Manuê ou manauê, é um bolo de milho e melado de cana, de massa densa e formato geralmente achatado, assado em tabuleiros untados. As diferenças no seu preparo tem origem na disponibilidade dos alimentos ao longo do ano, o que gerou versões de manuê feitas com milho verde fresco, com farinha integral de milho (fubá de moinho) e com milho seco hidratado e moído. Em festas e ocasiões especiais, para celebrar a fartura, os bolos podem ser enriquecidos com leite de coco, coco ralado, manteiga e outras gorduras, mandioca, açúcar e farinha de trigo. Mas a simplicidade e o sabor essencial do milho e do melado é a característica principal deste alimento.
É comum remeter a sua confecção ao período do Brasil colônia, como fruto do engenho de donas de casa portuguesas diante da necessidade de adaptar as receitas aos ingredientes da Terra. Porém, seu feitio e referência estão muito mais ligados às escravas quituteiras e vendedoras ambulantes (escravas-de-ganho) que encontraram na habilidade da cozinha a sua liberdade e o seu sustento e, antes ainda, aos beijus de mandioca e milho assados na pedra, sem sal nem tempero, alimento das tribos indígenas do território brasileiro.
O manuê de milho verde fresco, com leite de coco e coco ralado ainda costuma ser preparado durante os festejos juninos de algumas regiões do Nordeste, seguindo a fartura do milho verde e do melado de cana no período entre maio e agosto O milho fresco é ralado e peneirado, levado para engrossar em uma panela com o açúcar e o coco e assado em formas ou tabuleiros.
Nas Comunidades de Fundo de Pasto no sertão da Bahia, seu preparo é feito a partir de técnicas artesanais, que remetem aos tempos antigos. O manuê é produzido com o milho crioulo, de sementes que acompanham a comunidade à gerações. Os grãos do milho seco são selecionados e debulhados, colocados de molho na água quente da noite para o dia, depois moídos ou pilados. A massa passa por uma peneira para a separação das cascas e, com a ajuda de um pouco de água potável, se retira todo o sumo. Acrescenta-se rapadura, melado ou açúcar e leva-se tudo ao fogo até atingir o ponto para se estender na forma e assar no forno à lenha.
Nestas comunidades, formadas por pequenos produtores rurais, quilombolas e descendentes de indígenas, a tradição deste preparo permanece viva entre famílias, com ingredientes naturais cultivados nas propriedades. Os manuês são feitos nas próprias casas e vendidos de porta em porta para vizinhos e amigos, além de comercializado nas feiras regionais do sertão na Bahia.
O manuê é um alimento cada vez mais raro de se encontrar, que desaparece junto com as sementes tradicionais de milho crioulo, com o melado artesanal e com a sabedoria das gerações mais velhas de habilidosas cozinheiras. Mas também ameaçam a existência deste doce as pressões que exercem a pecuária e agricultura extensiva sobre o direito à terra destas comunidades.
Em Paraty, cidade histórica no litoral do Rio de Janeiro, o doce faz parte dos cadernos antigos de receita e da lembrança dos vendedores ambulantes de outros tempos. A cidade contava com um grande número de engenhos de cana no período colonial e o manuê era vendidos nas ruas e consumido nas casas e comércios locais. Atualmente, é mais comum encontrar versões do doce feitas com farinha de trigo e ingredientes industriais como margarina.
Usos gastronômicos:
O Manuê é consumido no café da manhã e nos lanches da tarde, puro ou acompanhado de café, ou mesmo como uma sobremesa substanciosa nas festas regionais e festejos juninos. O tamanho do doce varia de acordo com as formas e tabuleiros onde é assado, variando entre 300 gr e 2 Kg de peso. Tem cor amarelada e a consistência de um bolo um pouco denso. O sabor agradável mistura o doce com uma pitada de sal e exala o aroma característico do milho.
Indicações bibliográficas:
Heitor e Silvia Reali. Manuê de bacia: O mais brasileiro dos bolos. Brasil Almanaque de Cultura Popular, abril de 2004.
Internet: Ocareté – Comunidades de Fundo de Pasto

Milho seco usado para o manuê, na Comunidade de Caititus – Uauá (BA). Foto: Jussara Dantas de Souza

Dona Joana moendo o milho hidratado na noite anterior. Foto: Jussara Dantas de Souza

Peneirando a massa. Foto: Jussara Dantas de Souza


