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Relato do Tour Gastronômico pelo Recife

Recife dos Mercados e dos Grandes Mestres da Cozinha Pernambucana

                Recife, sábado, 7h da manhã. Cedo? Pensou que era o Galo da Madrugada? Pois errou feio… Enquanto que os primeiros raios de sol ainda se responsabilizavam em despertar a cidade, um grupo, também muito animado, o do Convivium Slow Food Recife, já estava de pé. Muita energia e fome no ar, redescobrir a cidade do dia-dia através da honesta e boa mesa pernambucana era a proposta. Auto-mastigar a cidade que muitas vezes passa despercebida, era o tour dos personagens e dos recantos, um incrível antropofagismo à Oswald de Andrade…

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Em Recife a vida pulsa nos mercados públicos, nesses espaços, o caráter de sua gente é literalmente revelado. No Mercado da Encruzilhada, localizado no bairro homônimo e aglutinador da zona norte da cidade, foi o primeiro ponto de encontro do grupo. Construído na década de 50, nos seus mais de 200 boxes, são comercializados de tudo: verduras, cereais, miudezas em geral, artesanato, frios, carnes e aves. Destaque para a carne de sol e para a lingüiça de porco caseira, uma das melhores da capital.

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Muita gente nova, companheiros de convivium antigos e um enorme e verdadeiro café da manhã nordestino: macaxeira, charque, inhame, cuscuz, queijo coalho, galinha e carne guisados, ovos, leite, café e sucos de cajá e mangaba.Todos se deliciaram. Fartura na mesa e no sabor da tradição. Realizamos um city mercado e partimos para o centro do Recife.

           

     Todos apostos, e lá fomos nós, inicia-se a caminhada. Primeiro conhecemos o Mercado da Boa Vista.  Construído no início de século XIX (porém não se sabe ao certo a data da sua inauguração), o local já funcionou uma estrebaria, um cemitério e há poucos registros oficiais, porém na época da escravidão foi também um mercado de escravos. No seu interior muito arborizado, seus boxes servem da tapioca e do manguzá no café; à fava, feijão verde, carne de sol com manteiga de garrafa no almoço.

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 Ao lado do mercado, preste a completar 50 anos, localiza-se a mais tradicional padaria da cidade, a Santa Cruz. Aqui, materializa-se uma das melhores tradições do Nordeste: a arte dos doces e dos bolos. Fomos carinhosamente acolhidos pela proprietária, a Sra Ana Amorim, conhecemos toda a produção e ainda fomos agraciados por uma lembrança (cada participante ganhou uma caixinha com mini bolinhos de mel, um mini pão-de-ló, torradas de manteiga…).

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Partimos para o maior palco da Cozinha Pernambucana em céu aberto, o Pátio de São Pedro (também patrimônio da arquitetura barroca brasileira). Que aliás, neste dia foi muito gentil conosco, São Pedro deu uma trégua nas chuvas e nos presenteou com aquele sol a pino de verão. Passagem rápida pelo Restaurante Bangüê (sinônimo de engenho primitivo ou padiola usada para carregar o bagaço da cana depois da moenda). Casa da década de 60 que possui como carro-chefe um pernil de cabrito assado, dos deuses!  Entramos no Buraquinho, casa que possui a garçonete mais antiga em atividade no país, Dona Dora. Meio século de serviço. E, fizemos a última parada do Pátio, no tradicionalíssimo Bar de 1955, o Buraco do Sargento. Aí sim, para nos refrescar e degustar todos os quitutes que o pessoal pode encontrar no caminho: camarões frescos pré-cozidos, castanha de caju, e uma cachaça, afinal, ninguém é de ferro!!

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Chegamos no Mercado de São José. Inaugurado em 1875, representa uma das primeiras construções do Brasil com toda a estrutura feita em ferro. A construção seguiu o modelo do Mercado de Grenelle, na França. O Mercado tem 542 boxes, onde são comercializados artesanato, carne e peixe frescos. Em seguida, no próprio mercado, estava sendo realizado uma exposição de Cozinha Brasileira e Nordestina, estavam expostos diversos livros de culinária (do século XIX inclusive) e alguns utensílios de cozinha bastante antigos para contemplação.

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 Todos para o ônibus e vinte minutos depois já estávamos no nosso próximo destino. Periferia do Recife, Morro da Conceição, um dos principais pontos de romaria da cidade, principalmente no dia 8 de dezembro, quando milhares vão reverenciar a Imagem de Nossa Senhora da Conceição, considerada pelo povo, a padroeira da Cidade.

 

 

bar_da_geralda.jpgO motivo da peregrinação entretanto agora era outro, conhecer o Bar da Geralda. Uma degustada de um sarapatel aqui, uma conversa com a Dona Geralda acolá…

  

 

 

 

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E, finalmente, fomos almoçar no Restaurante da Mira, no Bairro de Casa Amarela. Em 10 minutinhos já estávamos lá…

 

 

 

 

 

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 Dona mira, considerada a Dama da Cozinha Pernambucana é uma simpatia. Na sua cozinha, a pernambucana de raíz, como afirma Gilberto Freyre, verifica-se a contemporização das três tradições (européia, indígena e africana) sem sacrifício. O equilíbrio, tão marcante nesta cozinha é predominante. Um banquete estava a nossa espera: chambaril, rabada, galinha de cabidela, pirão, cabrito frito e guisado, feijão preto, arroz. Nessa altura, já era fim de tarde, todos cansados mas felizes.

Viva a Cozinha Pernambucana, do Nordeste, do Brasil!!!

  


Por Thiago das Chagas (Líder do Convivium Slow Food Recife).

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