Sabores em risco: o licuri

O Licuri é uma palmeira típica do semi-árido nordestino. De sua amêndoa (coco) se produz diversos itens alimentícios: licuri torrado, licuri caramelado, granola, cocada, paçoca, biscoitos, óleo, leite-de-coco e muitos outros produtos. Além de gêneros alimentícios, são produzidos também artesanatos, tais como bijouterias e utensílios domésticos. O coco é também utilizado como ração animal e sua casca é utilizada como combustível de fornos à lenha. O licuri tem sido uma importante fonte de alimento e sustento para diversas comunidades do semi-árido baiano, dentre elas a comunidade de Jaboticaba, distrito de Quixabeira, região de Capim Grosso- Bahia. Em pesquisa etnobotânica realizada em fevereiro 2007 pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), foi verificado que mais de 50% das famílias de Jaboticaba trabalham com o licuri, e em muitas vezes esta atividade é a única fonte de renda de famílias inteiras. Observa-se durante o dia, várias mulheres, homens e criaças quebrando licuri. O licuri tournou-se fortaleza Slwo Food no 2012. A seguir está uma breve entrevista com Jose Naide de Souza Alves referente da Fortaleza e convivium líder do convivium do licuri.

 

Qual a expectativa dos produtores com a criação da Fortaleza do Licuri? Quais seriam os principais objetivos da Fortaleza?
A nossa expectativa é aumentar o número de pessoas que têm um sonho comum: unir as nossas forças e objetivos, aumentar o número de amigos do Licuri, principalmente onde existe mata nativa do Licuri, promovendo uma maior divulgação e mais credibilidade. Queremos que as pessoas e as Entidades vejam que não estamos sozinhos nesta luta; que se deem conta de que outros produtos que estavam em risco de extinção foram estudados, reconhecidos e que acabaram recebendo apoio e tiveram mais forças para buscar soluções para os problemas que os afetavam. Esperamos que o os nossos projetos recebam uma maior atenção e um maior apoio, para melhorar a qualidade do produto e ampliar o mercado, graças à ajuda de chefs de Cozinhas e outros estabelecimentos. O nosso objetivo é dar continuidade à preservação do Licuri, melhorar a qualidade dos nossos produtos, gerar mais renda para as famílias, buscar mais apoio do Setor Público, melhorar as embalagens e etiquetas, fazer informativos sobre o assunto, participar de oficinas, elaborar, elaborar cartilhas de manejo de Licuri, incentivar o plantio de mudas e a preservação dos brotos, divulgar os valores nutricionais, promover cursos de capacitação para processamento do Licuri, elaborar um cordel de receitas de comidas à base de Licuri.

Conte sobre a festa do Licuri: quem organiza? Desde quando é realizada? Quais os principais atrativos da festa? Qual a importância desta festa para a valorização do Licuri e do território? Desde o ano de 2008, a Cooperativa COOPES – Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina e Convívio Licuri – organiza a Festa do Licuri, envolvendo produtores de todos os Municípios da região, Universidades, Poder Público local, Escolas Públicas, cursos de agroecologia, Sindicatos, Igrejas, etc. O trabalho de divulgação, capacitação e preparação é feito antecipadamente, divulgando a iniciativa e promovendo atividades para todos: da elaboração de poesias, cordéis, paródias, a cursos de produção de alimentos e artesanatos, etc. A 6ª Festa do Licuri será realizada no dia 26 de maio de 2013 na comunidade Vaca Brava. Já começamos a divulgar, elaborar projetos, buscar parcerias de órgãos públicos, entidades e ONGs. A Festa é geralmente organizada no final da safra, quando já se conhece a capacidade de produção de Licuri in natura e derivados e, para nossa alegria, até agora a expectativa foi superada. No dia da Festa há barraquinhas com exposição de todos os produtos, das pesquisas e experiências feitas com o Licuri: é mais uma forma de divulgar o trabalho e despertar o interesse de outras organizações. Em 2013 o destaque será a exposição de criação de abelhas nativas do Brasil e do polem extraído do Licuri. Será mais um incentivo para a preservação do licurizeiro e da abelha sem ferrão nativa do Brasil também em risco de extinção. Uma das próximas metas dos articuladores da Festa é a criação de uma Rede de Produção e Valorização do Licuri na Região. Falou-se também na criação de uma Federação de Produção e Valorização do Licuri da Bahia, mas sabemos que antes será preciso estudar cuidadosamente a viabilidade do projeto.

O que a COOPES tem realizado para combater as queimadas e o desaparecimento das Palmas de Licuri?
As ações da COOPES neste sentido ainda foram muito limitadas pois, infelizmente, aqui na região não há um órgão competente de referência. Todavia fazemos denúncias nas emissoras de rádio comunitárias e na imprensa local. Também falamos pessoalmente com os gerentes das Firmas responsáveis, dizendo que, se a destruição dos licuizeiros não acabar, entraremos com processo na Justiça. Às vezes conseguimos algum resultado. A Empresa R. Silva, por exemplo, depois das nossas denúncias, assumiu o próprio compromisso, limitando drasticamente o número de licurizeiros utilizados para enfeitar as festas juninas. A divulgação do nosso trabalho e a Festa do Licuri contribuíram para sensibilizar muitas pessoas que antes queimavam e derrubavam sem necessidade e que hoje têm atitudes mais responsáveis. Na quarta Festa do Licuri, na semana santa, o padre Xavier Nichele fez a celebração do Lava Pés no meio do licurizal. Foi um momento muito bonito e emocionante: o padre pediu para os fieis lavarem os pés dos licurizeiros, pedindo perdão por todas as derrubadas e queimadas. São gestos simples, mas que tocam o coração do povo e ajudam a mudar de atitude.

Mariana Weiler Guimaraes
[email protected]

Foto © PAULA PIMENTEL 

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