O Diário do Nordeste publicou rica reportagem sobre o II Terra Madre Brasil, veja a primeira parte:
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Confira alguns trechos desta parte da reportagem:
Ações e Grupos que compõem o Movimento
A espinha dorsal do Slow Food é composta inicialmente pelas chamadas “Comunidades do alimento”, grupos de pessoas que operam no setor agroalimentar, desde a produção de matériaprima à comercialização de produtos acabados, de maneira sustentável. Esses grupos normalmente encontram-se bastante ligados a um território do ponto de vista histórico, social e cultural. Não raro essas comunidades compartilham problemas originados pela prática da agricultura predatória, que lesa os recursos naturais e põe em risco a sobrevivência de determinados produtos e dos próprios indivíduos. O Ceará participa dessa teia com algumas Comunidades, a exemplo do Assentamento Boa Vista, de agricultores, em Quixadá, e da Comunidade de Irapuá, de agricultores e apicultores ecológicos, em Nova Russas.
Uma das Comunidades mais conhecidas da Terra Madre Brasil é a Farinha D’água, que reúne produtores diversos, entre eles Benedito Batista da Silva. O seu Bené, como é chamado, produz farinha d’água e farinha de tapioca de maneira artesanal. O C&B teve a oportunidade de provar e garante que o sabor é mesmo diferenciado -até pura a danada da farinha é gostosa! Sem falar no cheiro delicioso.
Também fazem parte da estrutura do SF as chamadas Fortalezas, projetos concretos voltados à promoção dos produtos, por meio do estabelecimento de padrões que assegurem sua qualidade e, principalmente, sua viabilidade comercial, além do autossustento das comunidades envolvidas. As Fortalezas envolvem diretamente pequenos produtores, técnicos e entidades locais. No Brasil há oito projetos, que trabalham com produtos tão diversos quanto arroz e caranguejo. Durante o evento o C&B teve a oportunidade de provar e trazer alguns deles, a exemplo do Arroz Vermelho do Vale do Piancó (PB), uma variedade do grão com excelentes propriedades nutricionais, mas ainda bastante desconhecida no Brasil; e a Castanha de baru (BA), com casca escura e sabor forte.
Outras unidades importantes na estrutura do SL são os Convivia, grupos locais que disseminam os valores do movimento por meio de ações como campanhas para proteger alimentos tradicionais, degustações e palestras, incentivo aos chefs para que usem ingredientes regionais e projetos em escolas.
Encerramento reúne parceiros do Slow Food
A cerimônia de encerramento do Terra Madre Brasil II contou com a presença dos principais parceiros da associação Slow Food, além de seu presidente e fundador, Carlo Petrini (foto). Os parceiros foram unânimes em exaltar a importância da rede global Terra Madre para promover a diversidade cultural a partir da alimentação. Humberto Oliveira, Secretário de Desenvolvimento Territorial (Ministério do Desenvolvimento Agrário) destacou que o Brasil foi o primeiro país no mundo a assinar acordo de cooperação com o Slow Food. “Desde 2004, quando participamos do primeiro encontro da rede em Turim, na Itália, entendemos a importância de estabelecer relação com o movimento”, ressaltou Oliveira.
Em sua fala, Petrini encorajou a rede brasileira a investir na produção de pequena escala e afirmou que não há nada mais moderno que a agricultura local. O líder apontou que nos últimos 50 anos o sistema alimentar industrial levou à destruição do planeta e eliminou 70% da sua biodiversidade. Em seu discurso, levantou também a bandeira contra o desperdício, utilizando dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação). “Produzimos comida para alimentar 12 bilhões de pessoas, sendo que a população mundial é de 6 bilhões. Pedimos para a terra produzir mais, colocamos produtos químicos e depois jogamos tudo no lixo”, declarou.
Embora permeada por observações pertinentes, a fala de Petrini não deixou de apresentar passagens que remetem a certo romantismo, especialmente em relação aos pequenos produtores. Por sua vez, a generalização de que toda grande empresa carece de escrúpulos é simplista, assim como condenar totalmente a globalização. O mesmo vale para a tentativa de definir as tradições culinárias como heranças que não se transformam naturalmente com o tempo (nas palavras do pesquisador italiano Massimo Montanari, “não há inovação sem raízes, não há raízes sem inovação”). Por fim, vale ressaltar que o ritmo de vida não se tornou frenético por conta exclusivamente da ganância, mas por uma série de fatores complexos que envolvem desde a inserção da mulher no mercado de trabalho até as demandas naturais de uma população que cresce e se modifica. Refletir sobre essas questões é fundamental para enriquecer o debate.
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Reportagem de Adriana Martins publicada no Diário do Nordeste, em 26/3/2010