Ora-pro-nóbis

Arca do Gosto // Hortaliças e conservas vegetais

trepadeira-limão, orabrobó, lobodo, lobrobô, lobolôbô, lobrobó, rogai-por-nós, guaiapá // Pereskia aculeata // campos, cerrados e pastagens das regiões Nordeste, Sudeste e Sul // Moradores do Arraial de Pompéu, Sabará (MG)

O ora-pro-nóbis é uma hortaliça perene da família das cactáceas, originária da zona intertropical das Américas, sendo possível encontrar variedades nativas desde a Flórida, nos Estados Unidos, à região sul do Brasil. É uma planta rústica e resistente, que se apresenta na forma arbustiva ou de trepadeira, com ramos semi lenhosos, repletos de espinhos agudos (acúleos), folhas carnudas e mucilaginosas.

De fácil cultivo e alto valor nutricional, a planta se desenvolve bem em vários tipos de solo e se adapta facilmente a diferentes climas, podendo chegar até 5 metros de altura. As pequenas flores brancas, com miolo alaranjado, são perfumadas e ricas em pólen e néctar. Nascem de janeiro a abril e duram apenas um dia e são muito procuradas pelas abelhas. Os frutos são pequenas bagas amarelas, com sabor delicado, polpa aguada e refrescante. 

A expressão “ora pro nóbis” vem do Latim, e significa em português “orai por nós”. Popularmente se diz que nos tempos coloniais, na cidade de Sabará, em Minas Gerais, grandes moitas de ora-pro-nóbis podiam ser encontradas ao redor da igreja e eram colhidas pelos escravos (sem o consentimento do padre) durante o momento das orações. A expressão pode ter surgido também como uma forma de indicar a importância e “generosidade” nutricional da planta, utilizada tradicionalmente por muitas comunidades.

Rica em vitaminas A, B, C, proteína (até 25% da matéria seca), magnésio, fósforo e cálcio, as folhas do ora-pro-nóbis, frescas ou secas, são saborosas e podem ajudar a curar anemias e outras carências nutricionais. Devido a presença de mucilagem nas folhas, a planta auxilia no bom funcionamento intestinal e no aumento da imunidade.

Até pouco tempo, a hortaliça era pouco conhecida fora de Minas Gerais e raramente cultivada comercialmente. Faz parte do cardápio de alguns restaurantes no estado, mesmo que, em muitos casos, como presença “ornamental”. Atualmente, passou a ser mais divulgada por autores, cozinheiros e ativistas ligados ao contexto de valorização das hortaliças não convencionais (PANC’s), esquecidas ou pouco utilizadas na alimentação. Representa uma ótima alternativa comercial e gastronômica que, além dos valores nutricionais e medicinais, cresce rapidamente e dispensa adubação e agrotóxicos. 

O marreco e o frango com ora-pro-nóbis de Pompéu

O Arraial de Pompéu, pertencente à cidade histórica de Sabará, em Minas Gerais, é conhecido pelo preparo do frango com ora-pro-nóbis, presente durante o Festival do Ora-pro-nóbis, realizado anualmente, além de oferecido nos restaurantes da região.

A relação da comunidade com esse prato começa com a influência de Dona Maria Torres, moradora de Pompéu que, durante o 1º Festival da Cachaça de Sabará, montou uma barraca na qual servia pratos de marreco com ora-pro-nóbis, de sua criação. A inusitada história dos marrecos, criados pela própria Dona Maria e a invenção do prato, são contadas em detalhes por seu filho. O fato é que no Festival seguinte, Dona Maria participou com a mesma receita e, em poucas horas, acabou com seu estoque de marrecos. Para continuar a servir o público faminto, Dona Maria teve que adaptar a receita e usar o frango. 


O ora-pro-nóbis passou a ser um ingrediente obrigatório em todas as festividades na cidade, inicialmente na barraca e no restaurante de Dona Maria, mas logo em seguida nos cardápios dos diversos restaurantes da cidade e no Festival do Ora-pro-nóbis, que já contou com mais de vinte edições. 


O sucesso do ora-pro-nóbis trouxe renda para as famílias de Pompéu e fortaleceu a identidade da comunidade, agora reunida ao redor desta planta generosa e versátil, que hoje é utilizada não só na combinação clássica com carnes ensopadas, mas também em sopas, tortas, bolinhos, doces, sorvetes, licores e outros pratos criativos. 

Usos gastronômicos:

As folhas frescas são usadas em diferentes receitas, especialmente em sopas, omeletes, tortas, refogados, saladas e, quando secas e moídas, podem ser misturadas com farinha para enriquecer massas e pães em geral, garantindo um sabor especial e maior riqueza nutricional. A mucilagem das folhas pode ser aproveitada para dar liga em massas e outros preparos.

O frango, a galinha caipira e a costelinha com ora-pro-nóbis são combinações tradicionais da culinária mineira, servidos diariamente nas cidades históricas do estado, como Diamantina, Tiradentes, São João Del Rey e Sabará, além de alguns restaurantes em Belo Horizonte.

Obs: Uma outra espécie, Pereskia grandifolia, também com folhas comestíveis, é conhecida popularmente por rosa-madeira, groselha-da-américa, groselha-dos-barbados, groselheira-das-antilhas, jumbeba

Referências:

A MARRECADA e o Festival do ora-pro-nobis. Recanto das Letras, 11/02/2008. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/855105>. [Acesso em 11/11/2021] 

KINUPP, V; LORENZI, H. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil – Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Editora Plantarum, 2014. 

NETTO, Marcos Mergarejo. Ora-Pro-Nóbis em Pompéu: gastronomia na Serra de Sabará/MG. Revista Geograficidade, v. 4n. Especial (2014). UNESP – Rio Claro/SP, 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.22409/geograficidade2014.40.a12909>. [Acesso em 11/11/2021]

ORA pro nobis: todos os tipos. Matos de Comer (online), 01/12/205. Disponível em: <http://www.matosdecomer.com.br/2015/12/ora-pro-nobis-outros-tipos.html>. [Acesso em11/11/2021] 

Indicação

Leonardo Koury Martins, Bernadete Guimarães Silva, Danielle Rodrigues de Souza e Ana Carolina de Assis Ribeiro

Pesquisa

Marcelo de Podestá

Revisão

Marcelo de Podestá

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