A palmeira Butia catarinensis possui pequeno porte, não passa de 3 metros de altura e é dela que se origina o seu fruto carnoso, que mede 1,4 – 2,6 cm e sua cor pode variar de acordo com seu processo de maturação e/ou variedade genética, podendo ser amarela, marrom, verde, alaranjada, alaranjada-avermelhada ou vermelha quando maduros. Seu perfume é adocicado, e seu sabor pode ser mais adocicado quando maduro, mas nunca perde sua leve adstringência e mais ácido quando verde. Possui em seu interior o coquinho que contém amêndoa, havendo diversos usos gastronômicos, ou saboreados em uma roda de conversa, quebrando os coquinhos com uma pedra e apreciando o seu sabor.
A época ideal para a colheita é dos meses de dezembro a março através de técnicas simples de coleta com facões, o coletor retira em média 200 kg do fruto e depois pode ser processado em polpa, principalmente, ou vendido in natura.
O Butia catarinensis se encontra em todo o território Serra Mar Catarinense, composto por 34 municípios que se encontram tanto na zona litorânea quanto rural e possui área de 8,201.65, sendo Garopaba, Imbituba, Laguna, Pescaria Brava, Jaguaruna, Rio Fortuna e Imaruí, os municípios que compõem a Fortaleza Slow Food.
Sua paisagem é litorânea e está presente um importante complexo lagunar, composto por oito lagoas, sendo as mais importantes a Lagoa do Mirim, de Imaruí e de Santo Antônio, que tem como principal contribuinte fluvial o rio Tubarão, além de cordões arenosos compondo uma paisagem permeada de dunas e restinga. Clima mesotérmico úmido, não sendo nem quente, nem frio, porém chuvoso. Altitudes baixas, estando no nível do mar.
Pela presença de dunas e restinga há forte ocorrência do que os nativos chamam de butiazais. Tradicionalmente, a população fazia diversos usos dos butiás, além do próprio fruto para fazer sucos, geleias, bolos e cachaça, se utilizavam da palha do butiá para a manufatura de artesanatos e esteiras. Nestas áreas, também cultivavam a sua roça, com plantio de mandioca, milho e amendoim. Com o passar do tempo e com o avanço da especulação imobiliária, obras de infra-estrutura, instalação do Porto de Imbituba e por queimadas criminosas, a região começou a sofrer com a redução de suas áreas, sendo hoje o butiá uma espécie protegida pelo seu risco de extinção, sendo proibido o seu corte. Junto a estes fatores, hoje o butiá é muito procurado para o consumo, havendo um aumento de sua procura, o que leva a uma exploração desordenada destes butiazais, que geralmente é realizada por pessoas de fora da região.
Os grupos e pessoas que possuem comprometimento com esta importante palmeira, são os que acabam realizando o seu processamento. A forma de coleta e manejo são simples, onde os extrativistas cortam os cachos da palmeira e depois passam pelo processo de debulha, onde os frutos são retirados dos cachos, selecionados, higienizados e congelados. Depois de congelado, eles realizam a despolpa do fruto e a transforma nas polpas que são vendidas para sorveterias, restaurantes e pessoas que a transformam em suco que são vendidos na beira da estrada. Mas o mais importante é auto-consumo desta deliciosa polpa e de seu fruto, onde diversas receitas são experimentadas, como os bolos, geléias, curtidas em aguardente e biscoitos, além do aproveitamento da semente do butiá em outros produtos como a farinha ou consumidas in natura.
A Fortaleza
A partir da década de 2000 começam a surgir iniciativas e alguns eventos de maior presença no território com foco nos butiazais, como a fundação da Associação Comunitária Rural de Imbituba (ACORDI) e o início dos trabalhos do grupo Vó Maria, apoiado pela Cáritas de Tubarão e a inclusão do butiá na Arca do Gosto. Outros grupos, como o SOS Butia Catarinensis foi criado focado na preservação da espécies e no combate às queimadas ilegais na região de Imbituba, além do trabalho da EMBRAPA voltada para o turismo comunitário pelo projeto Rota dos Butiazais.
O processo de criação da Fortaleza é fruto do esforço das comunidades em proteger essa importante espécie de referência cultural agroalimentar para a sua população. Porém para proteger esta espécie era preciso outras ações que se relacionasse com a organização dos grupos que participam no processos de extração, beneficiamento e comercialização do butiá, além da própria articulação política com o poder público para o reconhecimento destas áreas e a sua proteção de tal forma que se possa realizar extrativismo sustentável destas áreas.