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Abril da Mandioca em resposta à pandemia na Rede Slow Food Brasil

O 22 de Abril uniu comunidades rurais, indígenas e ativistas urbanos de norte a sul do país nas redes sociais para saudar este tesouro vivo do nosso patrimônio alimentar que é símbolo do combate à fome e  soberania alimentar mundial: a mandioca. 

O pertencimento ao movimento mandioqueiro e seus significados muito atuais foram suficientes para iniciar uma bela mobilização nas redes sociais da Rede Slow Food Brasil com o mote da celebração do 22 de Abril. A data reinvindica substituir o colonialista “descobrimento” pelo Dia da Mandioca e de fato redescobrir o Brasil saudando esta raíz brotada ancestralmente em nosso quintal,uma herança milenar do trabalho e genialidade dos povos indígenas.

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Tendo seu centro de origem na região amazônica do Brasil, sabe-se que, atualmente, a mandioca é cultivada e saboreada em mais de oitenta países, compondo a base energética da dieta de mais de quinhentos milhões de pessoas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Por todos os seus atributos ligados à segurança alimentar e nutricional mundial, foi declarada como o alimento do século XXI pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação)  no ano de 2013.

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Colheita de mandioca gigante em Engenho de Farinha de Angelina/SC (acervo GT mandioca) 

Devido a sua relevância ancestral e contemporânea e forte manifestação na cozinha e cultura alimentar do país, a temática “mandioca” tornou-se uma campanha tipicamente brasileira do movimento Slow Food. Desde os primeiros passos do movimento no Brasil, as comunidades e grupos locais manifestaram interesse no mapeamento de produtos e na preservação de farinhas e saberes tradicionais ligados à raiz. A delegação brasileira do Terra Madre Itália 2012 ( encontro internacional do movimento Slow Food) reuniu representantes de diversos territórios da mandiocultura desdobrando-se num grupo de trabalho específico: o GT Mandioca Slow Food Brasil.

A invenção do 22 de Abril, descobrindo um dia pra Mandioca  

Em 2007, a Embrapa (Bahia) criou o Dia Nacional da Mandioca, a ser comemorado no 22 de Abril, dia atribuído ao “descobrimento” do Brasil pelos portugueses. A data foi adotada pelo Slow Food Brasil em 2010, a partir das ações do Convívio Slow Food São Paulo. Desde então, todo mês de Abril, diversas atividades são realizadas pelos convívios locais de norte a sul do país na promoção do consumo e diversidade cultural da mandioca.Durante estes eventos foi criada também a campanha “Mandioca é patrimônio, segurança e soberania alimentar” nas redes sociais, assinada pela rede Slow Food Brasil.

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Em tempos de pandemia, por mais que não fosse possível a realização de eventos locais, o Dia da Mandioca chegou com um engajamento surpreendente conectando pessoas e territórios de Manaus-AM à Viamão-RS, passando pelo Pará, Alagoas, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro. 

Compartilhamos aqui alguns momentos:

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Colheita dos povos indígenas Juruna para doação às vítimas do impacto socioeconômico provocado pela Covid19 em Abril de 2020.(acervo GT mandioca)

A Comunidade Slow Food de Valorização da Mandioca Povos Juruna Km 30, da Aldeia Boa Vista – Vitória Do Xingu-Pará,  em especial, as lideranças Murilo, Amaury e Marineide aproveitaram o 22 de Abril para alavancar suas ações em resposta à pandemia Covid19. Após perderem o contrato para vender seus produtos para escolas públicas do município através do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), tiveram a iniciativa de doar toda a produção agrícola em forma de cestas para as famílias carentes da região. Duas toneladas de alimentos agroecológicos incluindo farinhas, tapioca, tucupi além da própria raiz. Para cobrir os gastos com transporte e embalagens a comunidade recebe doações em dinheiro com o apoio da  Rede Jovem Slow Food Brasil, que está colaborando na difusão internacional da iniciativa.

Para doar:

Caixa Econômica Federal. 
Conta Poupança : 00013488-9 
Agência: 0551 Operação : 013 
Titular: Grisse Fábio Da Silva Machado 
CPF 655.317.282-04

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Colheita na Aldeia Juruna, alimentos sendo destinados à doação (acervo GT mandioca)

Em Pernambuco, Vilmar Luis Lemen, agricultor agroecológico e agrofloresteiro do GT mandioca contou que:

“Aqui na Chapada do Araripe, 1.260.000 hectares divididos entre PE, CE e PI, temos pelo menos 50 variedade de mandioca para farinha e goma e umas 20 variedades de macaxeira. Do tradicional e artesanal ao industrial. Do cultivo convencional com uso de veneno ao agroecológico. Sejam manuais ou mecanizados, é a cultura que salva a agricultura familiar da Serra, como se diz aqui pra Chapada.” 

