Os agricultores japoneses cultivam o chá verde há séculos nas encostas das colinas e nas grandes planícies. Conscientes de se ocuparem de um produto fundamental para a vida cotidiana e religiosa do País, as pequenas fazendas familiares trabalham mais pelo amor pelo produto, que por motivos econômicos. O número de produtores, porém, diminuiu, os preços estão estagnados, o custo da mão-de-obra é elevado e as novas gerações preferem morar nas cidades. A demanda é atendida por versões de chá verde mais baratas vindas da China. Mas ainda existem lugares onde agricultores e artesãos mantêm vivo o sonho deste produto.
A prefeitura de Shizuoka, a oeste de Tóquio, caracteriza-se por paisagens magníficas: o oceano Pacífico, o monte Fuji, as plantações de wasabi, morango, melão, tangerinas, daikon, arroz e, acima de tudo, chá. 45% do chá verde produzido no Japão é cultivado nesta região, embora se trate principalmente de agricultura familiar de pequena escala.
A cada três anos se organiza um festival do chá, chamada world o-cha. «O chá verde – explica Oka Atsuschi, diretor do evento – se faz com folhas não fermentadas e requer água fria, muita chuva e controle de pragas». Oka Atsuschi explica também como o chá se transformou de simples produto em símbolo. Depois da restauração Meji, na segunda metade do século XIX, o Shogun decidiu terminar o isolamento do Japão, assinando um acordo com os Estados Unidos. Sem a abertura do país ao comércio, os americanos teriam bombardeado o Japão: e o chá era um dos principais produtos destinados à exportação.
O final do isolamento levou à queda do shogunato e um grande número de samurais ficou desempregado. Para tentar limitar o caos e a violência, os samurais receberam parcelas de terra. O chá verde que se produz em Shizuoka nasceu, assim, com os soldados obrigados a renunciar aos combates. Mas os lucros com o cultivo do chá foram utilizados para comprar navios de guerra e construir um exército japonês moderno.
Os produtores explicam as vantagens do chá verde. Hidemi Suzuki tem uma fazenda familiar, a voz rouca e uma total dedicação ao trabalho. «Me dedico ao chá há aproximadamente trinta anos», diz ele. «A minha fazenda? Começou com os meus pais». Hidemi não tem dúvidas: «Não há nada melhor que uma boa conversa diante de uma xícara de chá. Japonês, naturalmente».
Extraído do artigo de Scott Hass, publicado no número 48 da Revista Slowfood