Lideranças e representantes de comunidades de Fundo de Pasto, na Bahia, do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), do Instituto de Desenvolvimento Social e Agrário do Semiárido (IDESA) e do Escritório Territorial Senhor do Bonfim da CAR (Companhia de Desenvolvimento Rural e Ação Regional) vem se reunindo com a equipe do projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana para refletir e sistematizar conteúdos relacionados ao modo vida tradicional das comunidades de Fundo de Pasto. As atividades, que fazem parte da metodologia do Slow Food para identificação de novas Fortalezas, normalmente, são realizadas a partir de visitas e oficinas nas comunidades. No entanto, enquanto durar a pandemia causada pelo novo coronavírus, as atividades do projeto acontecerão de maneira virtual, garantindo a construção coletiva do processo.
A última reunião desse grupo de trabalho contou com a participação de representantes da Cooperativa Agropecuária Familiar de Uauá, Canudos e Curaçá (Coopercuc) e da Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes), que apresentaram um relato de suas experiências com as Fortalezas Slow Food. Para Denise Cardoso dos Santos, presidenta da Coopecuc, ter o umbu e o maracujá da caatinga como Fortalezas abriu muitos caminhos e gerou inúmeras oportunidades de mercados, inclusive internacionais, com as idas às edições do Terra Madre, realizadas na Itália. Denise ressalta que 90% dos cooperados são de comunidades de Fundo de Pasto, sendo que, no município de Uauá, esse número passa para 100%. “O modo de vida das comunidades de Fundo de Pasto ajuda a preservar a caatinga” e isso torna ainda mais importante esse reconhecimento, pontua Denise.
Josenaide de Souza Alves, representante da Coopes, lembra que, além da valorização do produto e do incentivo à melhoria na apresentação, receitas e rotulagens, ter o licuri reconhecido como Fortaleza, valorizou também o trabalho das mulheres quebradeiras de licuri. Segundo Josa, como é chamada, 80% da cooperativa é formada por mulheres. A partir das apresentações, foram feitas reflexões que caracterizam o sistema agropastoril tradicional (SAT) de Fundo de Pasto, a partir de categorias como alimentos, objetos, técnicas e ofícios, lugares e práticas culturais, festivas e religiosas. As reuniões desse grupo de trabalho seguem até que todo o conteúdo e diretrizes metodológicas estejam prontos para serem postos em prática em futuras candidaturas do SAT Fundo de Pasto como Fortaleza Slow Food.
Os Fundos de Pasto são comunidades tradicionais, seculares, de utilização da terra de forma coletiva, destinada a criação de animais à solta, especialmente caprinos, aliando a produção de alimentos saudáveis e a preservação ambiental. O projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana é fruto de um convênio com o projeto Pró-Semiárido, executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional ligada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (CAR/SDR), e conta com o apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). Saiba mais aqui.
Texto: Luciana Rios – Consultora de Comunicação do Projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana
Imagem: Nathan Dourado – Facilitador do Projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana