São conhecidas por guavira, diversas plantas do gênero Campomanesia, família Myrtaceae, sendo C. adamantium a mais comum em Mato Grosso do Sul. Além dessa também são registradas na região C. pubescens, C. aromatica e C. sessiliflora. Guavira, Guabiroba ou Gabiroba é o nome dado a essas espécies de arbusto ou subarbusto que possuem tamanho de 50 cm a mais de 1,5 m de altura. Todas as espécies possuem flores alvas e abundantes entre os meses de setembro e outubro. Frutificam de novembro a janeiro. Os frutos são globosos, suculentos e em geral com casca esverdeada mesmo quando maduros. Em alguns casos os frutos podem ser amarelos na maturação. São característicos por terem o cálice da flor persistente semelhante ao que ocorre na goiaba, que é da mesma família. Ocorrem principalmente em ambientes de Cerrado com solo arenoso, podendo ocorrer também no Pantanal (C. sessiliflora e C. adamantium) em áreas de cerradão e borda de mata (Damasceno-Junior et al. 2010).
A polpa é suculenta, doce e acidulada, com sementes brancas e moles. Dependendo do ano e das chuvas os frutos podem variar de tamanho , tendo em média 5-7 cm de diâmetro. A colheita da fruta é feita nos meses de novembro e dezembro, manualmente. No mesmo arbusto podem haver frutas verdes e maduras. A propagação se dá por sementes, mas também pode haver rebrota a partir de sistema subterrâneo.
Os frutos da guavira são ricos em vitamina C, apresentando valores comparáveis à acerola e ao camu-camu. Também são ricas em cobre e zinco (Damasceno Junior et al. 2010). Além da polpa, que já é muito apreciada, pode-se aproveitar a casca e a semente. Quando desidratadas, podem dar um produto comparável em sabor à noz moscada. Os frutos possuem um sabor amargo-cítrico muito interessante. Pode ser usado na medicina popular.
A guavira é facilmente fermentada podendo ser usada para vinho ou para as cervejas artesanais. Também pode ser usada para licores e cachaças artesanais. A cachaça com frutos de guavira curtidos é muito apreciada no Mato Grosso do Sul. Podem ser consumidos ainda na forma de sucos, doces, picolés, sorvetes e geleias. A extração da polpa da guavira deve ser feita manualmente espremendo os frutos uma vez que o fruto oxida facilmente em contato com metal.
No Centro-Oeste, o hábito de consumir guavira vem dos indígenas Terena, do estado de Mato Grosso do Sul. Os frutos são coletados pelas mulheres dessa etnia e são vendidos em Campo Grande e também na cidade de Bonito. Além dos Terena, o hábito de colher guavira é tradicional no estado onde a atividade é conhecida como “catar guavira”. Atualmente ainda existem guavirais espalhadas nas fazendas sul-mato-grossenses. Em novembro, muitos fazendeiros abrem as porteiras e no final de tarde se vê carros e motos abandonados na estrada e as pessoas dentro do “mato” com baldes e sacolas em busca da fruta. As pessoas aproveitam a época para estocar a fruta nos freezers.
Em Mato Grosso do Sul é lendária a associação do “catar guavira” com namoro. Existe até música como a “Amor e Guavira” de Tetê Espíndola e Carlos Rennó que retratam essa situação. Além disso, existe também um festival da guavira realizado na cidade de Bonito todos os anos. (Damasceno-Junior et al. 2010).
As guaviras especialmente C. adamantium são típicas de Cerrado ocorrendo ao longo de todo Brasil Central, nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina (Sobral et al 2016). Existem espécies do mesmo gênero que têm hábito arbóreo que são encontradas em área de floresta como C. xanthocarpa. No Mato Grosso do sul, principalmente C. adamantium, ocorre em aglomerados quase monodominantes de arbustos conhecidos como guavirais. As áreas naturais de ocorrência da guavira são objeto de atividade agropecuária e estão fortemente desmatadas em todo estado. Nas áreas naturais de ocorrência foram plantados pasto para o gado, milho e soja e destruindo a maior parte dos guavirais nativos. Os guavirais persistem ainda nas fazendas nos lugares onde as grades não conseguem passar e nos lugares mais pedregosos. Há guavirais em todo o Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, Dourados, Aquidauana, Maracaju, e várias pequenas cidades do estado.
Campomanesia xanthocarpa Foto: Sergio Bordignon
Os frutos são colhidos com fins de comercialização pelos índios Terena em Bonito, Bodoquena e em Campo Grande. Em Bonito, cidade turística do Mato Grosso do Sul, foi criado o Festival da Guavira com objetivos claros de integração comunitária, resgate e valorização da história e da cultura, sem esquecer da conservação dos recursos naturais
Pelo fato da carne e soja terem muito mais valor comercial do que a guavira, as pessoas destroem os guavirais para plantar o pasto e as plantações de soja, e não incentivam a sua conservação. O único produtor de polpa da região não conseguiu tirar a licença sanitária no ano passado, e com isso muitos restaurantes e bares que vendiam o suco pararam de vender o suco de guavira, que é muito popular e apreciado na região. Como a polpa é difícil de ser processada, a maioria dos restaurantes não se da ao trabalho de fazer nos seus estabelecimentos se não encontrar a polpa pronta.
Indicação por Leticia Sguissardi Krause e Geraldo Alves Damasceno Junior
Revisão por Jean Marconi e Ligia Meneguello
Para mais informações:
SOBRAL, M., PROENÇA, C., SOUZA, M., MAZINE, F., LUCAS, E. 2016. Myrtaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponivel em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB10308>. Acesso em: 18 Jan. 2016
DAMASCENO-JUNIOR, G.A., SOUZA, P.R., BORTOLOTTO, I.M., RAMOS, M.I.L., HIANE, P.A., BRAGA NETO, J.A., ISHII, I.H., COSTA, D.C., RAMOS FILHO, M.M., GOMES, R.J.B., BARBOSA, M.M., RODRIGUES, R.B. 2010. Sabores do Cerrado e Pantanal: Receitas e boas práticas de aproveitamento 1. ed. Campo Grande: Editora UFMS, 2010. v. 1. 141p.
LADEIRA, M.E. & AZANHA, G. 2004. Povos indígenas no Brasil: Terena. Disponível em <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/terena/1040>. Acesso em 09 de março de 2016.
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