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Agricultura periurbana: 5.000 m2 de raízes e tuberculos sadios e orgânicos na cidade de Recife-PE (acervo GT mandioca) 

Receita

Compartilhada por Adilson Santana – Paraíba-Brasil, em comemoração ao Dia da Mandioca

Mandioca é nossa! É brasileira, é cultural, é união.É o símbolo da culinária brasileira!Então vai uma receitinha bem bacana, que reaproveita muita coisa que seria jogada fora, a Farofa de bagaço de coco com camarão seco:

Ingredientes fáceis de achar. Aqui na Paraíba em qualquer feira livre você acha:

  • 1/2 kg de farinha de mandioca
  • 1/2 kg de bagaço de coco (utilizamos o coco que sobrou da extração do leite de coco em outra preparação)}
  • 1/2 kg de camarão seco salgado
  • 1 cebola grande
  • 6 dentes de alho
  • Talos e raízes  de coentro;
  • Folhas de coentro e cebolinha a gosto
  • Sal, pimenta a gosto
  • Azeite de oliva e manteiga da terra.

Modo de preparo:

Deixar o camarão de molho por uma hora para retirar o excesso de sal. Liquidificar a cebola, o alho e as raízes de coentro, dividir em duas partes. Usar uma parte para refogar o bagaço de coco no azeite e manteiga, com sal e pimenta talos de coentro (o bagaço de coco carameliza e fica mais soltinho) Reserve. A outra metade utilize para refogar o camarão com pimenta, e a farinha de mandioca, também no azeite e manteiga da terra.
Em uma travessa junte o bagaço de coco e a farinha com camarão, e finalize com o cheiro verde.

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A mandioca na rede Slow Food Brasil 

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Fortaleza dos Engenhos de FarinhaPolvilhada de SC é um dos coletivos mais antigos da rede Slow Food sobre esta temática, numa articulação que envolveu a mais de 13 anos a rede Ecovida de Agroecologia e o Cepagro – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo e que hoje se agrega na Rede Catarinense de Engenhos de Farinha,iniciativa premiada de relevância nacional.

O coletivo celebrou o Dia da Mandioca a pleno vapor iniciando o processo de Salvaguarda dos Saberes e Práticas Tradicionais associados aos Engenhos de Farinha de SC que em breve será registrado como Patrimônio Imaterial de SC e aguarda processo em nível nacional também através do IPHAN. Um processo participativo de incidência política que é resultado de muitos anos de trabalho e sinergias entre comunidades e organizações.

Abaixo, temos uma “saborosa coletânea de receitas tradicionais dos engenhos de farinha catarinenses, guardadas ao longo de gerações por mestras e mestres e colhidas pela equipe do Ponto de Cultura Engenhos de Farinha / Cepagro” 

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A agricultora Catarina Gelsleuchter,liderança da Fortaleza Slow Food dos Engenhos de Farinha recebe do Iphan o prêmio de maior relevância nacional em preservação do Patrimônio Cultural. (Foto Acervo Cepagro) 

A Farinha Bragantina 

A tradicional farinha bragantina ou farinha de Bragança é produzida artesanalmente por pequenos produtores da agricultura familiar, e leva o nome do município referência em sua produção, Bragança (Pará). A farinha vem embalada em um paneiro, cesta feita com folhas de guarimã (também chamada arumã), que é uma planta herbácea da família das Marantáceas, típica da região. Confeccionada com técnica indígena repassada de geração em geração, esta tecnologia ancestral vem sendo substituída há vinte anos por embalagens de plástico que desconsideram o caráter tradicional e sustentável do produto, que mantém através das fibras naturais e recicláveis a farinha intacta e perfeita para consumo pelo período de um ano.”

fonte https://www.slowfoodbrasil.org/arca-do-gosto/farinha-de-braganca

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Farinha bragantina empaneirada, do seu Bené. Foto Dário Rodrigues

Confira aqui os alimentos da cultura agroalimentar da mandioca embarcados na Arca do Gosto Slow Food 

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pé de moleque de mandioca
grude de Extremoz
sequilho
tarubá
pajuaru
taiada
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farinha de mandioca de Furnas do Dionísio
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A famosa Farinha de Anastácio, Mato Grosso do Sul

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Geralmente a mandioca usada para essa farinha é a variedade conhecida como “paraguaia” ou “paraguainha”. Pequena, amarelada e de colheita mais cedo que a maioria das variedades, possui ciclo de cerca de 6 meses. Para a produção da farinha, a mandioca é descascada e, em seguida, é ralada em ralador artesanal. Depois, passa por um processo natural de secagem que leva aproximadamente 1 dia. Após a secagem é realizada a torra da farinha em forno à lenha. O tempo de torra varia e a gramatura da farinha também. A qualidade do produto tornou-se famosa no estado e impulsionou a criação de uma festa anual, que acontece sempre no mês de maio, integrando o calendário fixo de eventos da cidade.  

fonte: http://www.slowfoodbrasil.com/arca-do-gosto/produtos-do-brasil/1321-farinha-de-mandioca-de-anastacio

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A Farinha de Mandioca do povo quilombola Kalunga do Goiás 

E assim seguimos na bonita articulação do Grupo de trabalho MANDIOCA da rede Slow Food Brasil, conectando comunidades,ativistas e profissionais da variados biomas, identidades, bandeiras, áreas do conhecimento que vão da terra à boca, para o bem-viver local e global, no campo e na cidade. Sonhos, desafios, ações reais e afetos compartilhados física e virtualmente produzindo uma amostra do potencial que tem a articulação entorno da preservação da cultura alimentar da mandioca e fortalecimento da produção agroecológica e tradicional deste alimento no Brasil e também em escala global. 

Mandioqueiros de todo o mundo: uni-vos!!!

 Imagens Acervo GT Mandioca Slow Food 

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