Brasil no VI Congresso Internacional Slow Food

Íntegra do Discurso produzido pela Delegação brasileira por ocasião da 2ª sessão do VI Congresso Internacional SlowFood, ocorrido em 27 de outubro de 2012, em Turim, Itália e proferido pelo representante do grupo, George Schnyder, do Convivium Slow Food São Paulo:

Boa tarde,

Represento os delegados do Slow Food no Brasil e trago uma mensagem para vocês:

O Brasil está numa encruzilhada. Somos um país continental, onde a industrialização agrícola com suas multinacionais das sementes e defensivos, expulsaram a população do campo para a cidade e consumiram boa parte de nossas florestas nativas. Em agricultura industrial, somos o que os EUA um dia foram e somos o que países da África um dia serão.

O Brasil é a bola da vez! É a vitrine do mundo, ao menos, nos próximos quatro anos quando a mídia, por conta da Copa do mundo e Olimpíadas estará nos olhando bem de perto. Isto é uma oportunidade.

Não se enganem e essa é a verdade:

É no Brasil que está acontecendo o front da grande guerra pelo futuro do alimento neste exato instante. A mais violenta do ponto de vista econômico.

É no Brasil que o dinheiro de uma população que teve sua renda subitamente aumentada está sendo gasto no consumismo desenfreado, onde grandes marcas, multinacionais e cadeias de fastfoodque crescem 30% ao ano, em tempos de crise, buscam seus lucros a qualquer custo.

É no Brasil onde a agricultura familiar por um lado é beneficiada por programas governamentais que incentivam a compra de produtos de sua produção para merendas escolares, mas por outro está sendo assediada pelas indústrias de defensivos e sementes transgênicas.

Precisamos garantir que os discursos pelos orgânicos e pelo local feito pelos nossos políticos e agências oficiais se transformem em ações reais. Menos discursos. Mais ações.

É no Brasil que acontecem hoje em dia, as maiores ações de greenwashing,praticadas pelas multinacionais de defensivos agrícolas que têm, como exemplo, o nome ANDEF, Associação Nacional para a Defesa Vegetal para a sua associação setorial.

É no Brasil que surgem iniciativas todos os dias, que buscam para si, um discurso que o Slow Food já pratica há anos de modo muito consistente e sério, mas ainda de forma bastante tímida em relação à guerra que temos que vencer e vamos vencer! E para isso a nossa meta é fazer com que cada brasileiro, a começar pelas crianças e pelos jovens, saiba o quê está comendo.

O Brasil é um país jovem que precisa conhecer sua história e a história dos alimentos que constituíram seu povo. Temos um objetivo que dentro dos conceitos da “Centralidade do Alimento” discutidos no Congresso nos comprometemos a atingir que é:

“Fortalecer a base do Slow Food e rede Terra Madre no Brasil por meio do alimento, promovendo informação e educação nos seus territórios visando influenciar as políticas públicas”.

E como?

Fazendo mais do que já fazemos: seminários, oficinas do gosto, grupo de trabalho de queijos, participação no conselho de segurança alimentar do estado e capital de São Paulo, expedições de pesquisas gastronômicas em Santa Catarina, Guia de 100 dicas SlowFood incluindo dicas das favelas, mercados e projetos sustentáveis do Rio de Janeiro feito para a Rio+20, SlowFilm Festival em Pirenópolis, participação em feiras, congressos e muitas outras atividades.

Mas isso não é suficiente para uma revolução, para um front como o do Brasil. Precisamos mais!

Precisamos fortalecer nossa presença na Arca do Gosto e nas Fortalezas com toda a certeza. Não temos história, ou temos uma história muito curta e já a estamos perdendo. Perdendo também nossa biodiversidade.

Mas devemos catalogar os produtos, ingredientes do Brasil e suas histórias e tradições.

Precisamos conhecer as histórias do alimento para podermos contá-las através dos nossos conviviapara nossos filhos, nossos netos, amigos, vizinhos.

Devemos duplicar ano a ano, o número de associados do SlowFood e trazer novos parceiros para a rede Terra Madre garantindo e dando suporte à presença jovem em todas as iniciativas do movimento.

A energia do movimento no Brasil vem dessa juventude que está aqui inclusive presente na nossa delegação.

Enfim fazermos com que o Brasil saia da encruzilhada pelo caminho de um SlowFood e de um Brasil bom, limpo e justo.

E por que não de um SLOW FOOD BRASIL Bom, Limpo e Justo!”

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