Em que condições se encontram os nossos mares? Quais espécies de peixe estão em perigo de extinção? Podemos influenciar o mercado? Devemos deixar de consumir peixe?
O peixe imerso nas águas, e portanto invisível, é um patrimônio difícil de se estudar e conhecer. Para a pesca, assim como para a agricultura, o Slow Food acredita que cada pessoa pode contribuir na mudança de um sistema alimentar globalizado, baseado na exploração intensiva dos recursos naturais, para um sistema alimentar que preze pelos trabalhadores da pesca artesanal e as espécies de pescados pouco conhecidas no mercado. Com este espírito, a campanha internacional Slow Fish multiplica, incentiva, apoia as iniciativas e ações locais estimulando uma reflexão sobre o estado e a gestão das reservas pesqueiras.
E assim propomos que você se junte a essa campanha participando de uma ação local que unida a tantas outras pequenas ações poderá surtir efeito positivo sobre os nossos mares. Estamos no período da quaresma, quando o consumo de peixes sofre um considerável aumento e este é o momento de provarmos que podemos manter as tradições de forma consciente.
É essencial que os membros associados do Slow Food e todos os integrantes da rede Terra Madre dêem voz e visibilidade aos peixes dos nossos mares e participem do Desafio Slow Fish Day, realizando na semana da sexta-feira santa ou no dia de Páscoa uma receita com um peixe que não esteja em período de reprodução e nem mesmo em risco de extinção.
Como participar
1. Encontre o peixe certo:
- Evite espécies ameaçadas, tais como o atum azul, salmão do Atlântico e salmão de cultivo, camarões tropicais.
- Escolha peixes locais, isto é, capturados no mar ou lagoas próximas a você.
- Assegure-se que o seu peixe tem o tamanho mínimo necessário para reprodução.
- Use peixe da estação, ou seja, espécies que estão fora do período de reprodução.
Clique e veja mais informações sobre a campanha Slow Fish e conheça alguns materiais de apoio para ajudá-los a escolher o pescado certo.
2. Forneça as informações sobre o pescado escolhido.
Procure coletar o máximo de informações possíveis sobre o pescado.
Veja o exemplo da ABROTÉA
- Nome Comum: Abrotéa; Abrote; Brota; Brótula; Bacalhau Brasileiro.
- Nome Científico: Urophicis brasiliensis
- Tamanho Mínimo: s/indicação
- Tamanho Máximo: 75cm fêmeas-45cm machos / 2,5kg. Atualmente encontra-se apenas de 50cm/2kg.
- Época da pesca: Durante todo o ano, mas já há necessidade de defeso para período de reprodução segundo Projeto REVIZEE.
- Habitat: do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro, na costa sul e sudeste, em fundos de areia, lodo e cascalho em alto mar e águas profundas.
- Pesca, Criação, Tradição, Inovação: No Brasil costuma-se consumir a Abrotéa como sendo o filé de Bacalhau fresco. Na verdade a Abrotéa, depois de salgada lembra levemente o Bacalhau, e quando viva possui leve semelhança com algumas das espécies daquele peixe. No entanto, apesar de pertencerem a mesma ordem, são espécies diferentes, sendo o Bacalhau espécies do mar de águas frias e a Abrotéa das águas temperadas do Atlântico Sul. O prato Abrotéa à Gomes de Sá foi propositalmente escolhido por ser um prato típico preparado com Bacalhau, embora sejam espécies diferentes, há preparações em que a Abrotéa apresenta sabor muito próximo ao Bacalhau. No Brasil é capturado no sul e sudeste com arrasto de fundo, muito usada para pesca de espinhel de fundo [1]. Pesca que consiste em uma linha de nylon de 80km de extensão com cerca de 1,2 mil anzóis especiais para a pesca de peixes de grande porte como tubarão, cação, atum e espadarte.
A espécie U. Brasilienses é um recurso tradicionalmente explorado há muitas décadas, por rede de arrasto e emalhe de fundo, já a U. Mystaceus só a partir dos anos 90 começou a ser explorada. Durante o projeto REVIZEE [2] houve indícios de que o recurso pode estar sendo sobre-explorado. Foi diagnosticado grande estoque de Abrotéa de profundidade.
Na atualidade com a crise econômica na Europa, em Portugal, aumentou o consumo da Abrotéa, já no Açores é considerado peixe fino, consumido frito ou cozido. No Brasil a Abrotéa é mais consumida de maneira doméstica, todavia pouco encontrada em cartas de restaurantes. Mas há exceções, como por exemplo o Restaurante Amadeus/SP que na semana santa deste ano, além do tradicional Bacalhau, colocou em sua carta opções com Abrotéa, prato representativo de apoio a campanha Slow Fish Brasil.
Em notícias recentes sobre consumo de peixes a Abrotéa foi identificada como uma espécie que é consumida sim em restaurantes, mas sem que o cliente saiba[3].
Fontes:
[1]Pesca SP. GOV
[2] Análise das Principas Pescarias Comerciais da Região Sudeste-Sul do Brasil: Dinâmica Populacional das Espécies em Explotação – II p.86
[3]Revista Abril
3. Escolha uma receita:
Prefira receitas tradicionais da cozinha brasileira. Também entram na aventura a busca por receitas de outras cozinhas internacionais.
Se preferir, seja criativo e faça uma receita inventada por você, que poderá se tornar uma tradição do futuro.
4. Cozinhe e Compartilhe
Na sua casa, comunidade, restaurante, quiosque, foodtruck, buffet, catering, feira, escola , cursos, universidades, etc….
Convide amigos, colegas, familiares, clientes, jornalistas, cozinheiros e compartilhe o alimento com todos os convidados num saboroso momento de conversa marcado pela convivialidade.
Não deixe de explicar porque você está participando do Desafio Slow Fish, porque escolheu este pescado e porque ignorou outras espécies.
Sua receita será uma oportunidade de celebração através de um significativo gesto de responsabilidade. Um ato político real para salvar nossas águas e sua biodiversidade.
5. Divida conosco a sua aventura
Envie para nós as informações do pescado escolhido, a receita adotada, uma foto do prato e conte-nos um pouco como foi participar do Desafio Slow Fish. Vamos publicar as receitas dos pratos aqui no site e em nossas mídias socias. Ajude-nos a divulgar e inspirar novas celebrações responsáveis.
Envie para: [email protected]
Escolha pescados locais bons, limpos e justos!
Boa sorte e bom desafio!