Foto: Imburanatec
Jovens rurais dos estados de Sergipe, Bahia, Ceará, Paraíba e Piauí, beneficiários dos projetos FIDA, se reuniram no mês de julho para o Primeiro Intercâmbio em Ecogastronomia segundo a metodologia Slow Food. O Território do Baixo São Francisco, com uma rica diversidade sociocultural, que agrega agricultores familiares, assentamentos de Reforma Agrária, comunidades quilombolas, pescadores artesanais e concentra 28% das populações tradicionais do estado, acolheu os 30 jovens durante quatro dias de atividades.
As dinâmicas passaram por municípios como Ilha das Flores, Brejo Grande e Neópolis e foram divididas em parte teórica e prática, totalizando 32 horas de aprendizados. A primeira metade foi dedicada aos princípios e à filosofia do movimento Slow Food e contou com um primeiro momento institucional com representantes dos órgãos apoiadores do Intercâmbio que discutiram temas como agricultura familiar, desenvolvimento local, soberania alimentar e políticas públicas voltadas às comunidades tradicionais quilombolas. Em um segundo momento, foi proposta uma oficina sobre ecogastronomia onde foi apresentado aos jovens conceitos importantes que possibilitaram um entendimento maior sobre o território e a biodiversidade do semiárido.
No segundo dia, os participantes seguiram para visitas às três comunidades, onde conheceram marisqueiras, pescadores artesanais e quilombolas. Podendo assim entrar em contato a realidade local, o contexto em que os habitantes estão inseridos, como trabalham com os produtos e quais são as principais ameaças ao seu modo de vida.
Crédito: Imburanatec
A parte prática do intercâmbio aconteceu nos dois dias seguintes dentro de uma cozinha profissional em Aracajú. Nesse momento os jovens puderam entender aspectos técnicos e organizacionais, além de perceberem a função do alimento também como oportunidade profissional.
Dois temas importantes à região, terra e água, foram escolhidos para direcionar as criações dentro da cozinha – que se tornarão um livro de receitas eternizando os aprendizados. Com o apoio dos chefs locais Timóteo Domingos, Seichele Barboza e Leila Carreiro, o tema terra colocou em pauta as longas estiagens sofridas pelo semiárido nordestino e todas as suas consequências. Como estratégia para a valorização da biodiversidade dos territórios, foram usados nas receitas ingredientes como a galinha de capoeira, o cambuí, a pimenta aroeira, os cactos, a macaxeira e outros produtos. Já o tema água, teve grande impacto nos jovens ao tratar da fragilidade do Rio São Francisco e tentou ligar campo e cidade através da seleção de ingredientes como a ostra e o sururu da comunidade Brejões dos Negros, e o camarão e o siri catado da comunidade Resina, que foram pescados no dia anterior durante a visita ao local, aproximando ainda mais os jovens dos ingredientes. A água também foi pauta fora da cozinha, com depoimentos nas rodas de conversa e uma peça teatral apresentada pelos jovens da comunidade Resina.
A facilitadora do Slow Food região Nordeste, Revecca Tapie, apontou a importância da troca de conhecimentos que os jovens tiveram nos dias de intercâmbio, o contato com os produtos do semiárido e como melhor aproveitá-los, além da necessidade de replicar a rica experiência em outras realidades.
O primeiro intercâmbio em Ecogastronomia para jovens rurais promovido pelo FIDA por meio do Programa SEMEAR Internacional contou com o apoio do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura). A ação foi fruto de um diálogo entre o Programa e a Associação Slow Food Brasil, que através da gestão de conhecimentos no campo, identificaram a importância do tema da Ecogastronomia como ferramenta de trocas de sabores e saberes, fomentando a identidade, biodiversidade local e incentivando novas alternativas de geração de renda aos jovens rurais.