Waraná nativo Saterè-Mawé

Baru Fortaleza Slow Food – COPABASE

Mandioca

Quiabo. Foto: Neha deshmukh

Dendê no pilão

Sociobiodiversdade na Amazônia. Foto: Bruno Franques

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Cuscuz paulista com ervilha fresca, palmito e ora-pro-nóbis

Foto: Cuscuz paulista, por Camila Fontenele

Rendimento: 12 porções
Tempo de preparo: 40 minutos + 3 horas de geladeira

Ingredientes:

400 g de ervilha fresca
3 xícaras de farinha de milho flocada (biju)
½ xícara de farinha de mandioca grossa
6 dentes de alho fatiados
½ xícara de azeite de oliva
1 alho-poró fatiado fininho
500 g de tomate maduro em cubos
2 colheres de sopa de pimentão amarelo em cubinhos 
2 colheres de sopa de pimentão vermelho em cubinhos
2 colheres de chá de colorau
300 g de palmito picado em cubos
3 xícaras de água ou caldo de vegetais quente
1 xícara de azeitona preta fatiada
40 folhas de ora-pro-nóbis picadas
Cheiro-verde picado a gosto
Coentro picado a gosto (opcional)
Sal a gosto
Pimenta-do-reino a gosto
Tiras de pimentão, folhas de salsinha e azeitonas para decorar

Modo de preparo:

  1. Em uma frigideira, coloque 4 colheres de azeite e a ervilha, salteie até ficar macia, adicione sal e reserve.
  2. Misture as farinhas em uma tigela e reserve.
  3. Unte uma fôrma para cuscuz com azeite e decore a base com ervas, azeitonas e pimentão. Use a criatividade.
  4. Aqueça uma panela funda, coloque ⅓ do azeite e doure o alho com o alho-poró. Em seguida adicione o tomate, os pimentões em cubos, o colorau e refogue por 2 minutos, então adicione a água. Assim que ferver, abaixe o fogo e cozinhe por 5 minutos. Coloque a ervilha, a azeitona, o palmito e deixe cozinhar por mais alguns minutos. Adicione as ervas, a ora-pro-nóbis, sal, pimenta, mexa e comece a acrescentar as farinhas aos poucos, sempre mexendo. Cozinhe até formar uma massa macia e lisa, mexa constantemente para que não queime.
  5. Desligue o fogo e adicione o restante do azeite, mexa bem. Coloque rapidamente toda a massa na fôrma já untada e decorada. Pressione bem com uma colher e alise a superfície, deixe esfriar em temperatura ambiente.
  6. Leve para a geladeira por no mínimo 3 horas, desenforme e sirva.

Dicas: Prepare um dia antes para que os sabores amadureçam. Se usar palmito pupunha fresco, cozinhe-o com a ervilha, anteriormente. Consuma, de preferência, farinha de milho não transgênico.


Esta receita integra o Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas. Rita Taraborelli é cozinheira vegetariana, ilustradora e integrante do Levante Slow Food Brasil. Conheça mais sobre esta publicação acessando aqui (link).

Cuscuz paulista com ervilha fresca, palmito e ora-pro-nóbis

Receita de Cuscuz paulista com ervilha fresca, palmito e ora-pro-nóbis, por Rita Taraborelli. Conteúdo do Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas.

Moqueca de Caju

Rendimento: 4-5 porções
Tempo de preparo: 2 horas

Lembro muito bem da vez em que  servi este prato para John Mackey quando esteve no Brasil. Na ocasião, ele estava visitando a Fazenda da Toca e fui convidada para preparar as refeições.

Ingredientes
1 kg de cajus frescos inteiros
2 limões
3 dentes de alho amassados
1 pimenta dedo-de-moça
½  pimenta jalapenho vermelha ou pimenta malagueta sem semente
½  colher de sobremesa de raiz de coentro picado
3 cebolas em rodelas
1 pimentão vermelho em rodelas
1 pimentão amarelo em rodelas
5 tomates maduros em cubos
Azeite extravirgem
Coentro fresco picado
Salsinha fresca picada
Folhas de manjericão 
1 xícara de leite de coco fresco
1 colher de sopa de polvilho
Azeite de dendê (opcional)
Sal

