O projeto Sociobiodiversidade Amazônica, da Associação Slow Food do Brasil, esteve em campo no Amazonas, com Bruno Franques e Zhamis Benício, em três comunidades parceiras, durante os dias 27 de junho a 13 de julho. Estas comunidades são as seguintes com suas respectivas associações: Peniel do Areal e representada pela Associação dos Produtores Orgânicos do Careiro da Várzea (APRORCAV); Brasiléia, rio Urupadi e Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadi (AAFAU); Ilha Michiles, na Terra Indígena Andirá Marau e Associação dos Indígenas Sateré-Mawé da ilha Michiles e do Baixo Marau – Wepainug (nome em Sateré-Mawé desta Associação). A APROCARV se localiza no município do Careiro da Várzea e a AAFAU e Weipanug no município de Maués.
Nestas atividades foram desenvolvidas uma série de metodologias participativas nas atividades em grupo, como o World Café, Cartografia Social, Oficina de Ecogastronomia com os homens, entre outras. Somado a isso, ocorreu a aplicação de duas ferramentas de desenvolvimento de cadeias de valor sensíveis ao gênero, da Agência de Cooperação Técnica da Alemanha (GIZ) no Brasil: Mapeamento da cadeia de valor sensível ao gênero (Ferramenta 1) e Análise de gênero de uma organização de produtores e produtoras (Ferramenta 3). O material que descreve estas ferramentas pode ser encontrado aqui.
Outro documento importante cujo desenvolvimento teve início neste primeiro campo, foi o Protocolo para Sistemas Agrícolas Tradicionais (SAT), o qual abarca diversos pontos, como o detalhamento das práticas do modo de produção agrícola, acesso às políticas públicas, ao mercado, entre outros assuntos. Para isso, além das informações oriundas das reuniões promovidas, a visita aos sistemas agrícolas destas comunidades, com a aplicação das metodologias de Cartografia Social, Turnê Guiada e Observação Participante, foi uma etapa importante para melhor compreensão destas agriculturas.
Vale destacar as particularidades de cada uma destas comunidades. No Peniel do Areal, este grupo de agricultores e agricultoras familiares produzem abacaxi orgânico que possui certificação pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG) Maniva. A qualidade deste abacaxi é conhecida na região, em especial em Manaus, onde os produtos são comercializados nas feiras orgânicas e convencionais da cidade. A produção orgânica de guaraná pelos produtores e produtoras da AAFAU – ribeirinhos e ribeirinhas que produzem de maneira tradicional – é atestada por meio de auditoria e tem ganhado destaque pela qualidade da produção. O produto, beneficiado e embalado como pó de guaraná orgânico, é comercializado na feira da Ufam em Manaus e está em processo de exportação para Europa. As atividades com a Weipanug, associação recém-criada no baixo Marau, na TI Andirá Marau do povo Sateré-Mawé, tem o destaque da inserção de produtores e produtoras individuais no edital da alimentação escolar indígena no município de Maués.
A aplicação destas ferramentas em campo pode contribuir com a identificação de restrições para o desenvolvimento destas associações de base, tendo um foco na questão de gênero. A partir da compreensão dessas restrições, esperamos criar estratégias para o enfrentamento das mesmas e assim traçar possibilidades de solucioná-las. Nesse sentido, reforçamos a importância da atuação em rede com demais instituições, governamentais e não-governamentais, para junto com estas associações, avançarmos com o desenvolvimento local.
Logo mais teremos novas atividades de campo e esperamos contribuir com novos passos com as comunidades. Para isso, devemos avançar com informações referentes às produções locais e possível fornecimento para os editais de compras públicas, seja ao município ou ao estado. Além disso, pretendemos fortalecer o catálogo Arca do Gosto do Slow Food na Amazônia, um método utilizado pela instituição para catalogar produtos com algum grau de ameaça de extinção.
A Associação Slow Food do Brasil estabeleceu uma parceria para o desenvolvimento do projeto Sociobiodiversidade Amazônica com o projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Este projeto está acontecendo nos estados do Amazonas, Acre e Pará ao longo de 2022 e 2023.