O sussu é bom pra chuchu

Fortaleza Slow Food da Farinha de Mandioca Kiriri promove o sussu, subproduto da raiz e alimento típico do dia-a-dia das aldeias indígenas

Você já ouviu falar no sussu? Essa iguaria é um alimento típico de 700 famílias dos povos indígenas Kiriri, que se concentram em uma área de 12.320.000 hectares de mata conservada, no território indígena Banzaê, na região semiárida da Bahia, Nordeste do Brasil. Organizados em 12 aldeias, em 11 de novembro próximo, os Kiriri comemoram o retorno ao seu território, após anos de reivindicação e luta pela terra de seus ancestrais.

Rodeados pela Caatinga, é desse bioma que retiram uma variedade de frutas, tubérculos, raízes e plantas para a alimentação de seu povo, que vive sobretudo de agricultura, agropecuária e extrativismo vegetal, a partir da coleta de licuri, caju, cambuí, murici, cajá e caju. A mandioca representa o principal alimento das famílias, sendo o sussu um preparo clássico, que acompanha alguns preparos locais. O sussu é feito da massa da mandioca, matéria-prima da farinha, e o preparo envolve muitas mãos, caracterizando um momento de compartilhamento e socialização. Para obter a massa, a mandioca é descascada, ralada manualmente, colocada em um pedaço de pano e torcida para a retirada do líquido, também conhecido como manipueira, até resultar em uma massa seca e fibrosa. Com uma peneira feita de palha, a massa é refinada e assada em formato circular, em uma panela de barro no fogão à lenha.

Tive a sorte de participar do preparo do sussu na época das voadas das tanajuras, o caviar dos indígenas Kiriri, que esperam ansiosos pelos meses de maio e junho para, após as trovoadas, “caçar” as formigas e festejar o momento único. Tradicionalmente, o beiju é feito da tapioca da massa da mandioca, o que resulta em um produto fino e crocante. De modo diferente, o sussu é obtido da massa integral da mandioca, dando origem a um alimento mais denso e fibroso.

A mandiocultura está entre as principais atividades agrícolas dos Kiriri, garantindo sua soberania alimentar e a hereditariedade das farinhadas, quando as aldeias se mobilizam para colher, raspar e produzir a farinha que será consumida ao longo do ano. A aldeia Marcação Kiriri possui duas agroindústrias de beneficiamento da mandioca, uma para a produção de farinha, liderada pelos homens, e a outra para a produção de biscoitos, sob o comando dos jovens e mulheres. A produção de farinha chega a 15 toneladas por ano, processadas de setembro a novembro. A farinha dos Kiriri é bem diferente das demais, uma vez que não se retira a fécula da massa, que é destinada ao feitio dos beijus e biscoitos, originando assim um produto macio e adocicado.

Atualmente, o território Banzaê está sofrendo com longas estiagens, o que afeta a produção de mandioca e farinha, e coloca em risco um dos principais alimentos e fonte de renda dos Kiriri. Diante desses desafios, através da Forteleza, o Slow Food vem realizando um projeto de fortalecimento, valorização da cultura alimentar e promoção da farinha e outros derivados da mandioca. Esse projeto envolve os jovens Kiriri da Aldeia Indígena Marcação, que dialogam com as outras aldeias locais, e segue proporcionando o fortalecimento da sociobiodiversidade e da cultura alimentar indígena. A farinha dos povos Kiriri será um dos produtos promovidos no Terra Madre Brasil, que reunirá produtos e produtores das cinco regiões do país, e acontecerá no próximo ano em Salvador/BA.

 

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