Vinda do Norte da Itália, a Peverella foi a primeira variedade branca de Vitis vinífera a desembarcar no Brasil, junto com os imigrantes italianos no final do século XIX. Sua difusão na Serra Gaúcha ocorreu a partir da década de 20, e já nos anos 40, era a principal variedade vinífera branca cultivada no Estado do RS, mantendo-se em posição de destaque nesse grupo até meados dos anos 70, quando foi praticamente extinta com a chegada ao Brasil de outras variedades viníferas impulsionadas pela força do marketing dos vinhos do Novo Mundo, associados a um maior estímulo para o plantio de outras viníferas por parte da indústria vinícola.
Peverella vem de pevero, que no dialeto vêneto, significa pimenta. Pequenas pintas escuras na pele da uva, que lembram pimentas pretas, e um toque picante do vinho ao paladar, deram o nome à variedade, o que garantem uma tipicidade única e caráter varietal inconfundível.
Hoje, a Peverella praticamente caminha para extinção em seu local de origem, na Serra Gaúcha, e no Brasil restam poucos vinhedos, concentrados na região de Bento Gonçalves, com idades que variam de 50 a 100 anos. Especialistas falam que esta variedade de uva é algo único aqui da região Sul, pois outros lugares perderam o cultivo dessa qualidade, até mesmo em seu centro de origem na Itália.
Conforme informações da Embrapa Uva e Vinho, no ano de 2008 haviam 17,7 hectares de Peverella no estado; em 2011, ano do último registro, eram 9,6 hectares. Isso significa que se algo não for feito, não haverá mais tempo para este resgate. Estamos falando não só de uma variedade de uva de valor histórico para uma região, mas de resistência e resiliência, pois apesar de muitos anos terem se passado desde a sua vinda para o Brasil, ela continua produzindo bem e dando vinhos de excelente qualidade e tipicidade. Fato este que vem ao encontro do trabalho de sustentabilidade desenvolvido por pequenos produtores orgânicos e biodinâmicos, que buscam variedades bem adaptadas à região, com bom rendimento e resistência a doenças.
Seu renascimento poderá ser fruto de um extenso trabalho de pesquisa, troca de saberes ancestrais e resgate histórico do seu manejo. É preciso dar ferramentas e soluções palpáveis e mais sustentáveis ao pequeno produtor, para que ele deixe de trabalhar com variedades geneticamente “melhoradas”, para valorizar o que temos como identidade e tradição em nossa região.