Mel de abelha Mandaçaia

Arca do Gosto // Mel

Foto: Professor Rogério Alves – INSECTA

Mandaçaia é uma palavra indígena que significa “vigia bonito”, que deriva do fato de podermos observar, no orifício de entrada, uma abelha sempre presente, protegendo o ninho. A estrutura desta entrada é construída de modo a permitir a entrada de uma abelha de cada vez, apresentando lindas raias convergentes feitas de geoprópolis.

A M. mandacaia é um abelha brasileira muito mansa, porém, costuma afastar os intrusos com um movimento bastante intenso em redor do possível inimigo, chegando a mordiscar com suas fortes mandíbulas. Sua morfológia apresenta cabeça e tórax pretos, abdome com quatro listras amarelas brilhantes e transversais e o seu tamanho varia entre 8 a 12mm.

Tendo preferência pelas regiões semiáridas, a M. mandacaia nidifica preferencialmente em cavidades presentes em troncos de árvores nativas como a umburana de cambão (Commiphora leptophloeos), algarobeira (Prosopis juliflora), pau-ferro (Caesalpinia ferrea), umbuzeiro (Spondias tuberosa), catingueira (Poincianella pyramidalis) e aroeira (Myracrodruon urundeuva). A espécie tem registros de ocorrência na Bahia, Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Minas Gerais. Porém, estudos recentes, feitos com base em modelagem de nicho ecológico, mostram que esta espécie encontra-se principalmente nas regiões secas e está restrita ao bioma Caatinga ao longo do Rio São Francisco.

 

Melipona mandacaia entrada
Foto: Professor Rogério Alves – INSECTA

Quando criada racionalmente na sua região de origem, a abelha mandaçaia pode produzir até 1,5 litros de mel/caixa/ano, em épocas de boa florada. A colheita do mel é feita manualmente uma vez por ano pelos meliponicultores do território do Sertão São Francisco – extremo norte da Bahia. N​ão existe definição de uma época certa, pois essa atividade é regida pelas condições climáticas locais e desenvolvimento das colônias. O período se inicia logo após as primeiras chuvas, quando aparecem as plantas anuais e rasteiras da Caatinga. A meliponicultura nesta região ainda é praticada como uma atividade secundaria, devido à própria tradição da população local manter em suas varandas, um cortiço para o consumo familiar. Além do uso para a alimentação, o mel da mandaçaia é usado particularmente para medicamento ou tratamentos terapêuticos pelas comunidades ribeirinha e fundo de pasto. Esta pratica ainda se mantém viva com os preparos das “garrafadas” um composto de plantas medicinais da Caatinga e mel de mandaçaia, indicado para mulheres recém-paridas ou no preparo do “lambedor” xarope à base de plantas medicinais e mel de mandaçaia, indicado no tratamento de tosse, bronquite, inflamação na garganta e resfriados.

Atualmente a mandacaia têm sofrido fortes reduções de colônias pelas ações antrópicas, como desmatamento, expansão agrícola, uso desordenado de agrotóxicos no campo. As mudanças climáticas no semiárido baiano tem sido outra ameaça as abelhas, que vem gerando longas estiagens, reduzindo a diversidade de alimento e água nos pastos apícolas.

Conservar a abelha M. mandacaia, não garante somente o acesso ao seu saboroso mel mais significa manter o equilíbrio do ecossistema e a diversidade da alimentação do ser humano,  tendo em vista que este pequeno animal faz um grande trabalho: é responsável pela polinização de muitas espécies vegetais no bioma Caatinga.

Embarcar o mel da abelha Melipona mandacaia na Arca do Gosto significa conservar a biodiversidade local, valorizar as práticas, saberes dos povos tradicionais e transformar o mel desta abelha em um orgulho para as comunidades de alimento do semiárido baiano.

 

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