Dez dicas para se fazer uma horta boa, limpa e justa

Aqui estão dez dicas que permitem a realização de uma horta boa, limpa e justa em qualquer lugar do mundo. São regras simples, elaboradas graças à experiência e à competência de quem trabalha no campo. Esse texto foi preparado a partir da experiência do projeto Mil hortas na África, desenvolvido pela Fundação Slow Food para Biodiversidade.

1. Crie a equipe ideal

A primeira coisa a fazer para criar uma horta comunitária que funcione é envolver a comunidade, aproveitando a capacidade de cada um. A comunidade é uma reserva inesgotável de saberes e habilidades.

Os idosos, com frequência, possuem saberes preciosos sobre alimentos tradicionais, sabem como combater insetos nocivos com métodos naturais e assim por diante. Em uma das hortas da Guiné-Bissau, por exemplo, um idoso mostrou aos coordenadores do projeto uma planta autóctone que protege a horta das formigas. Nenhum dos jovens, nem os especialistas, conhecia este remédio.

Os agricultores sabem como cultivar e trabalhar melhor no próprio clima e na própria terra. Os professores podem contribuir na elaboração de atividades educativas complementares. A mídia local pode contar a história do projeto. Os agrônomos podem dar explicações científicas e assistência técnica. Os jovens têm a energia e o espírito de iniciativa para agir.

2. Observe antes de fazer

Aprenda com a história e com outras experiências positivas. Visite outras hortas escolares e comunitárias vizinhas para aprender com o sucesso e os erros dos outros. Observe atentamente o seu território para conhecer as variedade locais, selvagens e cultivadas. Colabore com programas e organizações que trabalham com projetos alimentares sustentáveis.

3. Escolha um terreno disponível

Não precisa ser necessariamente uma área muito grande. No Senegal, a Mbao High School realizou uma horta num terreno ao redor do perímetro da escola, criando um longo canteiro em forma de L. Observe o espaço com olhar criativo e escolha um terreno que possa ser cultivado (Um telhado? Uma ruela?) ou recorra às instituições das comunidades: talvez possam ter terrenos disponíveis.

4. Projete a horta

Antes de sujar as mãos, desenvolva um projeto que defina áreas destinadas a canteiros, composto, caminhos, local para guardar ferramentas etc. A contribuição de agricultores e agrônomos da equipe será preciosa nesta fase, pois sabem onde determinadas espécies crescem melhor e que plantas devem ser cultivadas juntas.

5. Escolha variedades tradicionais

Prefira as variedades tradicionais da sua região, mais adaptadas ao clima e ao solo, as quais se adaptaram ao longo de séculos graças à seleção feita pelo homem. As variedades tradicionais preservam a biodiversidade, são mais resistentes, precisam de menos fertilizantes e pesticidas e são, portanto, mais sustentáveis do ponto de vista ambiental e econômico. Se não souber como encontrá-las (às vezes não são mais cultivadas pelos agricultores locais), procure sociedades de horticultura e grupos de conservação de sementes.

6. Procure as sementes

Se os viveiros locais não tiverem variedades autóctones ou tradicionais, as sementes podem ser encontradas em muitos lugares: bancos de sementes, agricultores, institutos de pesquisa. Um dos principais objetivos da horta é produzir de forma autônoma as próprias sementes, alcançando, pouco a pouco, a autossuficiência. As sementes podem ser produzidas também para as hortas vizinhas; podem ser trocadas na comunidade ou com comunidades vizinhas. Em Uganda, por exemplo, a escola maternal Buiga Sun Rise começou a produzir sementes há alguns anos, mas produz sempre mais do que precisam para a safra seguinte. A solução? Doar as sementes em excesso para as escolas vizinhas, que retornam o favor na safra seguinte, sob forma de sementes diversas.

7. Procure as ferramentas

Faça uma lista de ferramentas essenciais para começar o trabalho e dos objetos que gostaria de comprar no futuro. Desta forma, a coleta de fundos necessários para a horta pode ser executada em diversas fases. Peça contribuições às empresas locais. Use aquilo que já tem; peça a membros da comunidade que vejam entre as suas ferramentas o que pode ser usado. Na República Democrática do Congo, por exemplo, quando necessário, os agricultores de Kinshasa trazem de casa rastelos, enxadas, pás ou regadores, e todos contribuem com dinheiro para comprar o que faltar.

8. Use métodos sustentáveis

As substâncias naturais para melhorar a fertilidade do solo e combater insetos nocivos e doenças são eficazes se parte de um sistema integrado, que inclua também a rotação de culturas (evitando o cultivo da mesma espécie, na mesma estação em anos consecutivos: por exemplo, tomates seguidos de tomates) e cultivos consorciados (plantas que se ajudam mutuamente).

9. Transforme a horta em aula ao ar livre

As hortas são uma ótima oportunidade para ensinar a adultos e crianças sobre as variedades vegetais autóctones, os métodos de cultivo ecológicos, a importância de uma dieta variada. Graças a seu caráter interdisciplinar, permitem o estudo dos mais variados assuntos: história, através de tradições culturais e culturas; geografia, partindo da origem dos produtos; matemática e geometria, no planejamento da horta e no cálculo do valor estimado de seus produtos. Os alunos de uma horta na África do Sul, por exemplo, estudaram o ciclo de vida das borboletas na sala de aula e depois foram para o campo para observar larvas e casulos. As hortas oferecem às crianças a oportunidade de estudar assuntos como tradição alimentar e nutrição correta que, de outra forma, não são abordados em aula.

10. Divirta-se!

Segundo a filosofia do Slow Food, a responsabilidade deve andar de braços dados com o prazer. O que seria de uma horta boa, limpa e justa sem uma boa dose de diversão? As hortas podem fortalecer a comunidade, ajudam os membros a se sentirem parte dela, aproximando gerações e grupos sociais diversos, criando momentos de convívio, solidariedade e amizade.
Em Uganda, por exemplo, o convivium de Mukono organiza todos os anos a festa da fruta e do suco: moradores preparam sucos frescos e comem frutas colhidas nas hortas da escola, festejando com pais, professores e líderes locais.

>> Para uma orientação mais detalhada para a criação de uma horta, consulte o Manual das Mil Hortas na África

>> O ambicioso projeto de criar 1000 hortas na África já passa da metade de seu objetivo (já são 567 hortas e o número continua crescendo!). O que é que você está esperando? Siga os nossos amigos do projeto – da Tunísia à África do Sul – arregace as mangas e comece a semear!

>> Para apoiar o projeto Mil Hortas na África ou para adotar uma horta, visite:
www.slowfoodfoundation.org

Deixe um comentário:

Últimas notícias

Visual Portfolio, Posts & Image Gallery for WordPress

Declaração de Puebla

Lançada no Quinto Congresso Internacional Slow Food em Puebla no México, em novembro de 2007  Mais de vinte anos desde a fundação da associação italiana e dezoito anos desde o nascimento da...

Manifesto Slow Food

O movimento internacional Slow Food começou oficialmente quando representantes de 15 países endossaram este manifesto, escrito por um dos fundadores, Folco Portinari, em 09 de Novembro de 1989. "O nosso século, que...