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Slow Food da periferia para a periferia

 COZINHA MÃE materializa as interações da Revolução dos Baldinhos na rede Slow Food Brasil 

IMG 2264 Inauguração da Cozinha Mãe, outubro de 2018. Foto Sandra Alves. 

No movimento Slow Food a cozinha é a mãe da revolução. Já  o mais novo espaço comunitário da Chico Mendes, periferia de Florianópolis, foi batizado por suas idealizadoras de Cozinha Mãe. Inaugurada em outubro deste ano por lideranças femininas da Revolução dos Baldinhos e com o apoio de ativistas do Slow Food, a cozinha comunitária surgiu ocupando um local abandonado do Conjunto Habitacional Chico Mendes que seria de moradias populares. A ocupação foi pensada para fechar o ciclo da alimentação, complementando ações em compostagem e agricultura urbana que tornaram o Projeto uma referência nacional.

 

“Ela vem da comunidade para a comunidade. A revolução vai fazer onze anos atuando na Chico Mendes, trabalhando a gestão de resíduos e agricultura urbana e hoje está completando nosso ciclo com a Cozinha Mãe. Entendendo a necessidade que a gente vê nas atividades de sensibilização que tem muita gente na comunidade ainda que passa fome a gente não poderia ficar olhando e não ter uma atitude diante do que a gente encontra. E a fome era uma delas e, por isso, nosso maior objetivo é servir 150 pratos diários com aproveitamento total de alimentos formando um ponto de cultura alimentar. Também o apoio à microempreendedoras, gerando renda, trazendo lazer, qualidade de vida e mostrando que não existe lixo, que tudo se transforma.”(Cíntia Cruz, mobilizadora comunitária da Revolução dos Baldinhos)

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Cíntia e equipe da Revolução em atividade do Projeto Caracol (ASFB)

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Pátio da Cozinha Mãe no Conjunto Habitacional Chico Mendes.Foto Sandra Alves.

O sonho de ter um espaço de encontro, formações e distribuição de comida focado na gastronomia sustentável sempre esteve no horizonte de Cíntia Cruz e Ana Carolina da Conceição, mobilizadoras comuniárias. Um pequeno prêmio para a compra de materiais de construção, doações de parceiros e muita ação voluntária  dos moradores tornaram este sonho possível. E foi através de uma Disco Xepa (evento que já faz parte do calendário da Chico Mendes) que foi celebrada a abertura dos trabalhos na cozinha. Ativistas do Slow Food Brasil colaboraram com a estruturação física do espaço e seguem mediando processos de planejamento participativo e oferecendo  formações em ecogastronomia.

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Merendeiras da creche da comunidade desfrutam da Cozinha Mãe. Foto Sandra Alves 

Mulheres e crianças formam o público prioritário da Cozinha Mãe. O foco no aproveitamento total de alimentos, segurança alimentar, educação e cultura abre um leque de possibilidades. Temáticas que encontram eco no conceito do Projeto Caracol: fortalecimento, autonomia e participação social em comunidades produtoras de alimentos, iniciativa que tem na Chico Mendes uma das cinco comunidades do Brasil a receberem interações de educadores do Slow Food Brasil Educação com suas demandas. Proposto por este coletivo através da Associação Slow Food Brasil e apoiado pela cooperação internacional alemã  MISEREOR, o Projeto Caracol fortalece os primeiros passos da Cozinha Mãe, que por sua vez serve de laboratóio de metodologias transdiciplinares que vêem no alimento uma potente ferramenta para educar. 

 

Projeto Caracol inicia pelos mais pequenos

 

WhatsApp Image 2018 11 10 at 13.10.46 A chef de cozinha do Slow Food (SP) Adriana Vernacci e crianças da Chico Mendes 

 O último dia 09/11 foi dedicado às crianças na Cozinha Mãe, atividade ocorrida no âmbito do Projeto Caracol. Três oficinas simultâneas foram ministradas durante todo o dia sensibilizando crianças de diversas idades para o ciclo da alimentação. No espaço externo foi iniciada a horta da Cozinha Mãe no melhor estilo da agricultura urbana (em caixas de feira e pets). Após colocar as mãozinhas na terra, os pequenos tiveram seus olhos vendados e  foram conduzidos uma aventura dos sentidos onde podiam tocar, cheirar e provar alimentos de forma lúdica. Na etapa seguinte a brincadeira foi ficando séria e as crianças foram uniformizadas para se tornarem cozinheiras e cozinheiros na preparação de bolos e tortas com verduras orgânicas e PANCS. Produzira até mesmo um refrigerante natural com água gasosa, laranja, limão e cenoura.

 

WhatsApp Image 2018 11 10 at 13.03.20A oficina dos sentidos proporciona uma interação lúdica com os alimentos na descoberta de suas sensaçoes. 

WhatsApp Image 2018 11 10 at 12.40.29A refeição foi apreciada por crianças da creche e de dois projetos sociais da Chico Mendes, além de pais, professores e convidados.

