Umbu

Arca do Gosto // Doces // Fruta fresca, desidratada, castanhas e derivados

imbu, ambu, ombu, embu // Spondias tuberosa // Região Nordeste e Minas Gerais (Norte e Nordeste).

  • Este produto também faz parte do projeto Fortalezas. Para saber mais sobre o Umbu e sobre as ações realizadas para sua preservação, clique aqui.

Sobre o Umbu

O umbu ou imbu, como também é chamado, é uma fruta endêmica do bioma Caatinga, na região do Semiárido brasileiro. O nome vem do termo ymbu, da língua tupi, e significa “árvore que dá de beber”, em referência às suas raízes tuberosas (xilopódios), capazes de armazenar até 3 mil litros de água durante a estação das chuvas, garantindo a sobrevivência da árvore nos longos períodos de estiagem. Povos indígenas e sertanejos aproveitam dessa característica da planta para matar a sede durante as viagens pelo território e como medicina caseira para o tratamento de diarréias, controle de verminoses, reposição de minerais e vitaminas. 

O umbuzeiro é uma árvore de pequeno porte (entre 4 e 7 metros), com tronco curto, copa com formato de guarda-chuva e grande número de galhos entrelaçados. A casca é acinzentada, lisa nos ramos mais novos e fissurada nos galhos mais velhos, podendo se desprender na forma de placas. As flores são brancas, agrupadas em ramos e perfumadas. O néctar é bastante apreciado pelas abelhas, disponíveis na época da seca, quando há pouca disponibilidade de alimento para estes insetos.

Os frutos são redondos e de tamanhos variados, com casca verde ou amarela quando maduros. A polpa é macia e suculenta, aromática e com sabor agridoce. O umbu é colhido manualmente para consumo ao natural ou beneficiado na forma de doces, sucos e conservas. 

As folhas do umbuzeiro são ricas em proteínas e são usadas como complemento alimentar na alimentação de animais. A casca dos ramos têm empregos medicinais, devido às suas propriedades digestivas, laxativas e cicatrizantes (utilizada para a lavagem de olhos infectados), assim como no tratamento de anemia, diabetes, colesterol, congestão, diarréia, afecções uterinas, dor de estômago e herpes labial. Os xilopódios, produzidos a partir das raízes de mudas, são dessedentantes (combatem a sede), e utilizados na produção de doces e conservas.

O umbu é fonte de vitaminas (B1, B2, B3, A e C) e minerais (cálcio, fósforo e ferro), possui atividade antibacteriana e anti-inflamatória. Devido a presença de compostos fenólicos, ácido ascórbico, flavonóides, antocianinas e carotenóides, os frutos do umbuzeiro apresentaram atividade antioxidante, importante na prevenção de doenças crônicas e na manutenção da saúde.

Além de fazer parte da cultura alimentar e da medicina tradicional, o umbu possui uma grande importância socioeconômica para a região do Semiárido, sobretudo na Bahia, mas também no Norte de Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba. Os frutos são colhidos a partir do extrativismo, sendo que praticamente não existem cultivos comerciais organizados em todo o país. Esta atividade representa uma alternativa para a geração de renda de milhares de famílias, envolvidas, há diversas gerações, na coleta, beneficiamento e comercialização dos frutos e seus subprodutos. Os frutos são coletados em terrenos próximos às casas, nos quintais, nas roças e nas áreas de Caatinga mais afastadas. Também são utilizadas para coleta áreas de uso comum, conhecidas no Norte do estado da Bahia como “fundos de pasto” ou “fecho de pasto”. O fruto in natura é vendido em feiras e mercados locais, na beira das estradas em algumas localidades ou entregue a atravessadores. 

Apesar de seus benefícios, o umbu é uma espécie ameaçada de extinção. Entre os motivos, estão o desmatamento para extração de madeira e os impactos da criação de cabras, que converte áreas nativas de Caatinga em pastos, impedindo o nascimento de novas plantas e a regeneração da espécie, que já é naturalmente muito baixa. Os animais de criação comem e pisoteiam as plantas jovens, além de consumirem também grandes quantidades de frutos cujas sementes acabam nos currais e não germinam. A ausência dos animais silvestres, afastados das áreas degradadas e ameaçados pela caça, implica na não dispersão das sementes em seu ambiente natural. Os efeitos das mudanças climáticas também colaboram para agravar a situação, com estiagens cada vez mais severas, além da maior ocorrência de pragas. 

Diante disso, produtores e parceiros se organizam para desenvolver modelos de produção sustentáveis, capazes de conciliar a geração de renda para as famílias com a proteção e regeneração do meio ambiente. Cooperativas como a COOPERCUC (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá), criada em 2003 nos municípios baianos de Canudos, Uauá e Curaçá, realizam um trabalho fundamental na promoção de boas práticas do extrativismo, capacitação e fortalecimento da rede de produtores, formada sobretudo por mulheres. O trabalho se organiza ao interno de cada comunidade, em pequenas estruturas de beneficiamento chamadas de “fabriquetas” e uma unidade central que reúne, finaliza e embala os produtos e organiza a comercialização. Desde 2006, os membros da Cooperativa participam do projeto Fortaleza Slow Food com foco na preservação da cultura tradicional do fruto e no desenvolvimento de projetos em prol da qualidade e valorização dos produtos. 

Outras organizações da sociedade civil também atuam no território com o objetivo de promover uma melhor convivência com o semiárido, buscando soluções e práticas capazes de conciliar a cultura local com o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento econômico e social. É o caso do IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada), ONG sediada em Juazeiro que, entre os diversos projetos, trabalha com a reprodução de mudas e plantio de árvores nativas da caatinga, incluindo o Umbuzeiro.

Usos gastronômicos:

O umbu tem polpa ácida e levemente adocicada, muito refrescante e aromática. Pode ser consumido ao natural, quando maduro, ou processado para o preparo de polpas, sucos, doces (inclusive um doce de corte, tipo “marmelada”), compotas, geleias, sorvetes, molhos, caldas, entre outros. Entre as receitas tradicionais estão a “umbuzada”, que é a mistura de leite batido com o suco da fruta e um concentrado do suco conhecido como “vinho” ou “vinagre” de umbu, de fabricação caseira e artesanal. Os xilopódios (batatas) tem sabor agridoce e textura sucosa e crocantes. São consumidos ao natural ou usados, geralmente, na forma de compota. A retirada destas raízes pode levar à morte das plantas e só deve ser feita se forem cultivadas para esse fim. 

O umbu é uma fruta perecível, que dura no máximo dois ou três dias quando madura. Por isso, para comercialização os frutos são coletados “de vez”, diretamente da árvore e amadurecem após dois ou três dias em temperatura ambiente. Os frutos colhidos no chão, também chamados de “inchados”, são usados para consumo imediato ou processamento. 

Referências bibliográficas:

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Pesquisa

Marcelo de Podestá

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