O mel das abelhas canudo, Scaptotrigona xantothrica, é único dentre os méis produzidos pelas mais de 300 espécies de abelhas nativas sem ferrão do Brasil. A Amazônia, local de ocorrência da abelha canudo, concentra cerca de 150 do total de abelhas que ocorrem no país. Esse mel pode ser considerado como silvestre, pois a quantidade de plantas diferentes visitadas pelas abelhas na floresta é muito grande. Ou seja, diante da biodiversidade da Amazônia é difícil saber exatamente quantas flores de diferentes plantas as abelhas visitam para coletar tipos diferentes de néctar.
Dessa maneira, como as abelhas usam muitos tipos de néctares diferentes, produzem também diferentes tipos de mel. Porém, sabe-se que a abelha canudo tem uma importância destacada na cultura do povo Sateré-Mawé, por ser uma das principais polinizadoras da flor do waraná (Paullinia cupana), planta sagrada e também nativa da Amazônia, com centro de origem na Terra Indígena. Sendo assim, é provável que uma parte considerável do néctar utilizado pelas abelhas Canudo realmente seja das plantas de waraná. O pico de produção do mel está entre os meses de setembro e dezembro, coincidindo com os períodos mais secos do ano na Amazônia. É nesse momento que as floradas das árvores estão mais intensas.
A ligação do povo Sateré-Mawé com as abelhas canudo remete a períodos pré-colombianos, antes da invasão da América pelos europeus. Uma das lendas do povo Sateré-Mawé conta que quando Anumaré Hit se transformou em sol, convidou sua irmã Uniawamoni para segui-lo. Mas ela preferiu continuar na Terra, e acabou por se transformar em uma abelha sem ferrão para continuar a polinizar as flores do waraná, a planta sagrada Sateré-Mawé.
A área de produção do mel abrange a Terra Indígena Andirá-Marau (Decreto 93.069/1986). A área recebeu esse nome, pois é delimitada pelas cabeceiras do Rio Andirá, ao norte, e do Rio Marau ao sul. Está situada na fronteira entre os estados do Amazonas e Pará, região Norte do Brasil, e abrange parte dos municípios de Parintins, Barreirinha e Maués (no Amazonas) e Itaituba, Aveiro e Juruti (no Pará), territórios do Baixo Amazonas do Amazonas e do Pará, no bioma Amazônia. Corresponde a uma área cujo usufruto é exclusivo à etnia Sateré-Mawé, que tradicionalmente a ocupa, com base no Art. 231 da Constituição Brasileira.
O povo Sateré-Mawé conta com cerca de 14.000 pessoas distribuídas em cerca de 120 aldeias na Terra Indígena, a qual soma cerca de 789.000 hectares.
A Fortaleza
A Fortaleza do Mel de Abelha Canudo Sateré-Mawé foi criada ao longo dos anos de 2006 e 2007, com o intuito de reconhecer e fortalecer, a exemplo da Fortaleza do Waraná, o manejo das abelhas nativas sem ferrão da espécie Scaptotrigona xanthotricha, pelo povo Sateré-Mawé. É mantida pelos produtores ligados ao Consórcio dos Produtores Sateré-Mawé (CPSM) que, por sua vez, integra o Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGTSM). O CPSM faz toda a gestão, controle, processamento e comercialização também do mel. Atualmente o Consórcio dispõe de um protocolo de produção para o mel de abelha canudo, onde estipula-se que todos os guaranazais devem ter, no mínimo, uma caixa-colmeia dessa espécie de abelha em seu interior. É sabido que esta abelha, especificamente, é uma das principais polinizadoras da flor do guaranazeiro. O CPSM também representa os produtores Sateré-Mawé em eventos nacionais e internacionais, bem como em espaços políticos relacionados à questão indígena.
O produto defendido por essa Fortaleza possui valores culturais e ambientais imensuráveis, fazendo parte intrínseca da cultura alimentar do povo Sateré-Mawé. Mas, assim como ocorre em outras partes do país com meles de outras espécies de abelhas nativas, o mel de abelha canudo é um alimento muito sensível ao esquecimento e à perda do costume de seu consumo, inclusive entre os Sateré-Mawé.
Sendo assim, a Fortaleza do Mel de Abelha Canudo Sateré-Mawé foi criada como uma ação irmã da Fortaleza do Waraná, já que as abelhas têm papel importante na polinização dessa planta sagrada. Uma vez que a produção do waraná é fortalecida e mantida, a planta oferece néctar de ótima qualidade para produção de méis com características únicas na região.
Área de produção/território
Terra Indígena Andirá-Marau. Amazônia, Brasil
Agricultores e produtores
Atualmente cerca de 30 produtores de mel de abelha Canudo integram o CPSM e, consequentemente, a Fortaleza do Mel de Abelha Canudo Sateré-Mawé. Todos eles vivem dentro da Terra Indígena Andirá-Marau, em suas diversas aldeias.
Responsáveis
Referente Slow Food
Carlos Demeterco (Slow Food Brasil – Facilitador Norte): [email protected] / +55 92 99492-3900
Referentes Fortaleza:
Obadias Garcia (CGTSM): [email protected] / +55 92 99146-8104
Eudes Batista (CPSM): [email protected] / +55 92 99138-8367
Sérgio Garcia Wara (CPSM): [email protected] / +55 92 99327-2793
Kapi Parakari (Jesiel) (CGTSM): [email protected] / +55 92 99529-4279
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