Mel de Abelha Jandaíra
A abelha jandaíra (Melipona subnitida) é uma espécie endêmica da Caatinga, o bioma semiárido brasileiro que abrange os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Seu nome em tupi “jandiá-ira” significa “abelha do mel”. Pertence ao grupo Meliponini, grupo exclusivo das zonas tropicais e subtropicais, formado pelas abelhas sem ferrão. A criação desse tipo de abelhas é denominada de meliponicultura e é atividade intimamente ligada aos costumes tradicionais da região nordestina do Brasil. A produção de mel de jandaíra depende das chuvas, que costumam ocorrer entre entre janeiro e março. Nos melhores anos se pode obter até dois litros de mel por ninho. Seu mel tem coloração clara, sendo recolhido diretamente dos potes dentro colmeia e filtrado antes de ser envasado e comercializado.
Na Caatinga, em especial no estado do Rio Grande do Norte, quem reina é a abelha jandaíra. Seu mel é amplamente utilizado pelas comunidades locais para alimentação e medicina popular e compõe a Arca do Gosto.
O município de Jandaíra é batizado com seu nome tão significativa foi a presença desta abelha e também em homenagem à profunda relação de seu povo com o manejo e produção do mel dessa espécie. Ele está localizado no território do Mato Grande, o principal berço genético da abelha. A grande incidência de enxames tem registros que remontam a meados do século XIX, tempo em que os tropeiros ali pernoitavam, levando lenha e carvão para o litoral, de onde traziam o peixe de sal preso. No caminho, buscavam o excelente mel dos troncos ocos das imburanas. Utilizavam o mel na própria alimentação ou, dependendo da quantidade explorada, obtinham um produto de grande valor na troca por outros alimentos.
Com o tempo, pequenos “arruados” foram se formando na beira das estradas tropeiras, dando origens a municípios como Jandaíra, oficialmente fundada em 1964. Lá o mel da abelha nativa ganhou fama e status de “medicinal” na cultura popular. O comércio do mel em Jandaíra sempre foi bastante visado. Mesmo em Natal, capital do Rio Grande do Norte, a referência ao mel é feita com muita distinção: “mel de jandaíra é coisa dos deuses”; “gripe e resfriado se cura com mel de jandaíra”; “quem passa em Jandaíra tem que trazer mel”, diziam os mais antigos, que costumavam consumi-lo com farinha de milho. Atualmente é conhecida como “a Cidade do Mel”.
Este mel apresenta sabor especial e coloração variada desde o amarelo escuro até um amarelo ouro suave ou mesmo branco, variando de acordo com a florada, que depende do regime de chuvas. No entanto seu uso gastronômico ainda é pouco explorado, apesar de uma enorme diversidade de possíveis usos, sendo muito apreciado por cozinheiros.
Nas terras secas do Povoado do Cabeço, em Jandaíra/RN, as abelhas nativas sem ferrão são criadas há várias gerações, tradição passada de pai para filho. Ela é fundamental para a polinização da Caatinga. Por este motivo, os membros da Associação dos Jovens Agroecologistas Amigos do Cabeço – JOCA (que constituem a Comunidade dos Jovens Criadores de Abelhas Nativas do Rio Grande do Norte) lutam pela perpetuação dessa tradição, divulgando técnicas de multiplicação das colônias familiares, desestimulando a retirada depredatória de abelhas remanescentes em hábitat natural, pois conservando a jandaíra, conserva-se a Caatinga, conserva-se o povo.
O reconhecimento do trabalho desta comunidade culminou na criação da Fortaleza do Mel de Abelha Jandaíra, durante a festa de São João de 2017.
Área de produção
Comunidade do Cabeço, município de Jandaíra, Território do Mato Grande, Rio Grande do Norte, Brasil
Produtores
São organizados na Associação de Jovens Agroecologistas Amigos do Cabeço (JOCA)
Responsável pela Fortaleza
Referente Slow Food
Adriana Lucena
e-mail: [email protected]
tel: +55 84 9670-3351
Coordenador da Fortaleza Slow Food
Francisco Melo Medeiros
e-mail: [email protected]
tel: +55 84 8719-3892