 WhatsApp Image 2018 11 10 at 13.09.03Oficina de compostagem na Cozinha Mãe

 

Revolução na rede Slow Food 

 

DSC 0321Revolução dos Baldinhos no Encontro de formação da REDE CATARINA SLOW FOOD, Florianópolis, 2013. Foto Fernando Angeoleto, arquivo CEPAGRO. 

As histórias do Slow Food Brasil e Projeto da Revolução dos Baldinhos se cruzam. Em 2010, a equipe da Revolução foi convidada para participar e compostar o resíduo orgânico do Terra Madre Brasil, evento ocorrido em Brasília e considerado um marco do movimento no Brasil. A partir daí, o trabalho com a compostagem e agricultura urbana foi entendido como complementar e essencial na defesa do alimento bom,limpo e justo. Com a benção de Carlo Petrini, presidente internacional do movimento e articulada pela ong CEPAGRO (onde também nasceu o Convívio Engenhos de Farinha)  a Revolução dos Baldinhos tornou-se uma referência da jovem rede brasileira do Slow Food. Isto fez com que um dos idealizadores do Projeto, o agrônomo Marcos José de Abreu passasse a compor a primeira gestão do Conselho da Associação Slow Food Brasil equanto representante da agroecologia e agricultura urbana. 

  IMG 1253Oficina de compostagem no Terra Madre Itália em Turim, 2010. Foto Fernando Angeoleto, arquivo CEPAGRO. 

 Em 2011, Lene Rodrigues, Ana Carolina da Conceição e Maicon de Jesus,  jovens lideranças da Chico Mendes embarcaram para Turim para particpar do Terra Madre Itália junto com a delegação brasileira. Em 2012, a Revolução dos Baldinhos representou o Slow Food Brasil na Cúpula dos Povos, programação da conferência internaiconal Rio +20, com oficinas de compostagem e visitas à feiras orgânicas com outros nós da rede. 

terramadre 10O rap “O bonde dos Baldinhos” que conta a história do Projeto foi um dos hits do Terra Madre Brasil em 2010. Foto arquivo CEPAGRO. 

Em 2014 ocorreu a primeira Disco Xepa, iniciativa global do SLOW FOOD com foco no combate ao desperdício de alimentos que chegava ao Brasil. A ideia caiu como uma luva para as demandas trabalhadas pelo Projeto da Revolução dos Baldinhos e logo se tornaram parte do calendário anual que conta com o apoio do SESC MESA BRASIL na doação dos alimentos.  Foi a partir das “Xepas” que os cozinheiros do Slow Food foram se aproximarando cada vez mais da comunidade, com destaque para o trabalho de Phillipe Belletini, gastrônomo do Convívio Mata Atlântica que foi o idealizador destes eventos e hoje é articulador do Slow Food na Cozinha Mãe. 

10702124 733428196713142 2676574330171257247 nA DISCO XEPA entrou pro calendário da Revolução dos Baldinhos e hoje inspira o Projeto Favela Cultural  

O Projeto Revolução dos Baldinhos 

A história da Revolução dos Baldinhos iniciou em 2008. O projeto surgiu como solução criativa e coletiva para um surto de leptospirose provocado por excesso de lixo e ratos nas ruas da Chico Mendes, o que levou dois moradores a óbito. Foi neste contexto que lideranças comunitárias e representantes da ONG Cepagro – Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo iniciaram o desenvolvimento do que hoje é compreendido como uma tecnologia social certificada em 2011 pelo Banco do Brasil: a gestão comunitária de resíduos da Revolução dos Baldinhos. Hoje, esta tecnologia social é replicada em diversas localidades através dos empreendimentos do Programa Minha Casa, Minha Vida e também iniciativas da Prefeitura de Florianópolis. 

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A reciclagem da fração orgânica do resíduo na e pela própria comunidade através do método UFSC de compostagem, além de ter sido um antídoto para a grave situação, trouxe consciência ambiental, empoderamento e segurança alimentar para os moradores, gerando como produto o composto orgânico, base da agricultura urbana. Assessorados pelo Cepagro,entidade que acolheu o Projeto, a Revolução dos Baldinhos sempre contou com mulheres à frente de seu  trabalho que envolve sensibilização e mobilização comunitária e educação ambiental. 

 

Sonhos, alianças e compromissos comuns na Cozinha Mãe

 

IMG 2369Equipes da Revolução e Projeto Caracol com apoiadores da Cozinha Mãe 

Após a inauguração da Cozinha Mãe novos desafios emergem para a comunidade e rede Catarina Slow Food. O planejamento participativo prevê uma agitada agenda  para 2019 vizando fortalecer o grupo de mulheres que fará uso do espaço enquanto microempreededoras do ramo alimentício. Atividades de formação, educação e cultura estão na pauta. Porém, o desafio da sustentabilidade das ações soma-se ao hostil cenário social e politico do Brasil exigindo mais alianças e muito mais resiliência. A rede Slow Food Brasil vê crescer sua primeira comunidade do alimento situada no meio urbano.  Em suas oficinas, Ana Carolina da Conceição, membra da Revolução e estudande de educação do campo na UFSC não se cansa de repetira a frase: “O nosso campo é a cidade!” 

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