As organizações de bem-estar animal na Europa receberam com grande entusiasmo a proibição da criação de poedeiras em gaiolas, esperada há tanto tempo. A medida, em vigor em toda a Europa desde dia 1° de janeiro de 2012, com o apoio de cientistas e público, deixou um gosto amargo na boca, pois o sistema alternativo previsto garante condições apenas marginalmente melhores.
Depois de um período de eliminação progressiva que durou 12 anos, a diretiva sobre as galinhas poedeiras de 1999 proíbe definitivamente as jaulas não modificadas para poedeiras, reconhecidas como o método mais desumano de criação avícola. As gaiolas são tão pequenas que condenam os animais a uma vida breve e dolorosa, sem espaço sequer para possam abrir as asas. A diretiva exige que todas as jaulas sejam substituídas por versões assim ditas “enriquecidas” (ou modificadas), mais amplas e dotadas de áreas limitadas para ninho, poleiro e comedouro. No entanto, se isto pode parecer um excepcional avanço, os grupos que se interessam pelo bem-estar animal mantêm que as novas gaiolas continuam sem garantir condições de vida adequadas.
Ao longo da pesquisa sobre o assunto, The Ecologist descobriu que as gaiolas modificadas oferecem a cada animal um espaço a mais do tamanho de um cartão postal, insuficiente para permitir que abram completamente as asas. “A maior parte dos animais, nas gaiolas modificadas, continuará a passar boa parte do tempo sobre uma rede metálica inclinada, com pouco espaço para se mover”, afirma The Ecologist, “além de continuar a não ter acesso ao ar fresco ou à luz natural”.
Mara Miele, Senior Fellow da Cardiff University e participante do projeto Welfare Quality da UE, afirma que a abolição das jaulas poedeiras nos aviários continuará a ser ignorada em muitos países, sobretudo porque a situação de padrão de bem-estar melhor pode ser vista como um obstáculo ao comércio. “Na China ou na África, estão sendo introduzidas as gaiolas como fator de modernização e redução de custos,” explica Miele. “Será sempre mais difícil promover medidas a favor do bem-estar animal na Europa, dada a concorrência de ovos vendidos a preços inferiores, produzidos em países que ainda usam as jaulas para poedeiras”.
Além do efetivo respeito pela diretiva em toda a Europa, as associações para o bem-estar animal têm uma outra preocupação: uma rotulagem dos ovos indicando serem de galinhas criadas em “gaiolas enriquecidas” induzirá erroneamente o consumidor a adquirir um produto que parece mais ético, mas que na realidade não respeita o bem-estar dos animais.
Por isto, sensibilizar os consumidores e fazer com que tenham acesso a informações corretas será fundamental para sustentar o desenvolvimento, na Europa, de estruturas de criação avícola que garantam condições humanas e sustentáveis. Mês passado, o Slow Food encontrou associações para o bem-estar animal provenientes de todo o mundo para discutir as questões de proteção e bem-estar dos animais 2012-2015, durante a conferência“Empowering consumers and creating market opportunities for animal welfare” e do 1st Global Multi-stakeholder Forum on Animal Welfare, organizada pela FAO.
Para aprofundar a questão do bem-estar dos animais na agricultura europeia, leia o recente artigo de Carlo Pertini, “A felicidade de volta à quinta dos animais”.