Butiá

Arca do Gosto // Fruta fresca, desidratada, castanhas e derivados

coquinho azedo, coquinho, coco-cabeçudo

O butiá – ou coquinho azedo, coquinho, coco-cabeçudo – é o fruto das palmeiras do gênero Butia que ocorrem nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Dos pequenos cocos de coloração amarelo/alaranjada, são utilizadas tanto as amêndoas, para fabricação de pães e biscoitos, como a polpa, de sabor predominantemente ácido, para o preparo de geléias, doces e sucos.

Butia é um gênero composto por 20 espécies sulamericanas de ocorrência no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, nos campos, cerrados e restingas. Destas, pelo menos dezessete têm ocorrência identificada no Brasil, do qual pelo menos uma já é considerada extinta. É frequente a distribuição de plantas em populações agregadas conhecidas como palmares ou butiazais. Apesar da diversidade de espécies do gênero, nem todas apresentam fins para a alimentação humana reconhecidas apesar de diversos autores indicarem o potencial do gênero como plantas frutíferas. A polpa do fruto é muito apreciada para o consumo in natura, para fabricação de doces, sucos, licores e sorvetes; e as sementes podem ser utilizadas para a fabricação de óleo comestível.  As espécies que são reconhecidas e exploradas para fins alimentares são B. capitata, B. catarinensis, B. eriospatha, B. odorata, B.paraguayensis, B. purpurascens, B. yatay.

A espécie B. capitata é nativa do Cerrado, com ocorrência natural nos cerrados e cerradões do oeste baiano, noroeste mineiro e nordeste goiano. É encontrada geralmente em área onde se predomina vegetação aberta, próximo de corpos d´água, cujos terrenos são arenosos. A planta possui altura máxima de 4 metros e as características mais marcantes do fruto são: forma esférica, pequena, sabor azedo e doce e polpa bastante fibrosa. Rico em vitaminas A e C, potássio e óleo. As sementes/amêndoas são protegidas por um caroço e também podem ser consumidas.

Na região de Laguna, no estado de Santa Catarina, predomina a ocorrência da espécie B. catarinensis, cuja distribuição geográfica vai do litoral centro-sul de Santa Catarina até Torres, no Rio Grande do Sul. Palmeira de pequeno porte, de altura máxima de 2 metros, ocorre exclusivamente na restinga, um tipo de vegetação que ocupa os solos arenosos das zonas costeiras. É coletado de novembro a abril, época que abrange o auge do turismo litorâneo na região.

No Rio Grande do Sul predomina a ocorrência da espécie B. eriospatha, palmeira de porte relativamente maior, distribuída em altitudes mais elevadas, nos campos e regiões serranas do estado. Por conta disso, também é conhecida como butiá-da-serra, cujos frutos amadurecem de janeiro a março. Nessa região, o butiá é utilizado principalmente para a aromatizar cachaça ou preparar licores.

O B. yatay tem importantes potenciais, tanto para o paisagismo como para a alimentação pela fauna ou para o consumo humano, no entanto essas utilidades são totalmente menosprezadas, sendo listada como espécie ‘em perigo’ no Rio Grande do Sul.

Tradicionalmente, os frutos do butiazeiro são muito utilizado pelos nativos, sendo vendidos in natura na beira das estradas para o preparo de sucos ou aromatização de cachaça. Geléias, licores e molhos de butiá também são muito apreciado. O picolé de butiá é também uma grande sensação das praias de Laguna (SC) no verão.

A crescente degradação pelo avanço das fronteiras agropecuárias, das monoculturas florestais e urbanização das áreas de distribuição natural da palmeira ameaça diretamente as populações do butiá.

No caso do Cerrado, a ameaça mais significativa ao Butia capitata está no avanço do desmatamento, que cresceu de forma significativa nos últimos 40 anos, influenciado pela expansão das fronteiras agrícolas e das áreas agriculturáveis no país (tanto para fins de monocultura quanto para pastagens).

Em Santa Catarina, onde a Butia catarinensis é endêmica da região costeira, os butiazais são extremamente pressionados pela expansão urbana provocada pela especulação imobiliária associada ao turismo.

Já no Rio Grande do Sul, a Butia eriospatha foi e continua sendo pressionada pela expansão das fronteiras agrícolas, tendo em vista as características propícias dos campos onde ocorre para o desenvolvimento da pecuária e plantio de cultivos intensivos.

A estratégia de conservação dos palmares, baseado no uso sustentável, requer a valorização econômica e social do recurso para o desenvolvimento local e promoção de mercados para produtos silvestres, realizados de forma sustentável.

A proteção da planta e do seu extrativismo sustentável torna-se, assim, uma estratégia em relação a estes avanço, permitindo, além da geração de renda para muitas pessoas, contribuir para a conservação dos biomas, protegendo a diversidade de plantas e animais, as nascentes, cursos d’água e a riqueza cultural dos seus povos.

O aproveitamento do butiá pelas comunidades incentiva a conservação de seu hábitat natural e, constituindo-se como fonte alternativa de renda; associado à outras atividades agroflorestais, viabiliza a permanência das comunidades em seu local de origem.

Referências:
Lima VVF, 2011 – Coquinho Azedo
Lorenzi H, 2010 – Flora Brasileira – Arecaceae (Palmeiras)
Lorenzi H et al., 2006 – Frutas Brasileiras e Exóticas Cultivadas (de consumo in natura).
Soares KP, 2013 – O gênero Butia (Becc.) Becc. (Arecaceae) no Rio Grande do Sul com ênfase nos aspectos ecológicos e silviculturais de Butia yatay (Mart.) Becc. e Butia witeckii K. Soares & S. Longhi

sites:
Cerratinga – Coquinho Azedo
Come-se – Resposta à charada. Ou É tempo de butiá. Ou Receitas com Butiá
G1 – Coquinho azedo é estudado por professores e acadêmicos da UFMG e UnimontesCoquinho azedo é estudado por professores e acadêmicos da UFMG e Unimontes
Sítio do Bello – Coquinho Azedo
WWF – Coquinho-azedo

Indicação

Adilson Maia Lunardi e Jacira Conceição dos Santos

Pesquisa

Bernardo Simões, Ligia Meneguello e Glenn Makuta

Este produto compõe o projeto

Alimentos bons, limpos e justos

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