Slow Food Brasil no Encontro da América Latina e Caribe

No dia 16 de abril de 2021, ocorreu a etapa latinoamericana do Congresso internacional do movimento Slow Food, previsto para ocorrer em 2022, em Turim, Itália, paralelamente ao Terra Madre Salone del Gusto.

Os Congressos ocorrem, geralmente, a cada 4 anos, definindo os rumos políticos do movimento para o próximo quadriênio.

Durante o encontro, realizado de forma virtual, cada país apresentou o que sua rede pretende realizar nos próximos anos, potencializando e aprofundando as iniciativas já realizadas, destacando as frentes de atuação pautadas pelo Chamado Urgente para a Ação, documento-base para o próximo Congresso.

A fala do Brasil foi representada por Glenn Makuta, articulador de rede pela Associação Slow Food do Brasil, disponível abaixo na íntegra:

No epicentro da pandemia da covid-19, o Estado se tornou uma arma apontada principalmente pra pretos, pobres e mulheres. Esta doença, surgida do modelo de coisificação e exploração infinita da natureza, tem agravado as diversas atrocidades socioambientais que já coexistem em nosso cotidiano, acompanhados pela captura corporativa da democracia, diversas camadas de conflitos de interesses e o desmonte geral de políticas públicas, que foram construídas com muita participação social.

O povo daqui está deixado à própria sorte.

Tudo isso incide inevitavelmente na perda da biodiversidade e da cultura alimentar, e coloca uma série de ameaças para a agricultura familiar, os povos indígenas e as comunidades tradicionais que vêem seus direitos desmoronando. 

Além de tudo isso, o contexto da pandemia de Covid-19, que tem suas origens no sistema alimentar hegemônico e ao modelo produtivo massificante e padronizante do capitalismo, se agrava a cada semana potencializando o surgimento de novas cepas e incubando novas pandemias (principalmente com a expansão da fronteira agropecuária sobre Cerrado e Amazônia, avançando sobre reservatórios naturais da megadiversidade de vírus como se fosse uma enorme linha de produção de mazelas). 

Isso tudo contribui também com o agravamento do colapso climático, e nesse aspecto, uma terrível consciência de que nossa geração tem uma vida muito mais tranquila do que terão a geração de nossos filhos.

Ao mesmo tempo em que mais da metade da população do país não tem certeza se vai conseguir realizar a próxima refeição, a inacessibilidade de alternativas boas, limpas e justas de alimentos para a população, é um triste fato. Direitos se tornam privilégios e mercadorias, bilionários enriquecem às custas do resto

Da forma como o mundo segue, em pouco tempo não restará muita coisa. Por isso decolonizar o imaginário se faz necessário para sonharmos outros mundos possíveis. Nossa rede (formada pela Associação Slow Food do Brasil, Comunidades do Alimento (Fortaleza Slow Food), Comunidades Slow Food, Rede Jovem, educadores, cozinheiros, co-produtores, técnicos, acadêmicos),  se contrapõe ao modelo vigente e aponta para algumas possibilidades:

  • Pela Valorização da agricultura familiar e camponesa, da identidade dos povos originários, dos povos e comunidades tradicionais, e da cultura alimentar brasileira; 
  • Queremos Fomentar o encurtamento de cadeias e circuitos curtos de comercialização de comida de verdade, com raízes simbólicas e afetivas.
  • Tornar a educação alimentar uma oportunidade de conscientização massiva voltada para público geral, dentro e fora das escolas. 
  • Incidir nas políticas públicas por meio de campanhas, mobilização e participação em coletivos e conselhos de controle social.

  1. Nos eixos do chamado pra ação, em biodiversidade e cultura alimentar 

Temos como objetivos

  • catalogar a sociobiodiversidade brasileira;
  • promover o fortalecimento de sistemas produtivos, técnicas, conhecimentos e sistemas agrícolas tradicionais;
  • contribuir com o fortalecimento de circuitos curtos de comercialização. 

