Projeto Sociobiodiversidade Amazônica: Arca do Gosto, Ecogastronomia e Colheita do guaraná

Entre os dias 12 a 26 de novembro de 2022, a equipe do Projeto Sociobiodiversidade Amazônica (PSA) esteve na Terra Indígena Andirá Marau e na Brasileia, comunidade vizinha a TI, para a sequência de atividades deste projeto. Tivemos a oportunidade de acompanhar a colheita do guaraná (waraná na língua Sateré) junto com os/as agricultores/as da Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadi (AAFAU). Também demos um retorno para as comunidades sobre o relatório do campo 1, fomentamos a criação do Círculo de Mulheres, promovemos uma oficina de Educomunicação (especialidade do nosso consultor Bruno Franques), seguimos o desenvolvimento do Protocolo de Sistemas Agrícolas e conversamos sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Bastante coisa acontecendo em campo!

Dinâmica “Trama de relações”, na abertura das atividades na Ilha Michiles. Foto: Bruno Franques
Reflexão sobre as atividades propostas. Zhamis, Bruno, Josibias (Tuxaua) e Sigliane. Comunidade da Ilha Michiles. Foto: Agnaldo Michiles
Roda de conversa sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Comunidade da Brasiléia. Foto: Paulo Messias

A Arca do Gosto é um programa do Slow Food que busca reconhecer, valorizar e catalogar alimentos ameaçados de extinção, seja essa biológica e/ou cultural, ou seja, espécies e modos de fazer em risco de desaparecer. No momento, há mais de 5.000 produtos catalogados em todo mundo, mais de 200 produtos no Brasil e, na Amazônia, aproximadamente 50. A catalogação ocorre por meio de indicações e preenchimento de fichas com informações detalhadas sobre os produtos, o que este projeto pretende fazer para incluir alguns alimentos das comunidades parceiras no programa. Por meio dos métodos aplicados, chegamos a seis indicações e ressaltamos duas que possuem algo em comum: o consumo de insetos nas comunidades! A formiga “sahay” e o bicho de gongo foram indicações das comunidades Ilha Michiles e Brasileia, respectivamente. 

Bicho de Gongo, um dos alimentos indicados para a Arca do Gosto na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques

Um ponto interessante dessas atividades de campo tem sido o preparo das refeições. Nosso colega e consultor Zhamis Benício, da Comunidade Slow Food Manaus pelo legado alimentar da Amazônia, tem contribuído com o método de trabalho e diversas receitas ao longo das atividades. Diversos comunitários e comunitárias têm sido convidados a participar e compartilhar dessas aventuras ecogastronômicas. A participação masculina tem sido incentivada, em especial nos momentos de reunião das mulheres, denominado Círculo de Mulheres.

Agradecimentos antes da refeição, com mesa farta e alimentos tradicionais. Comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Degustações da oficina de Ecogastronomia, em Peniel do Areal. Foto: Bruno Franques
Alimentação tradicional após uma oficina de Ecogastronomia, na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Pescadores após uma madrugada de trabalho, na Ilha Michiles. Foto: Bruno Franques

A partir da aplicação de algumas metodologias da Caixa de Ferramentas de Gênero da Agência de Cooperação Técnica da Alemanha no Brasil (GIZ), a equipe de campo do PSA do Amazonas propôs e estimulou as mulheres a criarem um espaço seguro de interação, apoio, acolhimento, articulação política e desenvolvimento de projetos. O Círculo de Mulheres foi rapidamente apropriado por elas, que passaram a desenvolvê-lo de acordo com suas próprias perspectivas, de maneira autônoma e potente. Os resultados já começam a aparecer e a participação feminina nas atividades tem ganhado força com interações cada vez mais intensas.

Ferramenta 1 da GIZ, na comunidade Renascer, em Peniel do Areal. Foto: Bruno Franques

As Oficinas de Educomunicação foram promovidas por Bruno Franques, que incorporou alguns de seus métodos de trabalho na proposta do PSA. Com exercícios de elaboração narrativa a partir das diversas camadas da percepção de identidade de cada um, em interação com o ambiente e com os demais participantes, foram abordados importantes aspectos dos elementos constituintes das mensagens midiatizadas. Tais reflexões contribuem de um lado para que a comunidade possa ser mais crítica ao modelo proposto pela indústria cultural e de outro, que estejam aptos a criarem narrativas estratégicas e envolventes que valorizem seus modos de vida e divulguem seus produtos.

Outro ponto importante dessa ida a campo foi a participação do Bruno e Zhamis na colheita do guaraná com a AAFAU.  Além de prestarmos um apoio direto durante este período crítico para a comunidade, nossa equipe pôde tirar boas fotos, vivenciar este momento de colheita tão importante, compreender melhor sobre o beneficiamento do guaraná e trazer diversas impressões sobre o processo, que colaboraram para uma melhor compreensão das práticas desses sistemas agrícolas.

Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Zhamis Benício
Colheita do guaraná na comunidade Brasiléia. Foto: Zhamis Benício
Seleção de grãos pós-torragem para o preparo do bastão de guaraná. Seu Simão, da comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques
Pilhagem e modelagem do bastão do guaraná, na comunidade da Brasiléia. Foto: Bruno Franques

Esta interação tem gerado boas expectativas e acreditamos que poderemos “colher bons frutos desse plantio”!

A Associação Slow Food do Brasil estabeleceu uma parceria para o desenvolvimento do projeto Sociobiodiversidade Amazônica com o projeto Bioeconomia e Cadeias de Valor, desenvolvido no âmbito da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da parceria entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, com apoio do Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Este projeto acontece nos estados do Amazonas, Acre e Pará ao longo de 2022 e 2023.

Deixe um comentário:

Últimas notícias

Visual Portfolio, Posts & Image Gallery for WordPress

WhatsApp-Image-2023-02-05-at-18.41.03

Cozinha afetiva de verdade

“Nos quilombos em que estive, foi com as mulheres, quase sempre no ambiente da roça ou da cozinha, que fui tomada  pelas histórias que generosamente elas me contaram e ali percebi a...

WhatsApp-Image-2022-11-17-at-16.22.06

“É preciso mudar radicalmente o sistema alimentar vigente”, defende Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, em evento realizado em São Paulo no início de novembro de 2022.

Por mais ativismo alimentar na gastronomia

“É preciso mudar radicalmente o sistema alimentar vigente”, defende Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, em evento realizado em São Paulo no início de novembro de 2022. Integrantes do Movimento Slow...