Ilustração: Rita Taraborelli

Modo de preparo

  1. Prepare o caju: retire a pele e a castanha, corte a polpa ao meio e coloque em uma tigela.
  2. Para fazer a marinada, pique as pimentas (sem as sementes) e misture com o suco de limão, o alho amassado, a raiz do coentro, e metade das folhas de coentro e a salsinha. Verta a mistura sobre o caju e deixe marinar por 1 hora.
  3. Refogue a cebola com os pimentões (sem as sementes) e os tomates no azeite. Desligue o fogo, adicione o manjericão e ajuste o sal.
  4. Montagem: Em uma panela de barro, faça uma cama com a metade do refogado. Coloque o caju e, em seguida, o resto do refogado.
  5. Por último, coloque o leite de coco e cozinhe por 20 minutos em fogo baixo. Deixe a panela semiaberta.
  6. Finalize com azeite extravirgem, ou dendê, e coentro fresco.
  7. Sirva com arroz-cateto  integral, farofa de banana e couve dourada.

Esta receita integra o Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas.
Rita Taraborelli é cozinheira vegetariana, ilustradora e integrante do Levante Slow Food Brasil.
Conheça mais esta publicação acessando o link

Moqueca de Caju

Receita de moqueca de caju, por Rita Taraborelli. Conteúdo do Flora Comestível do Brasil – Receitas Vegetarianas.

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No sertão nordestino, carne de bode tece sobrevivência, cultura e economia

Carne manteada de bode é herança cultural, fonte de subsistência e atividade econômica de comunidades tradicionais no sertão do Nordeste 

“Eles comem essa carne assada, ou frita, na farinha, com macaxeira, no café da manhã, quando vão e voltam da roça. Não tem um momento específico para isso”, comenta Revecca Tapie, facilitadora do projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana, referindo-se à carne manteada de bode, recém inserida na Arca do Gosto do movimento Slow Food.

Uma das técnicas tradicionais de se conservar o bode, bastante consumido na região do sertão nordestino – o Nordeste do Brasil abriga 93% do rebanho brasileiro de caprinos, com 9,09 milhões de cabeças –, é através da produção da carne manteada, ou simplesmente manta de bode. A produção se dá da seguinte maneira: o bode (em alguns lugares, o carneiro) é desossado, a carcaça é manteada – aberta como um lençol, daí o nome manta –, para em seguida ser salgada e seca ao sol, como forma de conservação da proteína animal. Intimamente ligada à sobrevivência, essa técnica ancestral exprime o saber fazer das comunidades tradicionais de Fundo de Pasto do Território do Sertão São Francisco – caracterizadas pela criação dos animais de maneira solta, em área comunal.

Criação caprinos pé-duro em sistema Fundo de Pasto na Caatinga – Juazeiro: Bahia

A prática, entretanto, vem se perdendo na região, sobretudo pela falta de manteador, a pessoa responsável por “retalhar” o animal logo depois do abate. “Há uns 20 anos, cada família tinha um ‘manteador’. Hoje, nem toda comunidade tem um, o que coloca completamente em risco esse produto, uma vez que se acabar a técnica de produção, automaticamente vai se acabar essa cultura alimentar local”, relembra Revecca sobre a falta de população jovem para assumir a atividade. 

Uma série de exigências sanitárias que não correspondem ao contexto do território  e a procura dos consumidores por outros cortes de carne também são obstáculos para a manutenção desse saber ancestral. 

Manta em processo de desidratação (secagem) de maneira tradicional em quinta familiar do Fundo de Pasto

Para a cozinheira Juci Melo, somada à importância de se manter viva uma história está a valorização do pequeno produtor. Hoje, 90% das proteínas utilizadas em seu Restaurante Flor de Mandacaru, em Petrolina/PE – a apenas cinco quilômetros de Juazeiro/BA – vem de pequenas criações. A carne de bode manteada que chega à sua cozinha tem como destino alguns pratos bastante apreciados sobretudo pelos turistas, como o bode à pururuca frito na banha de porco, o arroz caldoso com carne de bode, a paçoca com bode seco (outro nome pro bode manteado) e o pintado – prato típico do vizinho Ceará que, além da manta de bode, leva feijão com mungunzá.

Natural do distrito de Campo Santo, no município de Santa Filomena/PE, a história dessa “caatingueira arretada” – como a própria Júci se intitula na rede social – com a carne de bode manteada remete à infância, onde o uso da técnica era sinônimo de necessidade. “Eu nasci na roça, e na casa do meu avô, que era vaqueiro, tinha tudo isso. Matava os animais e não tinha geladeira, então fazia todos os processos de abrir as mantas e ‘retalhas’, ela rememora, com destaque para a carne caprina. “E salgava bastante. Botava muito mesmo, que era pra poder conservar. Depois curtia a pele do bode, nada se perdia. Fazia paçoca de bode, arroz de bode”. Desse último, Juci compartilha a receita, no final do texto.   

Salga tradicional da manta para exposição e secagem ao sol/ Comunidade Goiabeira, Juazeiro-BA (Foto: Revecca Tapie)

Ainda que hoje as possibilidades de conservação da carne tenham se ampliado, a técnica faz parte da realidade alimentar dessas comunidades, sustenta a principal atividade econômica local e está ligada à herança cultural de cada uma delas. “As mantas imprimem a particularidade cultural de cada povo”, revela a pesquisadora. Em comunidades como a Goiabeira, em Juazeiro, em que Revecca realizou sua pesquisa, predomina o bode pé-duro, fruto da miscigenação de várias raças ao longo dos anos, muito adaptado ao clima quente e seco, e cuja alimentação provém basicamente das plantas da Caatinga. O rebanho de caprinos na região remonta ao período colonial e seu estabelecimento no extremo norte da Bahia, na fronteira com Pernambuco, aconteceu de forma simultânea à formação dessas comunidades rurais. Cada família das comunidades visitadas tem aproximadamente 50 cabeças.

Em 2018, a Manta de Petrolina foi considerada patrimônio cultural imaterial da cidade, com o objetivo de agregar valor ao produto, além de endossar uma possível candidatura a reconhecimento de indicação geográfica. A aprovação da lei, entretanto, levantou a dúvida dos manteadores mais antigos, que relataram que a manta em questão difere da tradicional, já que utiliza carne de bode de raça. 

Assim como o sal conserva a carne, a inserção do bode manteado na Arca do Gosto tem o objetivo de conservar e salvaguardar a técnica tradicional e a cultura alimentar das comunidades de Fundo de Pasto do semiárido baiano, que tanto alimentaram e ainda vêm alimentando – tanto econômica quanto culturalmente – os moradores da Caatinga ao longo das últimas décadas. 

A carne de bode manteada está entre os novos produtos inseridos na Arca do Gosto no contexto do Projeto Slow Food na Defesa da Sociobiodiversidade e da Cultura Alimentar Baiana. A iniciativa é fruto do convênio com o Projeto Pró-Semiárido, executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional, ligada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (CAR/SDR), e conta com o apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

Arroz caldoso de bode da Juci Melo (Flor de Mandacaru)

Rendimento: 06 porções

INGREDIENTES

500 gramas de arroz vermelho

500 gramas de bode seco (manta do bode)

1 cebola roxa

5 dentes de alho picado

Pimenta de cheiro

Pimenta do reino

Sal a gosto

Cheiro verde agosto

MODO DE FAZER

Em uma panela, refogue a cebola e o alho em óleo, e então acrescente a manta de bode picada. Quando a carne estiver selada, acrescente água o quanto baste até a proteína cozinhar muito bem. Depois que o bode estiver cozido, *junte o arroz e água o suficiente para cozinhá-lo*. Aí é só acertar o sal, finalizar com as pimentas e o cheiro verde, e está pronto.

Foto: Rafael Melo

No sertão nordestino, carne de bode tece sobrevivência, cultura e economia

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Receita: Bolo de Puba

A puba (ou carimã como conhecida em alguns lugares) é mais uma das maravilhas obtidas a partir da deusa da alimentação brasileira – a mandioca.

Por Bruna Mendes Oliveira (Comunidade Slow Food Beagá Pela Cultura Alimentar)

A massa puba consiste na massa da mandioca fermentada e é um item importante da mesa do sertanejo. Tem um sabor bem distinto, um pouco ácido por causa da fermentação. A puba fresca pode ser utilizada no preparo de bolos, biscoitos e mingaus, sendo um item bastante presente sobretudo no Norte e Nordeste, como o famoso bolo Souza Leão de Pernambuco.

Nascida e criada no sertão norte mineiro, logo cedo fui apresentada a esta iguaria. E ainda me surpreende a quantidade de pessoas que ainda não a conhecem. Na casa de Vó Cema, ela mesma fazia a puba. Me lembro bem do pote de barro que ela utilizava para colocar a mandioca que ali ficava de 8 a 10 dias submersa em água. Após esse período, a mandioca ficava molinha. Aí tinha que desmanchá-la com as mãos, lavar bem e colocar num pano para espremer e deixar escorrer, finalizando o processo de obtenção da puba fresca.

