Duas Atividades, Três Convivia, Muitas Crianças!

O desafio foi lançado pela Kátia, do Slow Food Pirenópolis, aos convivia do Brasil: quais atividades paralelas poderíamos propor para a organização do Slow Filme ? Foi aceito pelo Fulvio (Slow Food Campo Lindo ), que propôs uma oficina do gosto para crianças, baseada no percurso sensorial do Slow Food, que seu convivium já vem aplicando em Batatais, interior de São Paulo.

Kátia incluiu a atividade na programação, articulou com 2 escolas de Pirenópolis para receberem as oficinas e com duas alunas do curso de gastronomia da UEG para o apoio. E assim, Fulvio viajou mais de 1000 km para trazer sua técnica e simpatia e encantar as crianças de Piri.

Logo depois de chegar na cidade, passamos pelas duas escolas e nos encontramos com a Gilmara, estudante de gastronomia da UEG, para organizar tudo. Fulvio trouxe o material didático (fichas, copinhos, cartazes, aventais) e os ingredientes mágicos já haviam sido encomendados pela Kátia ao Seu Geraldo, um agricultor agroecológico local. Compramos no mercado somente o lanche industrializado, para fins didáticos.

No dia seguinte, na parte da manhã fomos na Escola Municipal Dom Bosco, trabalhar com cerca de 60 crianças das 3 turmas de 5ª série. Equipamentos vieram da casa da Kátia, da casa da diretora, da cozinha da escola. As professoras e merendeiras ajudaram muito. No período da tarde trabalhamos com mais 60 crianças de três turmas da 3ª série da Escola Municipal Luciano Peixoto. Novamente, o apoio das professoras e merendeiras foi essencial. A oficina foi a mesma nos dois períodos, mas logicamente muito diferente, dado as diferenças na idade e no comportamento das crianças.

Fulvio, Kátia e Gilmara foram os instrutores. Cada um deles ficou com uma estação: Kátia ficou com os líquidos misteriosos, Gilmara com os potes mágicos e Fúlvio com os sucos naturais. Eu? Cheguei de ultima hora, de curiosa, para registrar estes momentos mágicos.

As crianças, divididas em 3 grupos, se revezaram nas 3 estações. Com uma ficha na mão, degustaram um pouquinho de cada um dos 5 líquidos misteriosos, e escreveram os sabores que identificaram na ficha. Só não podiam escrever "gosto" ou "não gosto". Ao final, descobriram que o "gosto" é de café, mas o "sabor" é amargo. E que outros alimentos que conhecem tem sabor amargo? Gueroba, jiló, jurubeba…. Um a um, foram aprendendo os sabores: salgado, doce, azedo.

Depois vieram os potes mágicos. Em fila, um a um ia cheirando cada pote e escrevendo na ficha que cheiro tinha. "Eu sei o que é, mas não lembro o nome!". "Posso cheirar o pote 2 de novo?".

Os pequenos voltavam para a fila e usavam as costas do companheiro da frente como apoio para escrever na ficha. O combinado era manter segredo, não comentar com os companheiros, então rolou muito cochicho. Canela, café, orégano, manjericão, alecrim. Ao final cada grupo ia descobrindo quais eram os cheiros misteriosos, e treinando o olfato.

A terceira estação discutia a diferença entre o lanche saudável, produzido no local, e o lanche industrializado, que viajou muitos quilômetros e que não é possível conhecer quem produziu.  As crianças foram estimuladas a ler duas receitas, pensar na origem dos ingredientes e prepararam juntas, com o apoio de dois ajudantes mirins escolhidos na hora democraticamente, 2 sucos diferentes: um de beterraba e um de couve. E depois veio a degustação animada, e a comparação: "eu gosto mais do de beterraba", "ah, o de couve é mais gostoso". Não é que elas gostam mesmo do suco?

 

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A forma como a oficina foi estruturada, simples e adaptável ao local, é muito interessante. Em cada escola a atividade durou cerca de uma hora e meia, contando o tempo da preparação. Uma hora e meia de muita animação, independente da idade. Pena que o tempo foi curto e não foi possível fazer a oficina com todas as crianças de cada escola.

As atividades com certeza enriqueceram muito a programação paralela do Slow Filme , propiciando a participação de uma parte da população local, de uma faixa etária que pouco participou do Festival.

Mas o mais gostoso foi a integração de representantes de 3 convivia, numa colaboração que vai ficar na nossa memória para sempre. Com certeza aprendi muito, e já estou propondo ao Slow Food Cerrado uma replicação da atividade aqui em Brasília.


Roberta Marins de Sá é Cientista de Alimentos, Conselheira Internacional do Slow Food e líder do Slow Food Cerrado. Mantém o site Alimento para Pensar e atualmente é consultora da FAO, trabalhando na Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN/MDS).

 

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