revolucionando os restaurantes em Paris e que cada vez mais ganha as páginas dos jornais pelo sucesso de seus protagonistas. Um dos maiores fenômenos de crítica e público é o Le Chateaubriand, de Iñaki Aizpitarte, que está entre os 50 melhores restaurantes do mundo. Frequentado acima de tudo por jovens: não mais uma elite rica que não tem dificuldade para reservar mesas exclusivas por preços exagerados, mas jovens de jeans e tênis que entendem bem o valor da comida e do vinho e lotam esses endereços de cozinha complexa e inteligente, mas de prazer simples e econômico.
Do bistrô clássico ficaram os preços acessíveis e a informalidade, fórmula típica da Cidade Luz que recentemente tinha perdido muito de seu charme, promovendo apenas uma qualidade média e uma filosofia para atrair turistas. Agora foram remodelados de forma criativa e com os mais variados estilos, do moderno minimalista a um resgate inteligente de velhos restaurantes de bairro. O cenário é efervescente, muitos locais novos que merecem atenção. Podemos dizer que se trata de um fenômeno em grande parte jovem (também pela idade de muitos cozinheiros) e é interessante observar como isso se sobrepõe às mudanças geográficas urbanas que, como em todas as grandes capitais, marcam o renascimento cíclico de bairros pobres e difíceis.
Os jovens são atraídos pelos baixos aluguéis. Aos poucos, a vanguarda e a criatividade que levam junto dão vida a essas áreas, transformando-as em lugares agradáveis de morar e que acabam virando moda. Isso sempre aconteceu em Paris: na década de 1910, em Montmartre; depois foi Montparnasse; depois o Quartier Latin, com o nascimento de novos locais de encontro.
Hoje, o mesmo está ocorrendo em Belleville e na região em torno da Bastilha, onde encontramos alguns restaurantes que precisam ser visitados. Em Belleville, o Le Baratin, que à primeira vista parece um velho bistrô um pouco decadente: decoração pobre, mesas diferentes umas das outras, paredes vazias. Lá servem uma das cozinhas mais genuínas e interessantes, é ponto de encontro de chefs e equipes de cozinha depois de terminarem o expediente no resto da cidade (fica aberto até tarde), oferecendo grande satisfação, sobretudo com os pratos de miúdos e de carne, por cerca de 30 euros, sem vinho. No almoço, há opções por menos (17 euros), e a seleção de vinhos “naturais” inclui belas surpresas, sendo vendidos também por taça. Menus de almoço a preços reduzidos e grande atenção a propostas enológicas que respeitam o meio ambiente (vinhos orgânicos, biodinâmicos, naturais) são praticamente uma constante, como acontece em outros dois locais na área da Bastilha.
Rino (Rue Trousseau, 46) e La Gazzetta (Rue de Cotte, 29), a poucas quadras um do outro, estão redesenhando o mapa do tour gastronômico da cidade. Duas placas em italiano, uma para o cozinheiro nascido na Itália Giovanni Passerini, do Rino, e outra para um sueco, Petter Nilsson, do La Gazzetta. As opções de almoço não custam mais que 20 euros. No jantar, um menu de sete pratos custa mais (há o menu com cinco pratos, por 39 euros).
Os cozinheiros são considerados os melhores dentre os emergentes em nível internacional. Ao contrário do Le Baratin, a cozinha está menos ligada à tradição, mas é tão sóbria que deixa prever um grande futuro para seus autores. Vá antes que se tornem como o Chateaubriand, onde hoje é quase impossível conseguir reserva. E use também algum guia alternativo (como o Le Fooding): descubra muitos outros nomes que lhe darão prazer, sem esvaziar seu bolso.
Texto de Carlo Petrini – sociólogo, autor de livros e fundador do Movimento Internacional Slow Food. / Tradução Flora Misitano, publicado na Revista Prazeres da Mesa