As ações que pretendemos realizar são:

I. Consolidação e fortalecimento dos programas de biodiversidade e cultura alimentar como 

  • Arca do Gosto, pela capacitação da rede para o mapeamento, identificação, proposição e avaliação de candidaturas para que ocorra de forma mais orgânica e autônoma.
  • Fortalezas Slow Food, pelo apoio na transição para Comunidades Slow Food e pela identificação de convergências com os SAT (Sistemas Agrícolas Tradicionais) e SIPAM (SISTEMAS IMPORTANTES DO PATRIMÔNIO AGRÍCOLA MUNDIAL);
  • Consolidar e adaptar ao contexto brasileiro os programas Aliança de Cozinheiros Slow Food e Slow Food Travel;

2. Organização e promoção de feiras, mercados como as de economia solidária com produtos da sociobiodiversidade das regiões; manter vivo e difundir o mapa de Comunidades SF, Agricultura Familiar e Indicações Geográficas; criar ou fortalecer CSAs

3. Fortalecimento das relações com outras organizações que atuem com biodiversidade, cultura alimentar, patrimônio agroalimentar e SAT nos territórios para elaboração e execução de novos projetos;

II. Na Educação alimentar e conscientização da sociedade civil

Nossos objetivos são:

  • educar crianças e adolescentes sobre o alimento bom, limpo e justo, difundindo informações sobre nutrição, saúde, biodiversidade e cultura alimentar; 
  • aproximar co-produtores  e produtores; assim como educadores e agricultores;
  • capacitar agentes de realização e sensibilização, sobre saúde, nutrição, biodiversidade e cultura.

Para isto, pretendemos realizar:

1. Organização de atividades para público escolar, tanto alunos como professores

  • Articulação de parcerias com escolas e instituições alinhadas filosofia com a filosofia do movimento para realização de ações
  • intercâmbios entre alunos de diferentes regiões ou também entre educadores e  agricultores;
  • circuitos sensoriais;
  • rodas de conversa, palestras e formações, como oficinas de hortas e plantas alimentícias; e de aproveitamento integral dos alimentos

2. Organização de atividades para público geral 

  • Oficinas de técnicas produtivas, 
  • formação de jovens lideranças – SFYN Academy
  • minicurso de ecogastronomia com foco em agricultores familiares.

3. Produção de conteúdos

Material educativo, guias, livretos, vídeos e outras mídias com foco em:

  • O movimento e sua filosofia;
  • alimentos locais ;
  • Biodiversidade de Plantas Alimentícias e frutas nativas; 
  • sazonalidade de frutas e de pescados;
  • Guias de ações e eventos 

4. Divulgação de conteúdos  em redes sociais

  • Aproveitando datas comemorativas;
  • iniciativas parceiras;
  • difusão de material produzido pela rede SF

5. Mobilização de membros e ativistas da Rede por meio de encontros, minicursos, e atividades formativas voltadas para os multiplicadores do movimento.

III. Em Incidência política nos setores público e privado e advocacy, nossos objetivos são:

  • valorizar a agrobiodiversidade como meio de mitigar o colapso climático;
  • estimular a maior participação da rede Slow Food nos conselhos, coletivos e coalizões da sociedade civil e nas construções de políticas públicas pertinentes.

As ações que pretendemos realizar são:

1. Incidência em políticas públicas, legislações e regulamentos 

  • fomentar a alimentação tradicional por meio de políticas locais e nacionais;
  • contribuir e intervir nas construções e avaliações de legislações e regulamentos relacionados ao ambiente rural e à produção de alimentos

2. Participação em coletivos e mobilização junto a sociedade civil 

  • criar grupos de estudos para viabilizar o apoio ao desenvolvimento e comercialização da agricultura familiar;
  • seguir articulando com diversos coletivos nacionais ou regionais e estimular a integração neles;
  • incentivar os nós da rede a integrar instâncias de participação e controle social de políticas públicas. 

Em tempos de crise, é necessário mais do que nunca esperançar, como ensinou Paulo Freire, e a sabedoria camponesa nos ensina uma outra preciosidade, de que solidariedade é partilhar o que se tem, não o que se sobra. 

