Farinhada e feitio de açucar: um verdadeiro espetáculo de produção artesanal

Na região rural de Angelina (SC), Celso e Catarina colhem os bons frutos da preservação do Engenho

 

 

por Fernando Angeoletto – www.cepagro.org.br

Seu Celso Gelsleuchter resume assim o fato de ter sido selecionado a participar, na Itália, do encontro mundial do movimento Slow Food : “enfim, o reconhecimento por eu não ter desmanchado isso”.

A “isso” entenda-se uma pequena edificação de madeira, dotada de tachos, peneiras, raspadores, e um curioso sistema de engrenagens, rodas e moendas, tudo movimentado pela força d´água – um autêntico Engenho de Farinha e Açúcar, herança do amálgama cultural açoriano-indígena, e que também chegou aos redutos alemães, como Angelina, onde vive o Seu Celso.

Ele desconhece a origem da obra. A única referência é que, quando seu pai comprou aquelas terras, há 70 anos, o Engenho já estava lá. Ao contrário de seus 20 e poucos vizinhos que também tinham estruturas parecidas em suas propriedades, ele foi o único a preservá-la.

No último sábado (25/09), seu Celso e sua esposa, dona Catarina, além dos seus 7 filhos e uma porção de netos, estavam em festa. Tudo em torno do feitio da farinha e do açúcar, que agora tinha uma conotação especial, quase como um espetáculo de produção artesanal de alimentos.

Na platéia, convidados de olhos atentos, ávidos por beber um pouco da fonte do conhecimento tradicional. As luzes difusas, filtradas pelas janelas e frestas do Engenho, ampliam a aura rústica, quase mística, do ambiente. A plasticidade do feitio é um show à parte: a calda do açúcar, qual um imenso caramelo borbulhando no tacho, brilha nos olhos. A farinha, na medida que vai secando no forno, invade o ar e deixa todo mundo branquinho.

“É a re-pamonhalização da vida”, brinca a médica Halana Faria, a mais nova vizinha da Dona Catarina. “No feitio da pamonha, a família toda se envolve, é uma festa, um modelo de coesão e convivência”, explica.

Sabores locais: sustentabilidade e estímulo às microeconomias

Enquanto cana-de-açucar e mandioca transformavam-se no Engenho, o gastrônomo Ubiratan Farias comandava outra transformação. A ideia, baseada na filosofia essencial do Slow Food, era fazer um almoço com predomínio de matérias-primas locais. Indiscutível o charme da proposta, mas não só: está aí uma proposição de sustentabilidade, de estímulo às microeconomias locais, de rediscutir a complexidade na cadeia de produção e distribuição dos alimentos.

Da inventividade do Ubiratan, somada à disponibilidade de produtos, surgiram pratos maravilhosos:

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    • Feijoada vegetariana (com feijão vermelho, abóbora, coco e provolone – esses 2 últimos foram os únicos ingredientes trazidos de fora)

    • Escabeche de peixe, com carpa fresquinha do açude

    • Pirão d´água com linguiça

    • Galinha caipira ao molho

    • Aipim cozido

    • Saladas de folhas e repolho

    • E sem dúvida, muita farinha artesanal !

O Convivium Engenhos de Farinha irá fazer outro evento em breve, possivelmente antes do Terra Madre 2010, que ocorre de 21 a 25/10. Fiquem atentos, e sejam sempre bem vindos !

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