O Slow Food parte da premissa que o alimento é o principal fator de definição da identidade humana, pois o que comemos é sempre um produto cultural. Acreditamos que a informação e a educação são essenciais para que a sociedade entenda o potencial de transformação e o impacto gerado a partir de suas escolhas alimentares. Traduzindo em um conceito, o foco do movimento é a ecogastronomia, abrangendo questões agrícolas, culturais, ecológicas, históricas, políticas e socioeconômicas.
Nos últimos anos temos realizado no Brasil, com boa repercussão, atividades de ecogastronomia focado em jovens rurais, visando unir a filosofia Slow Food e enaltecer a sociobiodiversidade local, concretizando ideias que o movimento preza e conhecendo os territórios através do olhar das comunidades. É a gastronomia como ferramenta para sensibilizar jovens sobre a riqueza cultural que detêm, tendo suas próprias identidades valorizadas. Essa metodologia une o conhecimento contemporâneo dos cozinheiros aliados aos saberes tradicionais.
Ilustração: William França
Pelo programa Capacitação para uma Gestão com Base em Resultados e Melhoria Contínua de Inovações em Políticas Públicas para o Combate da Pobreza Rural no Nordeste Brasileiro – Semear Internacional, celebrado entre o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), elaboramos a primeira publicação sobre o tema. Entitulado Ecogastronomia para Jovens rurais do Semiárido, o conteúdo com uma linguagem acessível e recheadas de receitas e belas imagens de dar água na boca visa registrar ações do Slow Food no nordeste, sistematizar as experiências realizadas pelo projeto e oferecer mais uma alternativa de convivência com o semiárido.
No adverso contexto de um modelo produtivo devastador que gera a perda da biodiversidade e das referências da cultura alimentar local e da vida no campo por conta de efeitos como contaminação por agrotóxicos, mudanças climáticas e desmotivação das gerações mais novas pela dificuldade de estabelecer renda, a sensibilização envolvendo os jovens rurais é uma estratégia bastante poderosa.
O material parte do semiárido e contribui para o fortalecimento das diversas esferas da rede Slow Food em todo o país como Aliança de Cozinheiros, Fortalezas, Comunidades do Alimento e Convívios. Também norteia diretrizes e metodologias replicáveis nos mais diversos contextos ao estabelecer diálogos que resultam em ações para se trabalhar nas áreas rurais, fortalecendo as relações entre campo e cidade e trazendo a ecogastronomia como prática para unir, inspirar e trocar experiências.
O lançamento desta cartilha contou com a participação de jovens representantes das comunidades, cozinheiros e a rede Slow Food, ocorrido na 9a Feira Baiana da Agricultura Familiar e Economia Solidária (FEBAFES), no dia 27 de novembro de 2018, na cozinha show do Parque de Exposições de Salvador/Bahia.