Entrevista com Paolo di Croce, do Slow Food

Organizar um evento como o Salone del Gusto requer paciência, uma certa teimosia e muito jogo de cintura. Levar até Turim, gente de mais de 100 países e produtos artesanais, vindos de locais e produtores sem regulamentação, caso do mel de abelhas nativas, da farinha de mandioca feita na casa tradicional casa de farinha, para citar apenas dois casos brasileiros, exige uma logística imensa. Paolo di Croce, Secretário Geral do Slow Food Internacional, falou ao Paladar sobre a logística e os bastidores do Salone del Gusto. Leia a entrevista:

 

Como você descreveria o Salone del Gusto?
A ideia do Salone del Gusto é aproximar o consumidor do produtor empenhado em criar um alimento bom, limpo e justo. Quando trazemos agricultores, pescadores, vinhateiros, queijeiros e outros artesãos de mais de 100 países queremos mostrar que alimentos bons existem no mundo todo.

Qual a diferença para uma feira gastronômica?
O Salone é mais que um evento gastronômico. É um acontecimento cultural. Ao promover o encontro entre o produtor e o consumidor é possível conhecer mais a respeito do alimento, mas não só. Aprende-se sobre o modo de vida das pessoas. É também um evento político, pois incentivamos os freqüentadores a pensar sobre o alimento e a questionar sua qualidade, a forma como é cultivado.

Este ano o Salone terá produtores vindos de mais de 100 países. Como esses produtos entram na União Europeia?
Trazer alimentos de tantas partes do mundo para Turim é de uma complexidade imensa. Há uma série de leis e regras que temos de seguir. Muitos produtos não são registrados em seus próprios países o que dificulta ainda mais.

Como proceder nestes casos?
Contamos com a colaboração do Ministério da Saúde da Itália. Antes do evento, trazemos amostras dos produtos e todos eles são analisados para que não haja problema na importação.

Além dos produtos, como garantir que ninguém seja barrado ao chegar à Europa?
Essa é outra questão delicada, mas felizmente contamos com o apoio do Ministério das Relações Exteriores. Temos cerca de mil vistos aprovados para produtores que vêm da África, da Ásia e da América Latina.

Turim e várias cidades do Piemonte se mobilizam para hospedar os convidados do Salone. Como funciona esse modelo?
Este tipo de hospedagem começou em 2004 e tem sido um sucesso. Turim e quase uma centena de pequenas cidades vizinhas se organizam com um cadastro. Cada família participante (este ano são 500) se dispõe a hospedar um convidado.

Como organizar a convivência de pessoas de línguas e culturas tão diversas?
Apesar das dificuldades de comunicação – imagine uma família em uma cidade minúscula recebendo um agricultor de Burkina Faso, por exemplo -, é incrível notar como as pessoas interessadas em compartilhar experiências e culturas conseguem se entender.


Entrevista realizada por Cintia Bertolino e originalmente publicada no Paladar/Estado de S.Paulo

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