É urgente nos conectar em rede, nos irmanar com outros movimentos, pois a luta é longa e urgente, e permeia as ações e objetivos da rede Slow Food Brasil de forma geral. São tempos difíceis, mas são tempos de esperança.

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versão em espanhol:

En el epicentro de la pandemia del covid-19, el Estado se ha convertido en un arma dirigida principalmente contra los negros, los pobres y las mujeres. Esta enfermedad, surgida del modelo de cosificación y explotación infinita de la naturaleza, ha agravado las diversas atrocidades socioambientales que ya conviven en nuestra vida cotidiana, acompañadas de la captura corporativa de la democracia, de diversas capas de conflictos de intereses y del desmantelamiento general de las políticas públicas que se construyeron con mucha participación social.

La gente de aquí está abandonada a su suerte.

Todo ello repercute inevitablemente en la pérdida de biodiversidad y de cultura alimentaria, y supone una serie de amenazas para la agricultura familiar, los pueblos indígenas y las comunidades tradicionales, que ven cómo se desmoronan sus derechos. 

Además de todo esto, el contexto de la pandemia de Covid-19, que tiene su origen en el sistema alimentario hegemónico y en el modelo de producción en masa y estandarizador del capitalismo, se agrava cada semana, aumentando el potencial de aparición de nuevas cepas e incubando nuevas pandemias (especialmente con la expansión de la frontera agrícola en el Cerrado y la Amazonía, avanzando sobre los reservorios naturales de la megadiversidad de virus como si se tratara de una enorme línea de producción de enfermedades). 

Todo ello contribuye también a agravar el colapso climático y, en este aspecto, a una terrible conciencia de que nuestra generación tiene una vida mucho más tranquila que la que tendrá la de nuestros hijos.

Al mismo tiempo que más de la mitad de la población del país no sabe si podrá tener su próxima comida, la inaccesibilidad de alternativas alimentarias buenas, limpias y justas para la población es un hecho triste. Los derechos se convierten en privilegios y mercancías, los multimillonarios se enriquecen a costa del resto. 

Tal y como va el mundo, en poco tiempo no quedará mucho. Por eso es necesario descolonizar nuestra imaginación para soñar con otros mundos posibles. Nuestra red (formada por la Asociación Slow Food de Brasil, las Comunidades Alimentarias (Fortaleza Slow Food), las Comunidades Slow Food, la Red de Jóvenes, educadores, cocineros, coproductores, técnicos y académicos) se opone al modelo actual y apunta algunas posibilidades:

  • Para valorar la agricultura familiar y campesina, la identidad de los pueblos originarios, los pueblos y comunidades tradicionales y la cultura alimentaria brasileña; 
  • Queremos Fomentar el acortamiento de las cadenas y los circuitos cortos de comercialización de alimentos reales, con raíces simbólicas y afectivas.
  • Hacer de la educación alimentaria una oportunidad de sensibilización masiva dirigida al público en general, dentro y fuera de las escuelas. 
  • Influir en las políticas públicas mediante campañas, movilización y participación en colectivos y consejos de control social.

I. En los ejes de la llamada a la acción, en la biodiversidad y la cultura alimentaria 

Nuestros objetivos son

  • catalogar la sociobiodiversidad brasileña;
  • promover el fortalecimiento de los sistemas de producción, las técnicas, los conocimientos y los sistemas agrícolas tradicionales;
  • contribuir al fortalecimiento de los circuitos cortos de comercialización. 