Lá em Taiobeiras, minha cidade de origem, é possível achar a massa puba pronta para comprar na feira livre que ocorre aos sábados. Mas se não tiver para comprar, fazer em casa é muito fácil, seguindo os passos anteriores e com um pouquinho de paciência tudo dá certo! Você pode utilizar um pote de vidro ou de cerâmica para colocar a mandioca já descascada e higienizada. Dependendo do clima o processo pode demorar um pouco mais, até 15 – 20 dias.

Há muitas receitas de bolo de puba. Mas essa que vou ensinar aqui é o bolo de puba de Vó Cema, um bolo simples e sertanejo em sua raiz. Essa foi a última receita que aprendi com ela antes dela partir, por isso tem um valor afetivo imenso. Como a maioria das coisas que vovó fazia na cozinha, não tinha uma receita certa. Ela me disse: “não tem quantidades. Tem que misturar a puba, ovos, açúcar, manteiga de garrafa e leite… deixa a massa molinha e leva no forno bem quente”. E lá fui eu me arriscar. Nessa hora, a memória de tê-la visto fazendo por várias vezes foi fundamental.

Após alguns testes cheguei à receita que agora compartilho.

Receita do bolo de puba de Vó Cema

Ingredientes:

1kg de puba fresca

4 ovos

1 xícara* de açúcar cristal

2 xícaras de leite

60g de manteiga de garrafa derretida

*usei uma xícara de 250ml

Modo de preparo:

1- Pré aqueça o forno a 220ºC.

2- Em uma tigela esfarele a puba com as mãos.

3- Acrescente os ovos, o açúcar, o leite e a manteiga.

4- Misture bem com uma colher.

5- Coloque um pouco de manteiga de garrafa no fundo da forma, aproximadamente 4 colheres de sopa, e despeje a massa.

6- Leve ao forno por aproximadamente 50 minutos.

O pulo do gato é untar a forma com bastante manteiga de garrafa, de forma que quando o bolo assar a manteiga suba pra cima. Isso deixa as bordas crocantes por cima e faz toda a diferença.

Receita: Bolo de Puba

A puba (ou carimã como conhecida em alguns lugares) é mais uma das maravilhas obtidas a partir da deusa da alimentação brasileira – a mandioca. Por Bruna Mendes Oliveira (Comunidade Slow Food Beagá Pela Cultura Alimentar) A massa puba consiste na massa…

Cubu: uma receita brasileira com muita história!

Broa de milho assada na folha de bananeira é quitanda popular em Minas Gerais com história ainda pouco conhecida e forte presença africana e indígena.

Texto: Lucas Mourão (Jaca Verde PANC / Slow Food Beagá)
Foto: Brendon Campos / cubu feito pela Jaca Verde PANC (@jacaverdepanc)

Cubu, João deitado, Pau a pique…Muitos são os nomes para esta quitanda, famosa no interior do estado de Minas Gerais que guarda muita história por trás de sua receita. História essa que é desconhecida por grande parte da população, inclusive na sua região de origem.

O cubu é símbolo da mestiçagem brasileira, que aconteceu tanto na formação do nosso povo quanto da nossa culinária. Nas palavras da quitandeira, Lilian Betânia de Souza Costa, da Associação das Quitandeiras de Congonhas: “Falar do cubu é falar de resgate e valorização de uma quitanda secular. Nos remete ao início da colonização mineira e local. O cubu é uma quitanda preparada com fubá, ovos, açúcar, gordura de porco, erva doce e ou canela, leite, bicarbonato de sódio e farinha de trigo. Era a matéria prima mais abundante entre os escravos. Quem chega a Congonhas, seja no Festival ou em qualquer outra época, quer saborear o cubu.”

A palavra quitanda, muito presente na culinária brasileira, e, especialmente mineira, tem origem no vocábulo kitanda, do dialeto quimbundo, falado em Angola, e significa: “tabuleiros onde são expostos gêneros alimentícios nas feiras”. Em Minas, corresponde a qualquer receita que acompanha uma xícara de café, desde o café da manhã até o lanche da tarde. Roscas, biscoitos salgados ou doces, broas, bolos e outras iguarias, que tornam a culinária mineira tão reconhecida em outros estados brasileiros, e até mesmo no exterior. Fora do estado de Minas Gerais, a palavra quitanda também significa feiras e mercados livres onde são vendidas frutas e verduras.

