Aqueles que, há poucos dias, tiveram a oportunidade de participar do Terra Madre Brasil, o encontro das comunidades do alimento, e circular pelo espaço da Feira da Agricultura Familiar, se encantaram com toda a diversidade de saberes e sabores que temos neste nosso País. A reflexão que queremos trazer aqui diz respeito a essa diversidade.
Sabemos que as práticas alimentares são carregadas de significados: alimentamo-nos não apenas de nutrientes, mas também de imaginário. Quando vemos o processo de preparação e consumo de alimentos de um povo distante, lá da Amazônia talvez, nos damos conta de como as práticas alimentares são ritualizadas. Mas será que o gaúcho percebe que o churrasco de domingo é também um ritual? Ou o carioca, quando come uma feijoada, rodeado de amigos e parentes? Tantos são os exemplos que poderíamos lembrar!
Maria Lúcia Barreto Sá descreve, em um belo texto, A quinta do caranguejo, um ritual alimentar, que se realiza não em algum canto longínquo do interior deste Brasil, mas em uma de suas grandes cidades, Fortaleza.
Com isso, podemos observar que os rituais alimentares estão presentes na vida de todos nós. Só que, muitas vezes, nos damos conta dessa dimensão simbólica da alimentação apenas quando olhamos para algo que nos parece exótico… não é mesmo?
* Renata Menasche é antropóloga, professora e pesquisadora, autora do livro A agricultura familiar à mesa: saberes e práticas da alimentação no Vale do Taquari.