Demorei um pouco para escrever esse post. Talvez pq escrevê-lo significaria que essa experiência tão maravilhosa de 10 intensos dias havia chegado ao fim. Essa foi a minha segunda imersão no #Xingu com o Povo #Kisêdjê. E posso dizer que foi amor a segunda vista. Da 1ª vez, eu estava ainda muito presa à minha realidade, ao meu olhar e as minhas convicções. Mas dessa vez foi diferente. Dessa vez eu estava ali. 100%.
Sem internet. Sem comunicação. Sem energia. Em total comunhão com o momento. Fomos para, teoricamente, ensinar. Porém, com todo perdão do clichê, aprendemos muito mais do q poderíamos imaginar. Aprendemos sobre suas tradições, sua língua, suas lutas, sua cozinha. Os vimos como um de nós. Nos sentimos um deles. Transmutamos. Partilhamos. Aprendemos mais sobre nós mesmos. Sobre a ser criativos nas adversidades. Sobre rir das dificuldades. Sobre ir com coragem, mesmo quando o medo é atmosférico. Aprendemos sobre acolhimento. Sobre apreciar os encontros. Sobre sonhar. Sobre a beleza do inesperado. Sobre ampliar ao invés de reduzir. Sobre o também. Nessa foto, apenas um dos inúmeros registros do olhar atento e sensível do querido @tarcktarck , podemos ver a tradução disso tudo: uma oca que, com a ajuda de todos, virou uma cozinha experimental. As principais lideranças do povo Kisedje q tanto nos acolheu, apoio e embarcou junto no nosso sonho de desenvolver a ecogastronomia. E nós 4 mulheres cozinheiras @segredosdacozinha @anaboquadi @denise.cerrado fortes e fora dos padrões. Que não cabem em definições. Corajosas. Idealistas. E com um coração enorme. Cada uma com sua história, cada uma com sua força. Escolher estar ali, conhecer esse grupo indígena, suas receitas e desenvolver com eles novos produtos e novas formas de comercialização pela ecogastronomia nos faz parte da solução. E eu estou muito orgulhosa de todxs nós! Nós somos a resistência! E vamos escrever a história da nossa gastronomia por nós mesmxs! Saímos de lá cozinheiras melhores. Pessoas melhores. Obrigada pelo encontro dessa equipe maravilhosa que tanto cooperou, se ajudou, se divertiu e foi tão sinérgica e querida em todos os momentos! Ganhei uma família! Rênínê, Xingu!
Tainá Zaneti é Gastronôma, mestre em agronegócios (UnB) e doutora em Desenvolvimento Rural (UFRGS). Autora do livro “Das Panelas das nossas Avós à Alta Gastronomia”, é a atual líder do Convívio Slow Food Cerrado.