Na sua origem etimológica, portanto, a quitanda já revela uma forte presença da cultura africana, que junto das culturas indígena e europeia é a base que forma a culinária brasileira. A origem das quitandas remonta ao século XVIII, quando se formou também o estado de Minas Gerais no momento da busca pelo ouro no interior do Brasil e crescente fluxo de escravizados africanos para o país. Quitandas, como o cubu, tem grande importância por serem alimentos de muita resistência, aguentando o transporte por longas distâncias sem se deteriorar.

Segundo a pesquisadora Juliana Bonomo em artigo intitulado As quitandas de Minas Gerais: uma análise das origens de um alimento luso-afro-brasileiro, apresentado no XIII Congresso Luso-Afro Brasileiro de Ciências Sociais, a  receita do cubu surge entre os povos escravizados da etnia Cobu (onde atualmente é o Benin). Inicialmente, era feita apenas com melado de cana e fubá, e os cubus eram assados em forno de barro, de  influência indígena. O primeiro registro da receita data de 1715 na região da atual cidade de Gouveia, em Minas Gerais. A quitanda de massa adocicada e textura macia rapidamente se popularizou por toda a província mineira. Tornou-se muito consumida entre os trabalhadores rurais e tropeiros que em grandes viagens pelo país, conduzindo animais na troca de mercadorias entre as regiões, tinham no cubu, um ótimo alimento, muito durável e de bastante “sustância”.

No entanto, dentre as quitandas conhecidas no imaginário da culinária mineira, o cubu infelizmente não figura entre as mais celebradas como pão de queijo, broa de milho e biscoito de polvilho. Mas é bem comum em algumas cidades mineiras, principalmente em Ipoema, Itabira, Conceição do Mato Dentro e Congonhas, esta última conhecida pelo seu famoso Festival de Quitandas que acontece anualmente e celebra as quitandas feitas pelas grandes cozinheiras da cidade, como a Lilian, da Associação das Quitandeiras de Congonhas. Nas palavras dela: “O Festival trouxe essa fama (para o cobu) pois além de comercializarmos nos nossos estandes, são servidos gratuitamente aos visitantes com o famoso chá de Congonha. Toda sexta e sábado eles são encontrados à venda na nossa feira do produtor rural, daí a importância do cubu para nossa gastronomia local.”

O Festival de Quitandas de Congonhas acontece todo mês de maio e já conta com 19 edições. Desde 2020, o festival não é realizado devido à pandemia da Covid-19 e continua sem previsão oficial para 2022. Enquanto, a quitanda original não pode ser degustada em festa, segue abaixo uma receita original, seguida de uma adaptação vegana. 

RECEITA TRADICIONAL DE IPOEMA, por Eliza Estevão² (resumida)

Ingredientes:

– 1 kg de fubá de moinho d’água
– 1 kg de rapadura derretida com 1 copo de água
– 500g de manteiga
– 3 ovos
– 1 colher de sopa de cravo da índia moído
– 1 colher de sopa de canela em pó
– 1 colher de chá de sal
– 1 litro de coalhada
– 1 colher de sopa de fermento químico em pó
– 500g de farinha de trigo
– 1 colher de sopa de bicarbonato de sódio
– Folhas de bananeira

Modo de fazer:

Misturar em uma tigela a rapadura derretida com o bicarbonato.
Misturar o cravo, canela, sal e manteiga. Bater os ovos e juntar à massa.
Misturar a coalhada com o fermento, apenas incorporando, sem bater.
Juntar a farinha de trigo  e, por último, fubá, misturar delicadamente até que a massa fique homogênea, nem muito dura, nem muito líquida.
Colocar duas colheres de sopa da massa em folhas de bananeira cortadas e aquecidas previamente.
Enrolar, dobrar as pontas, colocar no tabuleiro e assar em forno quente.
O tempo varia entre 20 e 30 minutos, depndendo do forno utilizado.
Os cubus estarão prontos quando a folha de bananeira ficar bem seca. 

Cubu vegano. Foto: Lucas Mourão / Jaca Verde PANC
Cubu e jatobás. Foto: Marcelo de Podestá

Na versão vegana, substituem-se os ovos e a manteiga por óleo vegetal. E o leite por leite vegetal de aveia. Pode ser acrescentado o coco ralado (comum em outras versões), e a farinha de jatobá, fruto do Cerrado brasileiro de alto valor nutritivo e que é, ainda, muito subutilizado por grande parte da população.

Cubu: uma receita brasileira com muita história!

Broa de milho assada na folha de bananeira é quitanda popular em Minas Gerais com história ainda pouco conhecida e forte presença africana e indígena.

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