Las acciones que pretendemos llevar a cabo son:

1. Consolidación y fortalecimiento de los programas de biodiversidad y cultura alimentaria como 

  • Arca del Gusto, mediante el entrenamiento de la red para mapear, identificar, proponer y evaluar aplicaciones para hacerlas más orgánicas y autónomas.
  • Baluartes Slow Food, por el apoyo en la transición a las Comunidades Slow Food y la identificación de convergencias con los SAT (Sistemas Agrícolas Tradicionales) y los SIPAM (SISTEMAS IMPORTANTES PARA EL PATRIMONIO AGRÍCOLA MUNDIAL);
  • Consolidar y adaptar los programas de la Alianza de Chefs de Slow Food y de Slow Food Travel al contexto brasileño;

2. Organización y promoción de ferias, mercados como los de la economía solidaria con productos de la sociobiodiversidad de las regiones; mantener vivo y difundir el mapa de las Comunidades SF, la Agricultura Familiar y las Indicaciones Geográficas; crear o fortalecer las CSAs

3. Reforzar las relaciones con otras organizaciones que trabajan con la biodiversidad, la cultura alimentaria, el patrimonio agroalimentario y los SAT en los territorios para el desarrollo y la ejecución de nuevos proyectos;

II. En Educación alimentaria y sensibilización de la sociedad civil.

Nuestros objetivos son:

  • educar a los niños y adolescentes sobre una alimentación buena, limpia y justa, difundiendo información sobre nutrición, salud, biodiversidad y cultura alimentaria; 
  • para reunir a coproductores y productores; así como a educadores y agricultores;
  • Formar a agentes de realización y sensibilización, sobre salud, nutrición, biodiversidad y cultura.

Para esto, nos proponemos llevar a cabo:

1. Organización de actividades para el público escolar, tanto alumnos como maestros

  • Articulación de asociaciones con escuelas e instituciones alineadas con la filosofía del movimiento para la realización de acciones
  • intercambios entre estudiantes de diferentes regiones o también entre educadores y agricultores
  • circuitos sensoriales;
  • círculos de conversación, conferencias y cursos de formación, como talleres sobre huertos y plantas y el uso integral de los alimentos

2. Organización de actividades para el público en general 

  • Talleres sobre técnicas productivas, 
  • Formación de jóvenes líderes – SFYN Academy
  • minicurso de ecogastronomía centrado en los agricultores familiares.

3. Producción de contenidos

  • Material educativo, guías, folletos, vídeos y otros medios centrados en:
  • El movimiento y su filosofía;
  • Alimentos locales ;
  • Biodiversidad de frutas y plantas alimenticias autóctonas; 
  • Estacionalidad de las frutas y el pescado;
  • Guías de acción y eventos 

4. Difusión de contenidos en las redes sociales

  • Aprovechar las fechas conmemorativas;
  • iniciativas de los socios;
  • difusión del material producido por la red SF

5. Movilización de los miembros y activistas de la Red mediante reuniones, minicursos y actividades de formación dirigidas a los multiplicadores del movimiento.

III. En cuanto a la incidencia política en los sectores público y privado y la promoción, nuestros objetivos son

  • valorar la agrobiodiversidad como medio para mitigar el colapso climático;
  • fomentar una mayor participación de la red Slow Food en los consejos, colectivos y coaliciones de la sociedad civil y en la elaboración de las políticas públicas pertinentes.

Las acciones que pretendemos llevar a cabo son:

1. defensa de las políticas públicas, la legislación y la normativa 

  • Promover los alimentos tradicionales mediante políticas locales y nacionales;
  • contribuir e intervenir en la construcción y evaluación de la legislación y la normativa relacionadas con el medio rural y la producción de alimentos

2. Participación en colectivos y movilización con la sociedad civil 

  • Crear grupos de estudio que permitan apoyar el desarrollo y la comercialización de la agricultura familiar;
  • seguir en contacto con diversos grupos nacionales o regionales y fomentar la integración en ellos;
  • fomentar que los nodos de la red integren instancias de participación y control social de las políticas públicas. 

En tiempos de crisis, es más necesario que nunca esperanzar, como enseñó Paulo Freire, y la sabiduría campesina nos enseña otra joya, que la solidaridad es compartir lo que tienes, no lo que te queda. 

Es urgente que trabajemos en red y unamos fuerzas con otros movimientos, porque la lucha es larga y urgente, y permea las acciones y objetivos de la red Slow Food Brasil en general. Son tiempos difíciles, pero son tiempos de esperanza.

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