Oitenta quilos de alimentos que iriam para o lixo – recolhidos em uma feira livre, em um mercado e em um evento gastronômico- foram transformados em um jantar para 350 pessoas na noite da última quinta, em São Paulo.
O restaurante Dalva e Dito, de Alex Atala, virou palco da Disco Xepa, misto de jantar e balada organizado pelo movimento Slow Food. A proposta: alertar contra o desperdício de alimentos.
A festa foi realizada pela primeira vez no país. A ideia, agora, é fazer dessa balada gastronômica um evento regular; a organização prevê ao menos dez edições já para o ano que vem.
O conceito é importado da Europa. Desde 2012, quando foi criada pelo braço jovem do Slow Food holandês, a Disco Soup teve edições em cidades como Berlim, Nova York e Paris; em algumas, atraiu mais de 5.000 pessoas.
“Esse é um movimento que nasceu dos jovens”, disse à Folha o italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food na década de 1980. “Só eles parecem ter energia e cabeça aberta para criar um novo paradigma.”
Segundo um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), o mundo desperdiça 1,3 bilhão de toneladas de alimentos por ano -26 milhões no Brasil.
“A comida perdeu o valor; hoje, 40% do que se produz vai diretamente para o lixo”, diz Petrini.
Xepa da Xepa
No jantar de quinta-feira, os chefs reaproveitaram a xepa de uma feira livre -para fazer ratatouille e penne com legumes- e sobras de pratos preparados em aulas da Semana Mesa SP; uma carne de porco preparada no evento organizado pelo Senac foi desfiada e enriqueceu um cuscuz e um prato com espuma de mandioquinha.
Do jantar feito com sobras, aliás, sobrou muita coisa -nada foi para o lixo. Os restos serão reaproveitados mais uma vez, em compotas e chutneys.
Texto publicado no caderno Comida da Folha de S.Paulo em 13/11/2013